quarta-feira, março 27, 2024

Instituto IDEAL, um ciclo que se encerra

                          Mauro Passos, presidente do Instituto IDEAL - Elase (Foto: Gastão Cassel)

Na sexta- feira, 22, os sócios fundadores do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas da América Latina, o IDEAL, se reuniram em assembleia para deliberar sobre o futuro da entidade. Afinal, foram 17 anos de um trabalho voluntário para desenvolver conhecimento e promover as energias alternativas na América Latina, que teve início, meio e fim. A resolução aprovada, por unanimidade, pela assembleia foi de que o Instituto IDEAL cumpriu com o seu objetivo de forma exitosa encerrando um ciclo.

Criado em 12 de fevereiro de 2007, com sede em Florianópolis, o Instituto trazia uma dose elevada de ousadia no seu próprio nome. Na época, para muitos, uma viagem no tempo: o sol como fonte de energia na América Latina. Tudo aconteceu quando fui eleito deputado federal pelo PT/SC (2002/2007). Pela formação profissional veio como opção natural ser membro das Comissões de Minas e Energia, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente. Logo depois o convite para fazer parte do Grupo de Estudos Especiais do Congresso Nacional e com ele a possibilidade e a legitimidade de organizar o primeiro grande seminário sobre energia solar fotovoltaica no Brasil. 

Como palestrante convidado o saudoso deputado federal da Alemanha, Hermann Scheer, na época a personagem política que deu visibilidade para a energia solar fotovoltaica na Europa e nos demais continentes. Sua eloquência e determinação ao pautar o sol como a energia do futuro, mudou o mundo. No nosso caso em particular, o convencimento foi imediato. Ele nos mostrou que o sol e a nossa boa insolação, em pouco tempo fariam do Brasil uma liderança na América Latina. 

Hermann sempre teve uma relação de afeto com o Instituto IDEAL, criado à semelhança da Eurosolar, seu braço organizativo não governamental com sede em Bonn, com intuito de desenvolver pesquisa e desenvolvimento no setor solar fotovoltaico. Por aqui, o pouco conhecimento que se tinha estava limitado a algumas universidades públicas como a UFSC, USP, UFRGS e a Federal do Pará. No campo das universidades privadas, a PUC/RS também se destacava. Todas tinham nos seus quadros professores pesquisadores com doutorado no exterior. Só que na vida real, a energia solar fotovoltaica era confundida com as placas colocadas nos telhados que aqueciam a água através do calor do sol.

Infelizmente, Hermann faleceu em 2010 e não viu suas projeções se confirmarem. Os avanços na legislação, os concursos de pesquisa e desenvolvimento que promovemos em vários países da América Latina, fazem parte do nosso legado e da nossa história. Só que é um ciclo que se encerra. Não se tem mais 17 anos para se criar algo. Os desafios estão batendo na porta e as respostas tem que ser imediatas. As mudanças climáticas, um modelo mais sustentável de desenvolvimento, a transição energética, a descarbonização, a proteção de mangues e nascentes de água e matas e florestas, vão estar no centro dos grandes debates globais. Quem tiver consciência da extensão e da gravidade dos desafios que nos esperam tem que se disponibilizar. O tempo não para.

Como aconteceu com a energia solar, qualquer participação voluntária precisa de motivação. Quando um ciclo se encerra, outro deve começar. O melhor caminho é encontrar o que ainda está por vir. Certificar crédito de carbono, por exemplo, entender os efeitos das mudanças climáticas e seus impactos na vida das pessoas, preservar as matas, reimplantar árvores, cuidar das nascentes e dos mangues, é o que vem fazendo Carlos Alberto Tavares Ferreira, da Carbon ZERO, a mais de uma década. O novo ciclo que ora se inicia, a motivação veio dele: o patrimônio ambiental tem que ser preservado e remunerado. Plantar uma árvore e cuidá-la tem que valer mais que derrubá-la. Só em Santa Catarina identificamos cerca de 150 mil pequenas propriedades que poderiam agregar renda através de uma política púbica de cuidado e preservação do meio ambiente. Imaginem essa ideia se espalhando pelo Brasil.  

 

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