sexta-feira, julho 01, 2022

A guerra na Ucrânia e as suas consequências



A guerra na Ucrânia completou quatro meses no último dia 22. Naquele dia, por coincidência, acontecia em Florianópolis o principal evento de geração distribuída de energia solar do país. Nos três dias de uma programação com palestras e apresentações, cerca de dois mil participantes passaram pelo 14 Fórum GD Brasil.

Como palestrante convidado, com intuito de diferenciar um pouco a apresentação, o tema abordado foi a gravidade de uma guerra como a que estamos vivenciando em tempo real. Uma tragédia humana que precisa ser resolvida. A palestra passou a ser: "A guerra na Ucrânia, as transformações em curso e a importância da geração distribuída no Brasil".   

Na abertura da apresentação, o foco foi a geopolítica que envolve o conflito e suas inevitáveis consequências. A insanidade dos governantes envolvidos e seus interesses foi a tônica. A brutalidade associada as mortes de 47 mil civis. As estimativas com a destruição urbana e viária que ultrapassa os US$ 600 bilhões de danos materiais. O número de refugiados, o maior da história das guerras, com 8 milhões de ucranianos que deixaram o país. Sem falar nos dados sigilosos dos militares mortos e no custo dos armamentos envolvidos e destruídos, lado a lado. 

O papel de cada um nesse conflito, também não pode ser esquecido. Por ordem alfabética, Biden terceirizou a guerra. Não tem um soldado morto e a indústria bélica americana nunca vendeu tanto armamento. Putin, por sua vez, continua resistindo aos embargos econômicos. Sua evidente intenção é expandir o território russo, de olho no que era a antiga União Soviética. Zelenski, o presidente da Ucrânia, vinha perdendo popularidade no seu governo, com a guerra virou um popstar. Com o passar do tempo sua postura pelo conflito passa também a ser questionada. No fundo quem está sofrendo é o povo ucraniano.  

Por outro lado, as consequências energéticas e econômicas são globais. Bem mais acentuadas na União Europeia, do que em qualquer outra região. Com uma forte dependência do petróleo e do gás da Rússia, no momento os europeus estão sem um plano alternativo. Com a proximidade do inverno e a necessidade da calefação, tudo se agrava. A Rússia sabe disso como ninguém, afinal é a maior exportadora de gás do mundo e a Europa representa 74% do total que exporta. 

Outra fonte de energia importante que a Rússia controla, é o petróleo. São 5 milhões de barris exportados por dia, que faz dela a segunda maior exportadora de petróleo do mundo. Com o preço do barril em alta em função da guerra, ninguém consegue prever o preço que pode chegar com a continuidade dela. O que para os russos não deixa de ser interessante. 

Diante de tantas incertezas, muitos analistas trabalham com a possibilidade da guerra  durar. O que torna as consequências imprevisíveis. De certa forma, sem ser alarmista, o estrago está feito. Na conferência de Florianópolis, ao sair da geopolítica foi para tratar da nossa situação energética. Felizmente, somos um país diferenciado do todo. Se nos falta gestão e planejamento, o potencial de energia renovável que temos é imensurável. Com sol e vento a vontade, conhecimento técnico e mercado, os investimento estão acontecendo por si. 

O professor Ricardo Rüther da UFSC, diretor técnico do Instituto IDEAL e um dos mais renomados estudiosos do tema, registrou na sua palestra de abertura do Fórum GD o nosso bom momento e a certeza de que vai continuar assim. A energia solar é a que mais cresce no mundo e no Brasil. Sendo que aqui a curva do crescimento é uma exponencial muito mais acentuada do que em qualquer outro país.  Em 2011, por exemplo, não se tinha nada. O que havia era um pouco de pesquisa e desenvolvimento em algumas universidades federais. A do Pará, a de São Paulo, a de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Dez anos depois, em 2021, segundo a Aneel, já eram 300 mil instalações solares fotovoltaicas, quase todas em geração distribuída. Em junho de 2022, seis meses, temos 15 GW entre geração distribuída (67%) e centralizada em usinas (37%). É mais do que a potência instalada de Itaipu. A própria Aneel projeta para 2031, 10 milhões de instalações. Uma revolução em direção a uma independência energética descentralizada que terá no futuro outra importante função, a da mobilidade elétrica. 

O processo em curso no Brasil, não tem volta.  E, por três motivos: temos uma boa condição de insolação, os preços da energia solar estão caindo e as tarifas da energia elétrica  vinculadas as concessionárias, continuam sendo reajustadas muito acima da inflação. Na terça-feira, 21, dia da abertura do Fórum, a Aneel anunciava um novo reajuste nas bandeiras tarifárias: na média, 50%! Um reajuste dessa magnitude só ocorre quando o governo perde o controle sobre setores estratégicos, como é o nosso caso.

PS- No tabuleiro do xadrez da geopolítica, o Brasil não passa de um peão sem noção. Isolado na América Latina, descartado pela União Europeia, manda sinais simultâneos de aproximação para Biden e Putin. Como se isso fosse possível. 


  

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