Maria Bethânia se diz uma interiorana. Não gosta de se expor. Não se interessa pelo grau de exposição que se tem hoje nas redes sociais: "São coisas muito passageiras, muito voláteis, que não deixam rastro, não tem uma história. Mas também não tenho nenhum preconceito, apenas não me interessam", comenta ela.
Sobre o momento político atual, novamente, as duas registram o profundo desconforto com a censura que vem sendo praticada em certas manifestações artísticas. Maria Bethânia ressalta que teve um irmão exilado e que sofreu muito como qualquer pessoa normal com o mínimo de consciência sofreria. E, conclui: "Jamais imaginei que voltaríamos a esse tipo de assunto - a censura. Jamais!"
Falando em mulheres latinas, de uma geração que sofreu os horrores de ditaduras presentes no nosso continente, encontrei nas leituras que faço, Cristina Peri Rossi. Uma escritora uruguaia, admiradora confessa de Maria Bethânia. Nascida em Montevidéu, teve que se exilar na Espanha, em 1972. Atualmente vive em Barcelona. Entrevistada pela FSP, Cristina foi a introdutora da obra de Clarice Lispector naquele país. Feminista atuante e militante politica, autora de mais de 40 títulos, Cristina é considerada uma das principais escritoras latino-americanas. Em 2010, ganhou o Prêmio Vargas Llosa.
Na entrevista que deu, Cristina não poupa o machismo latino. Aos 76 anos e com muita estrada percorrida, afirma: "Os críticos literários acham que literatura é coisa de homem, como o uísque". E segue demonstrando que a visão machista também está impregnada na literatura: "Entre numa livraria em Madri, Barcelona ou Montevidéu, sempre há uma média de quatro a cinco mulheres para cada homem, apesar de a maioria dos livros serem escritos por homens. Os homens, quando leem, leem principalmente autores masculinos. Há um desprezo injustificado pela literatura escrita por mulheres. É algo que forma parte de um machismo intrínseco da sociedade.
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