quinta-feira, julho 21, 2022

A importância do debate sobre a cidade que se quer...



                             Campus da Universidade de Toronto/Canadá (foto, Mauro Passos)

Toronto faz por merecer estar na lista entre as melhores cidades do mundo para se viver. Seu rigoroso inverno fez com que um outro centro fosse planejado e construído. Todo ele subterrâneo, tudo por baixo: lojas, supermercados, bancos, cinemas, teatros bares e restaurantes. Foi a forma que encontraram para que o centro não perdesse vida para o frio e as fortes nevascas ocorrem na região. 

Além de ser a capital da Província de Ontário, importante centro financeiro, com três milhões de habitantes,  Toronto também é a maior cidade do Canadá. Ao contrário de outras grandes cidades, tudo passa pela região central. Em razão da sua proximidade com o campus da Universidade, a qualquer hora do dia o centro é muito movimentado. 

Fundada em 1827 como um colégio,  numa época marcada pelo expansionismo do Reino Unido e da atenção  especial ao ensino da rainha Victória, o colégio logo se transformou na Universidade Pública de Toronto. Atualmente é uma das mais renomadas instituições de ensino superior e pós graduação do mundo. Conta com mais de 70 mil alunos, sendo que boa parte deles vindos de diferentes países. O campus é lindo e bem cuidado, sua centenária arquitetura nos remete às lendárias universidades de Oxford e Cambridge. (foto acima)

As lembranças que guardo  de Toronto são as melhores possíveis, até porque o frio era suportável. No seu rigoroso inverno deve ser outra experiência, mas a vontade de voltar ficou. Com parte da família morando ali por perto, em Wisconsin, nos EUA, talvez isso aconteça. No entanto, o motivo do comentário vai além do que acho de Toronto. O tema, é: a importância de debater as cidades e o que pensam seus moradores.

Pelo texto que recebi, a população de Toronto está dividida em relação a uma cidade que serviu por décadas como laboratório de urbanismo. Com o passar do tempo as consequências do vanguardismo vem despertando preocupações na opinião pública. Em razão disso, o Executivo Municipal se antecipou e está promovendo um amplo debate com a sociedade, com intuito de rever alguns conceitos das cidades inteligentes que por motivo de privacidade vem incomodando seus moradores.

Segundo a matéria de autoria de Dima Stouhi, Toronto está se afastando do movimento das cidades inteligentes e reavaliando suas contribuições sobre urbanismo ao longo de muitos anos. A cidade canadense, que ficou em décimo quinto lugar no ranking das melhores cidades para se viver, começa a repensar projetos polêmicos como o Quayside, o mais simbólico dos bairros independentes da capital.

A ideia original de que as pessoas que morassem nessas "mini cidades" com alta tecnologia iria tornar a vida mais fácil, vem enfrentando uma forte resistência. Com o passar do tempo esse projeto de vida vem sendo questionado, as pessoas não interagem com os de fora e na prática acabam se formando grandes bolhas urbanas. 

No caso de Toronto o poder público planeja "matar a cidade inteligente para sempre," especialmente  após os polêmicos motivos do cancelamento de Quayside. O mega projeto de um urbanismo rigorosamente controlado, confirmou o que já vinha sendo detectado: a falta de privacidade das pessoas. Depois dos longos debates com a sociedade, o que acabou prevalecendo foi que as pessoas não querem viver em um ambiente orientado e controlado pela tecnologia. Com certeza uma sinalização que vai render grandes discussões nas próximas décadas. 

PS -  Exerci dois mandatos como vereador em Florianópolis (1996/2002). O segundo foi dois anos, porque em 2002 fui eleito deputado federal. Mesmo sendo da oposição foi possível avançar em muitas questões. No entanto quando o assunto é o Plano Diretor, a relação de força é outra. A cidade não nos pertence. O Poder Executivo se movimenta com o claro intuito de atender os interesses da especulação imobiliária. Em Toronto o repensar da cidade foi um esforço coletivo, com intensa participação da sociedade. Um caso a ser observado no urgente debate da cidade que se quer. 

 

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