quinta-feira, março 02, 2023

Arma mata: tanto aqui como em El Salvador

                                                                     Crédito: divulgação

No meio da década passada estive em El Salvador a convite da OLADE - Organização Latino Americana de Energia, que tem sua sede em Quito, no Equador. Ainda no aeroporto da capital junto com outros conferencista, um forte aparato de segurança nos esperava. E foi seguindo o comboio que chegamos no hotel do evento sobre fontes renováveis de energia na América Latina. Como não era nenhuma autoridade, já que estava ali representando o Instituto IDEAL, achei tudo muito estranho. 

Durante as boas vindas fomos desaconselhados a sair do hotel, porque haviam rumores de um possível sequestro coletivo dos palestrantes por parte de milicias armadas que estavam tentando derrubar o governo. Para quem gosta de caminhar e conhecer as cidades por onde anda, uma péssima notícia. Claro que segui as orientações. Portanto, não conheço a capital que por coincidência tem o mesmo nome do país - El Salvador. 

Espremido entre Honduras, Nicarágua e Guatemala, El Salvador é considerado um do países mais violentos da América Latina. Milicianos armados dominam bairros da capital e usam de extrema violência para acuar parcela considerável da população. Um poder fora do Estado que se mistura junto as forças convencionais de segurança se tornando uma ameaça a qualquer governo democraticamente estabelecido. Infelizmente a realidade do país é essa, os assassinatos se banalizam e a sociedade fica à mercê dessa situação. (*) 

O resgate dessa breve experiência "salvadorenha" se deve ao noticiado no domingo, 26, sobre a recente inauguração do maior presídio do mundo em El Salvador. Localizado a 70 km da capital, o presídio foi construído para receber 40 mil detentos (foto acima). A primeira reflexão a fazer é como será a gestão de um contingente de presidiários desse tamanho. Para efeitos de comparação Santa Catarina com uma população próxima a de El Salvador, sua principal penitenciária conta com um pouco mais de mil detentos. Situada no tradicional Bairro da Agronômica, convive com um histórico de inúmeras rebeliões. A mais recente se deu duas semanas atrás. (**)

Não há termos de comparação entre o Brasil e El Salvador. O risco de virarmos uma republiqueta controlada por milicias fortemente armadas, passou. Ao meu ver o dia 8 de janeiro foi o marco divisório sobre o nosso futuro. A democracia venceu nas urnas e nas ruas, o que foi muito bom para o país. Claro que as diferentes visões de mundo permanecem, mas vão sendo administradas no seu devido tempo. 

O que se viu na semana do Carnaval, de certa forma foi animador: uma multidão de pessoas nas ruas por todo o país com poucos registros de violência. O sentimento que ficou foi de um encontro lúdico de foliões com a maior festa popular que se tem. Isso se deu naturalmente, depois de uma eleição polarizada e de uma insanidade coletiva em Brasília. Vale a pena refletir um pouco sobre o ocorrido no Carnaval. Fomentar a cultura de forma que chegue até as pessoas, também ajuda a controlar a violência e desarmar os espíritos.  

(*) No Brasil, pasmem, estamos vivenciando essa situação. Um governo irresponsável incentivou a população a comprar arma, como se andar armado fosse algo normal. Agora o pior dos mundos está entre nós. Valentões disparam para matar seus desafetos. Essa tragédia humana cresce a cada dia. Se as armas não tivessem disponíveis, na semana passada não teria ocorrido a chacina de Sinop. Nem o pai de um menino autista teria sido assassinado em São Paulo. 

(**) Aqui em Florianópolis, por omissão das autoridades locais, carregamos um inexplicável descaso com a cidade e com as condições dos detentos na penitenciária da Agronômica. A permanência do presídio onde está - é insustentável. A sociedade tem que se mobilizar exigindo sua imediata desativação, dando uma destinação ao patrimônio histórico existente condizente com a nossa capital.   

    

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