domingo, outubro 03, 2021

O problema energético vai além da crise hídrica (parte I)

Depois da covid o mundo se prepara para uma nova crise, a energética.  As bolsas despencaram e o dólar disparou. O crescimento global vai ficar abaixo do esperado, a inflação acima do projetado e o único emprego que cresce é o informal. Para não ficar só na superficialidade, vou me limitar a focar no Brasil. Para quem acompanha o que está acontecendo, logo percebe que estamos chegando num ponto crítico da curva de desenvolvimento do país, já que milhões de brasileiros estão sem condições de pagar o que é básico para se mover e viver. 

O descontrole sobre o custo da energia elétrica, do gás de cozinha, do diesel e da gasolina, sinalizam para um inevitável impasse político, social e econômico de grandes proporções. Um quadro que exige daqueles que nos governam planejamento, coordenação e ação. Sem querer politizar minhas legítimas preocupações, tudo acontecendo às vésperas de uma eleição geral. Sem dúvida um desafio e tanto para uma sociedade dividida sem muitos motivos para festejar.

Diante da nossa realidade, a desigualdade social faz com que uns sofram bem mais do que outros. O gás de cozinha é o exemplo mais cruel e visível. Para quem ganha o salário mínimo, 10% da remuneração mensal está comprometida com a compra do botijão. Depois vem o custo do transporte urbano, seguido da energia elétrica. Todas essas necessidades, que são básicas, tiveram reajustes bem acima da inflação. O governo alega que os preços acompanham a alta do dólar. Só que o atual salário mínimo, em dólar, é o mais baixo da história recente; e não foi reajustado para compensar desvalorização do real. As consequências estão aí: o empobrecimento dos mais vulneráveis. 

Por outro lado, a gente sabe que o problema energético vai além da incapacidade de uma sociedade empobrecida pagar pelo seu custo. Sem uma solução equilibrada e racional, a possibilidade do país crescer vai se limitar a alguns setores, concentrando renda e riqueza. Aliás, uma prática bem conhecida que não se sustenta mais. A macro política tem que ser sempre inclusiva. Com o olhar para o futuro, mas sem se descuidar com o presente. Assim pensam os países que se saíram melhor da atual crise.  

Se a gente for ver, são governos respeitados pela sua trajetória que conseguiram se destacar. Que não inventam regras conforme o interesse do mandatário. Na política, a seriedade é metade do caminho. A história de cada um tem peso. A última que li sobre a crise hídrica no Brasil, é que o programa do governo que dá desconto para famílias e empresas que conseguirem economizar energia até o final do ano, terá sua conta paga pelos próprios consumidores de energia. Segundo Felipe Andreatta, da UOL, incluindo aqueles que ganharam o abatimento. Uma espécie de "me engana que eu gosto". Não pode dar certo. (*)

(*) Sobre o que não pode dar certo continuo num próximo comentário.

PS - Seguindo na mesma direção de dar com uma mão e tirar com a outra, dia 29 saiu o abono da Petrobras para o gás de cozinha. Só que veio acompanhado pelo o aumento do diesel, que impacta na distribuição do botijão. Com todo respeito a outras opiniões, o problema energético do Brasil vai além da crise hídrica... 

   

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