segunda-feira, novembro 05, 2018

A semana pós-eleição

Na vida real as pessoas precisam cada vez mais se reinventarem. Na política também. Por uma razão muito simples, a mesmice cansa. As grandes mudanças que vivenciamos, no curto período da nossa jovem democracia, sempre estiveram associadas ao desgaste dos governos. E boa parte se deve, aos acordos que são feitos em nome da tal "governabilidade". Como se isso fosse possível, num Congresso fisiológico com mais de trinta partidos. Tudo começou com FHC, que não satisfeito em largar o cargo fez de tudo para introduzir a reeleição e ficar mais um mandato. Queridinho da mídia, o "minigolpe" ficou por isso mesmo. Com o seu governo desgastado, veio o "FORA FHC". Lula ganhou a eleição e o PT outros três mandatos.


Com o tempo, como é normal, no segundo governo Dilma veio o desgaste. Conforme já comentado aqui no blog, agravado  pelos  erros cometidos na política, na economia e na  gestão. A vontade por renovação aflorou. No entanto, no caminho havia uma pedra: Lula. Embora preso em Curitiba, ao contrário do que queriam aqueles que o prenderam, o ex-presidente não parava de crescer nas pesquisas. A saída encontrada foi deixá-lo por lá.


Sem Lula na corrida presidencial, a porta estava aberta. Vários postulantes se apresentaram. Um deles, que de novo não tinha nada, com seis mandatos e passagem por vários partidos (8), se lançou como  alternativa à velha política.  Com um comportamento pra lá de polêmico e  sem tempo de TV, direcionou sua campanha para um contato direto com seus seguidores via redes sociais. E a estratégia deu certo. Foi para o segundo turno e virou presidente.


Como resultado das urnas, partidos mais antigos se esfacelaram. E, por consequência, políticos tradicionais foram varridos do mapa. Uma eleição atípica, tomada por fake news, que surpreendeu tanto estudiosos como as velhas raposas da política tupiniquim.


Nessa semana pós-eleição,  se falou de tudo. Desde a bombástica indicação de Moro para fazer parte do novo governo e suas consequências; até ameaças a jornais e jornalistas. Um desses jornais ameaçados, no mesmo dia publicou dois artigos sobre Moro. O primeiro de um histórico antipetista, Reinaldo Azevedo. O outro de Vladimir Safatle, conhecido por seus posicionamentos mais à esquerda.

 

Abaixo, reproduzo parte  do que escreveram. Fica como registro e para reflexão.


-  Reinaldo Azevedo, um liberal convicto.

"O Moro político, que falou com Paulo Guedes antes da eleição sobre a possibilidade de integrar o governo, também é o Moro juiz, que resolveu liberar trechos da delação de Antonio Palocci. E o fez uma semana antes do primeiro turno. Atribuir a isso a vitória de Bolsonaro  é bobagem - esta se deve a muitos outros fatores, incluindo as escolhas do PT, mas não cuido disso agora. O fato é um emblema do que não pode fazer um juiz. O que sempre me pareceu claro, embora fosse constatação quase que solitária, revela-se agora de maneira escancarada: protagonistas da Lava Jato estavam e estão empenhados também em um projeto político." 

- Vladimir Safatle, um filósofo de esquerda. 


"Há uma diferença estrutural entre cinismo e hipocrisia". Assim inicia o seu comentário. Quando chega no juiz Sérgio Moro, suas observações registram o quanto estamos distantes do que seria até mesmo uma democracia liberal: "O mesmo acontece quando um juiz mobiliza o país inteiro para a prisão do candidato mais popular de uma eleição, vaza informações de forma deliberada para influenciar resultados de campanha e, ao final, recebe do candidato vencedor  - aquele que, por coincidência, foi o mais beneficiado por suas intervenções - um cargo de destaque em seu governo".


PS - O pós-eleição, assim como afastou familiares e amigos, também aproximou escritores, pensadores e filósofos. A vida segue e a necessidade de lutar e sonhar também.  Esse é o nosso destino.   


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