quarta-feira, março 13, 2024

Santa Catarina, as mudanças climáticas e seus efeitos

 

       Jurerê, praia alargada. O aviso é da prefeitura. Só que o mar vem buscar o que é dele 

O recente estudo sobre a redução do desmatamento na Mata Atlântica, nos envergonha: Santa Catarina é o estado da Região Sul que menos reduziu seus índices de desmatamento. Na área urbana, uma cidade da importância de Rio do Sul passou por cinco grandes inundações num único ano. Um verdadeiro descaso com as pessoas que convivem com essa tragédia anunciada. No litoral as medidas para combater o aquecimento do mar, não passam de paliativos. A moda agora é engordar as praias (foto acima). Para completar o combo que alimenta os impactos das mudanças climáticas em Santa Catarina, as usinas térmicas a carvão em Capivari de Baixo ganharam uma sobrevida até 2040. (*) 

Independentemente de quem votou em quem, a desatenção em curso com as mudanças climáticas, nos apequena como sociedade. Como toda agenda de governo focada em atender demanda de alguns setores, sem ouvir o todo, a de Santa Catarina não é nada transparente. De tal forma que acaba comprometendo ainda mais a imagem de um estado que procura se apresentar como diferenciado. Se enganam, pois são políticas públicas qualificadas e debatidas que podem dar suporte a pujança de um estado. Vide o caso de Rio do Sul, como promover um evento para falar de novos investimentos, empregos verdes, crescimento sustentável, tecnologia de ponta - se a cidade continua refém das chuvas. 

A boa reflexão, precisa estar sempre presente, não tem hora nem lugar. Ela nos faz pensar e nos permite absorver conhecimento e discernimento. No passado em plena ditadura, tinha uma música do Raul Seixas, Maluco Beleza, que falava em lucidez. Na época, uma ousadia, um jovem se manter lúcido para poder entender o mundo hostil e bruto que o cercava. Seis décadas se passaram, a brutalidade continua presente e a lucidez diuturnamente atacada pelas redes sociais. Não tem futuro sem que a sociedade se alimente da lucidez.

O agravamento das mudanças climáticas mesmo sendo parte da responsabilidade de nós mesmos, as causas e os efeitos se confundem com fenômenos naturais. O enfrentamento também é de nossa responsabilidade. Sem essa reflexão e o convencimento advindo dela, Rio do Sul continuará sujeita a novas enchentes, os mangues não serão preservados e as matas continuarão sendo derrubadas. Essa constatação, que deveria nos incomodar profundamente, são poucos os que se preocupam.  

Depois de 17 anos de um trabalho voluntário à frente do Instituto IDEAL, promovendo a energia solar o que era para ser feito, está feito. A energia solar é a fonte de energia que mais cresce no Brasil e no mundo. A caminhada começou em 2007 dando uma palestra para as crianças na Escola Sarapiqua, em Florianópolis. Sempre tivemos nas nossas ações a compreensão que era através dos jovens que devíamos começar. Deu certo, depois vieram: as escolas, universidades, federação das industrias, centros de pesquisa, palestras nos bancos de fomento, nas Embaixadas do Brasil em quase todos os países latinos, nos EUA  e em boa parte dos países europeus.

Com muito esforço conseguimos levar o Concurso ECO- Lógicas, de pesquisa e desenvolvimento nessa área, para o mundo acadêmico, premiando trabalhos desenvolvidos em mais de uma dezena de países da América Latina, que sempre foi nosso principal foco. No próximo dia 22 de março, está convocada a Assembleia Extraordinária, onde vamos propor aos sócios fundadores do Instituto IDEAL, o fim de um ciclo exitoso que passa agora pelo fechamento das nossas atividades. 

Novos desafios como as mudanças climáticas estão batendo na porta. A humanidade vem sentindo com preocupação seus efeitos cada vez mais devastadores. O problema já devidamente identificado, é global. Só que as soluções locais não acontecem. A situação de Rio do Sul, já citada, é vexatória. Santa Catarina precisa agir localmente e rapidamente. Na última semana araucárias foram envenenadas em Chapecó, milhares de outras foram afogadas pelos reservatórios das barragens. A devastação ambiental entorno do anel viário na região metropolitana de Florianópolis, é gigante. 

Nosso próximo compromisso vai ser um olhar para a proteção ambiental e construir parcerias que agilizem o processo, agregando conhecimento e reconhecida expertise. Não se tem mais o tempo como se teve para introduzir a energia solar na nossa matriz energética. As bruxas estão soltas, os mangues estão ameaçados e podem ser aterrados, as araucárias correm o risco de continuarem sendo envenenadas, os fortes ventos e chuvas intensas podem estar se formando.

Com intuito de ganhar tempo estamos em tratativas com a Carbon ZERO, de Carlos Alberto Tavares Ferreira, de São José dos Pinhais, para uma parceria. Já estivemos na Comissão de Meio Ambiente e Turismo da ALESC, a convite do presidente da Comissão, o deputado @marquito.sc, para apresentar a capacitação técnica da Carbon ZERO e em que projetos poderíamos  contribuir para que políticas públicas avancem na proteção ambiental. Santa Catarina tem aproximadamente 150 mil pequenas propriedades rurais, onde a família poderia agregar renda por proteger a mata que está dentro da sua propriedade. 

(*) Segundo o jornalista Marcelo Leite, um escândalo que ganhou uma página inteira na FSP, de  5/6/2022. Por trás de tudo, o lobby da Associação Brasileira do Carvão Mineral.   

PS - Ressaltando: se alguém injeta veneno numa araucária, como ocorreu em Chapecó, para ganhar dinheiro com a madeira das árvores que matou, porque não receber através de crédito de carbono uma determinada renda para proteger os ativos ambientais que tem na sua propriedade. Isso só vai ocorrer através da conscientização do agricultor lá na ponta e de políticas públicas bem debatidas na ALESC. A sociedade agradece.   

  




quarta-feira, março 06, 2024

Mudanças climáticas, se há um consenso é que o mar está subindo

Os sinais da natureza estão dados, tanto no hemisfério Norte, como no Sul. Com altas temperaturas e grandes incêndios, frio intenso e fortes chuvas, geleiras derretendo e o nível do mar subindo, as mudanças climáticas e suas consequências estão entre nós.  As informações que nos chegam, não encontram respostas com a mesma velocidade e racionalidade. Não se trata só de uma ação tardia às ameaças locais, mas ficamos reféns de desastres ambientais crescentes em intensidade e bem mais frequentes no tempo. (*)

Para quem mora numa ilha cercada de praias, mangues, lagoas e dunas, a proteção ambiental das belezas naturais que encontramos em Florianópolis, deveria ser uma obsessão - compromisso de cada cidadão. Ao contrário do que alguns insistem em rotular novas visões de cidade, proteger não significa congelar o desenvolvimento. Os melhores indicadores de urbanismo, mobilidade, meio ambiente e qualidade de vida, se encontram justamente em cidades que se diferenciam da mesmice. (**)

Quando as gestões se perpetuam através de compromissos obscuros, a primeira coisa que acontece é o fim do diálogo. O poder público passa a se aproximar e dialogar com os interesses do capital privado. A transparência tão desejada pelos munícipes desaparece, e o silêncio vira regra. Os mal feitos são acobertados pela maioria dos vereadores e a cidade deixa de ser a cidade que se quer. Talvez por ter sido duas vezes vereador na capital, a constatação que ora relato - me incomoda profundamente.

Quem acompanha o blog de Olho no Futuro, sites de notícias e redes socais, sabe das preocupações que expresso nas publicações. Recentemente a Ilha que todos conhecem e se encantam, está passando por um processo de engordamento das suas praias. Como se trata de um projeto que interfere diretamente no movimento do mar, que como sobe desce, pelo alto custo e pelas modificações que está causando, a iniciativa deveria ser melhor debatida com a sociedade. Os prefeitos podem se achar, mas não são donos das cidades. Muitos quando deixam o cargo, o legado que fica é uma cidade desfigurada.

Já estamos na terceira praia que passa por esse processo de alargamento, sem que se tenha informações detalhadas e oficiais sobre o que está acontecendo. Como um ex-vereador interessado no tema e comprometido com a cidade e seu futuro, todo o sábado passo em Jurerê Internacional para acompanhar a obra (foto abaixo). No último dia 2, uma novidade no cenário, um largo e profundo canal cortando parte da praia já aterrada. Não se sabe se foi água da chuva represada, se é água não tratada despejada de forma criminosa, ou até mesmo uma necessidade da obra. Ao fundo aparece a draga botando areia. O que se busca é informação, que aliás é obrigação de qualquer gestor público.                      


A um quilômetro dali uma situação inversa chama a atenção de qualquer um. Em Canajurê, onde ficam as marinas, a praia foi totalmente modificada. A movimentação do mar está retirando o aterro que fizeram para alargar a praia de Canasvieiras e botando a areia em Canajurê. Como consequência a praia ficou larga e perdeu profundidade. Só pra exemplificar o estrago as lanchas estão impedidas de atracarem no velho trapiche que está ali a mais de trinta anos. Pelo silêncio que reina entorno do assunto, algo a encobrir deve ter. (foto abaixo)                    


(*) Rio do Sul, cidade polo de uma importante região, passou por cinco enchentes em um ano.

(*) As capitais do Texas e do Wisconsin, Austin e Madison, se encontram na lista das melhores cidades para se viver nos EUA. Entre os principais motivos: suas universidades, ambas entre as 100 melhores do mundo, a integração vida acadêmica/comunidade, novos negócios/empregos e urbanismo focado na qualidade de vida das pessoas. Conheço bem as duas. 

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Rio (10/4/1984) X Av. Paulista (25/2/2024), que retrocesso ...

       Leonel Brizola e Tancredo Neves discursam pelas DIRETAS no centro do Rio (10/4/1984 )
                                              Vidal da Trindade - Acervo CPDoc FGV

Quis o destino que em 1984 fosse com a família estudar no Rio de Janeiro. Em função do que fazia na Eletrosul, fui fazer os créditos do mestrado em planejamento energético na COPPE/UFRJ. Por uma feliz coincidência um ano de muita agitação política. A sociedade estava tomada por um sentimento de liberdade, motivada pela campanha das DIRETAS JÁ. De janeiro a abril daquele ano, o povo estava nas ruas. Grandes nomes da política arrastavam multidões. Segundo informações coletadas, mais de 5 milhões de brasileiros participaram das manifestações. O Rio era o grande palco. (*)

No dia 10 de abril a cidade parou. No final da tarde mais de um milhão de pessoas concentraram na Avenida Presidente Vargas. Queriam ouvir os seus líderes, queriam exercer a cidadania. Naquela época não havia nada que facilitasse a chegada dessa multidão: não tinha caravana de ônibus, lanche para o povo, voucher deslocamento e outros atrativos. Quem estava ali, queria ter o direito de votar para presidente da República. No ar daquele fim de tarde e chegada da noite, se respirava liberdade.

O tempo passa, mas as imagens daquele dia 10 não me saem da lembrança. Às vezes me pergunto, como se formou aquela multidão. Quem eram aquelas pessoas, de onde vieram, como ocuparam a Presidente Vargas de ponta a ponta. Não havia celular, o primeiro foi lançado em 1990. Internet, nem pensar. Redes sociais, Whats App, robôs propagadores de notícias falsas, pra época tudo pura ficção. (**)

Na Avenida Paulista, domingo, 25, acompanhando os novos tempos da política do maniqueísmo, as manifestações foram em prol da anistia dos condenados que agiram contra a democracia e os Poderes da República. Que tristeza, como regredimos. Os pronunciamentos vazios, sem qualquer conteúdo político ou preocupação com o futuro do país, não passavam de palavras de ordem para animar uma massa convocada para dar uma sobrevida a um mito desgastado e assustado.

Com todo o esforço que fizeram, apenas quatro governadores estiveram presentes. Três de olho no lugar do capitão, por ordem alfabética: Caiado, Tarcísio e Zema. Os outros que tiveram acesso a palavra, ou rezaram ou insultaram seus desafetos. Para os que estavam  lá, a culpa é do "Xandão" e não adianta explicar. Ninguém quer saber que as provas dos crimes cometidos saíram da boca do fiel escudeiro do capitão Jair, o coronel Cid. Gente amarga incapaz de se dobrar aos fatos, que não se importa de conviver com a mentira. (***)

(*) Na COPPE conheci e fui aluno do professor Luiz Pinguelli Rosa (1942/2022). Físico, professor e  pesquisador da UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente da Eletrobrás. De aluno viramos amigos, sempre nos apoiou no Instituto IDEAL.    

(**) No meio da tarde do dia 10 de abril sai do Fundão mais cedo. A viagem levava uma hora até o centro e o coração batia forte. Quando desci na Candelária a multidão já estava aquecida. A capa do jornal O Globo do dia seguinte era "A cidade faz por Diretas seu maior comício".

(***) Durante a semana algumas polêmicas foram levantadas sobre o número de participantes no ato da Paulista. Não importa o número, o objetivo do encontro foi atingido: ter imagens para mostrar lá fora uma força que o capitão não tem mais.  

PS - Em relação ao ato do dia 25 na Paulista, a Universidade de São Paulo, a USP como é conhecida, fez uma pesquisa sobre o perfil das pessoas que estavam na manifestação. Os presentes são da ultra direita, sem vida política/partidária, são brancos, classe média alta, não valorizam a democracia, flertam com a ditadura e não mudam de opinião. Felizmente, segundo a pesquisa, representam uma pequena parcela da sociedade.     

  

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

Eles sabem o que fizeram - parte III

                                                             Foto: agência Senado 

O então ajudante de ordem do capitão Jair, não aguentou a pressão. Ao abrir a boca o coronel Cid deixou o capitão sem ação. Com as informações nas mãos, o cerco se fechou. A Polícia Federal convocou para depor, dia 22/2, o ex-presidente e sua tropa de choque. Pela responsabilidade e repercussão internacional do caso, dificilmente a PF deixou algum fio  solto. A sociedade está atenta e aliviada pelo fracasso do golpe. O Brasil respira e quer democracia, agora é fechar a porta do atraso e seguir em frente. 

A volta da normalidade pode ser observada na tarde de ontem em Brasília. No mesmo dia que o capitão e seus generais, optaram por ficar em silêncio no inquérito da Policia Federal, sobre o golpe de 8 de janeiro, Flavio Dino que teve um importante papel protegendo a democracia, tomava posse como ministro do Supremo Tribunal Federal.

O fato de que nada do ocorrido balançou o país, é muito positivo. O Brasil tem encarado seus desafios, que não são poucos, com uma grata maturidade que só vem com o tempo. Se o silêncio dos depoentes foi uma estratégia de seus advogados, a leitura a ser feita é que nada tinham a acrescentar nas suas defesas. Em outras palavras, o que está gravado são provas irrefutáveis da gravíssima opção que fizeram: tramaram à luz do dia dentro do Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo, contra a própria Democracia. 

Quando o coronel Cid foi preso, já estava traçado o destino do capitão e sua turma. Cid sabia demais, só que a sua aparente fidelidade não aguentou dois meses de prisão. Ao abrir a boca expôs todo o grupo. Ainda sem ter sido julgado, Cid já está pagando a sua pena no isolamento de dias intermináveis e no vazio de suas noites de insônia. O coronel provavelmente se inclui na lista daqueles que o general Braga Neto vem chamando de cagões, são seus pares de farda que gostavam do lugar que ocupavam e das benesses que recebiam. Segundo Braga Neto, quando precisou do apoio deles roeram a corda. 

A surpresa do dia 22 ficou por conta de Valdemar da Costa Neto e Anderson Torres, que deixaram os fardados isolados. Ambos resolveram responder as perguntas da PF sinalizando a disposição de colaborar com o inquérito. Provavelmente orientados por seus advogados, o que se espera são novas versões sobre a gravidade do que os golpistas tramavam no Palácio.  Eles sabem o que fizeram.      

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Alargar as praias é uma solução, ou um problema a mais...

                                  Praia da Daniela, um domingo de sol, verão de 2024

A foto acima, da praia da Daniela, em Santa Catarina, ajuda a compreender muitas coisas. À esquerda se vê um degrau onde estão os guarda sóis e as pessoas sentadas. Exatamente no degrau foi onde a maré chegou. Quando o mar recuou deixou uma faixa de areia de 30 metros, pronta para as pessoas andarem livremente. A mão do homem só interferiu nesse cenário na hora de fincar o guarda sol. Portanto, qualquer movimentação no sentido de alargar a Daniela vai ser prontamente rechaçada. Ainda bem, se evita que o dinheiro público seja levado embora pela movimentação do mar.

Em linha reta a poucos quilômetros dali a tradicional praia de Canasvieiras, a primeira a ser alargada, passa por um processo natural de arreste de areia. A praia vizinha dela,  Canajurê  engordou sem pedir. A revista Natureza e Meio Ambiente/Brasil, da DW, publicou um artigo do jornalista Maurício Frighetto, de 15/11/2023, e posteriormente atualizado em 09/02/2024, sobre "Os prós e contras de alargar as praias de Santa Catarina. Segundo a matéria nos próximos anos os investimentos previstos com o alargamento das praias ultrapassa 200 milhões de reais. (*) 

O caso mais debatido no momento é o de Jurerê Internacional, que começou o processo de bombear areia para a praia, justamente no Carnaval. A dessintonia da obra com a realidade turística da cidade, logo chamou a atenção. Até agora ninguém entendeu. Como tem muito interesse por trás do que está acontecendo lá, o que se consegue são informações fragmentadas. Numa entrevista à TV local o responsável da Prefeitura pela obra sinalizou que o tempo de vida útil do aterro de Jurerê é de 10 anos. Um tempo muito curto para uma obra tão cara. (**)

Outro caso que causou grande polêmica na Ilha, foi resgatado pelo jornalista Maurício Friguetto. Em 2010, na Praia da Armação, no sul da Ilha, cerca de 15 residências foram demolidas pela força da ressaca. O prefeito da época, Dario Berger, pressionado pela comunidade, encheu a praia de pedras. O mar já levou a areia vária vezes e as pedras continuam, os banhistas que se danem. (***) 

Já em Camboriú, pela dimensão do alargamento, Frighetto detalha melhor o ocorrido. A obra foi finalizada em dezembro de 2021, com custo de R$ 90 milhões. A faixa de areia cresceu cerca de 50 metros. Em junho de 2023, durante uma ressaca - o mar tomou novamente parte da areia em um trecho da praia. Como a especulação imobiliária transformou Camboriú no metro quadrado mais caro do Brasil ninguém gosta de associar os espigões na beira da praia, alguns com 70 andares, com a sombra que se fazia presente no meio de tarde tirando um dos motivos que fazem as pessoas curtirem a praia - o sol.

Já pensando no planeta os estudos reforçam a tendência no mundo e no Brasil que o espaço de praias, dunas e areias vem encolhendo. Portanto, as iniciativas locais citadas no artigo se apresentam fora dessa realidade. Cada vez mais as cenas desagradáveis e assustadoras do mar avançando nos preocupa. Não se controla a fúria do mar com sacos de contenção e paliçadas, lembra Frighetto. Só vejo a verdade como possibilidade de proteção. O gestor público deve alimentar o bom debate para que medidas paliativas e visivelmente voltadas para a lógica do desenvolvimento desordenado e sem limites se estabeleçam, criando o caos urbano como projeto de futuro para Floripa. (****)  

(*) No seu artigo Maurício Frighetto reforça os problemas de calado que estão prejudicando o embarque e desembarque das lanchas, nas marinas de Canajurê, e que a Prefeitura de Florianópolis até o momento não respondeu se planeja alguma ação no local.

(**) O que se vê em Jurerê é uma obra de envergadura, sem planejamento. A notícia que o tempo de vida útil é 10 anos, foi uma surpresa. O que vai ser feito depois, só pode ser uma obra bem maior. O crescimento populacional em áreas com forte especulação imobiliária, é exponencial.  A praia de Jurerê foi sempre a mesma, em extensão e faixa de areia. O que acontece agora é que todo o mundo foi pra lá.

(***) As casas que foram levadas pela ressaca de 2010, estavam onde não deviam estar. A Prefeitura não fiscaliza e depois ainda paga pelo estrago que o mar fez. No caso em questão, as pedras jogadas na Armação pelo poder público, visivelmente prejudicaram a comunidade. Ninguém fala nada 

(****) Florianópolis, é uma cidade com muitas belezas naturais que precisam ser preservadas. Quem a defende, logo é desqualificado. Romper a bolha é um desafio diário. Para quem gosta de escrever, o blog de Olho no Futuro com milhares de comentários é um diário aberto que chega nas redes sociais e sites especializados nos temas energia renovável, urbanismo, mudanças climáticas e meio ambiente.  

PS - Nasci em Rio Grande e me criei na Praia do Cassino, a mais extensa e larga do país. Nunca vai precisar ser engordada. Quando estudante de engenharia, no final dos anos 60, participei do primeiro estudo científico do país, conduzido pela UFMG, que utilizou radioisótopos para acompanhar o movimento dos sedimentos do material dragado no Porto de Rio Grande De certa forma esse passado distante ajuda a entender o que se passa no mar, inibindo os que não sabem nada  - mas gostam de desqualificar os que pensam diferente.  

 

   

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Eles sabiam o estavam fazendo (parte II)




Diante da repercussão que teve o artigo anterior, "Eles sabiam o que estavam fazendo", volto ao tema. A motivação foi o vídeo de julho de 2022, onde os trapalhões de plantão entregam de bandeja suas inconfessáveis intenções. A foto acima, da Revista Fórum, ilustra com precisão o golpe fracassado. O ex-presidente e o seu núcleo militar mais duro, pretendiam fazer o que sempre sonharam: acabar com a democracia impondo, mais uma vez, uma ditadura. Uma maneira doentia de se chegar ao poder, que de tempos em tempos dá sinais de vida nas Forças Armadas da América Latina.  O vídeo apreendido pela Polícia Federal é de julho de 2022, portanto bem antes das eleições. Já sabiam que iam perder e os conspiradores traçavam um plano B, para a evitar a realização das eleições. 

Quem gravou o vídeo e guardou em casa, merece uma condecoração. Alguém que não aguentou a pressão e roeu a corda. Ainda bem, sua delação mudou a história do país. Quando na reunião dos trapalhões o chefe da AGU perguntou se a reunião estava sendo gravada, o "capitão sem noção" e o "general porrada", prontamente disseram que não. Pelo silêncio de todos, os acovardados presentes optaram por se calar. Patéticos, nesse episódio tragicômico o silêncio não foi o dos inocentes. Sem exceção, todos que estavam ali sabiam o que estavam fazendo, conspiravam dentro do Palácio contra a Democracia e os Poderes da República. Um "Gabinete do Ódio" ampliado, com as provas que faltavam. 

Como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, é citado na ilustração acima, cabe um registro: o comportamento do ministro vem surpreendendo  muita gente. Sem entrar em aspectos que possam levantar diferentes interpretações da Lei, que são legítimas, sua postura diante da gravidade do quadro é exemplar. Com determinação e sabedoria, na véspera do Carnaval, sem vacilar botou o bloco na rua. O "samba-enredo" tem todo na cabeça, sabe quem é quem nessa história sórdida e não atravessa o samba. Nove meses atrás, sem alarido, prendeu o coronel Cid por causa de um certificado de vacina falso. Era o começo de tudo. Agora está com o vídeo da reunião dos conspiradores na mão. E o capitão sem noção, ficou sem ação. Vai dançar.

Inconformado porque ninguém se lembrou dele no Carnaval, o capitão inventou de convocar um ato na Avenida Paulista. Sem grandes detalhes, imagina-se que deva ser contra a volta da democracia, da esperança e da normalidade. Logo ele, um sem noção que se auto condenou no vídeo apreendido onde reconhece seu total despreparo para o cargo de presidente. O mentor do golpe, que agora está comprovado, insiste em se apresentar como vítima. A mágoa que carrega por ser visto por seus pares como um deputado medíocre, é visível e antiga. Por quatro vezes tentou ser presidente da Câmara. Pasmem, na sua última tentativa foram quatro votos. Basta de aleivosias, a hora da verdade chegou!