Depois de 14 anos o Brasil voltou a ser convidado para
participar da reunião do G7, grupo de países que representam as principais
economias do mundo. Ao contrário do que alguém possa pensar, não foi
coincidência que nas duas participações do Brasil – o convidado foi Lula. Para
um bom observador, numa relação institucional entre países não é comum um
acolhimento visivelmente pessoal em relação ao presidente do Brasil.
O convite tem várias leituras. A
primeira é reforçar e legitimar o papel de Lula como líder global. Uma resposta
clara ao que fizeram com ele em 2018 e ao golpe fracassado do dia 8 de janeiro.
Num segundo momento vem os interesses que sempre estão presentes nesse tipo de
aproximação, que vai além do Brasil. Lula é a única liderança da América Latina
que pode unir os latinos. Por fim o que esperam da gente, num horizonte de
longo prazo. Sobre isso, em particular, junto com outros colegas nos
antecipamos: foi o nosso trabalho de pós grado na Universidade de Belgrano, em
Buenos Aires, sete anos atrás. (*)
A América sem Carbono foi a proposta que fizemos. Na época
um trabalho acadêmico, com poucos dados, limitado a Argentina, Brasil e
Uruguai. Sem as informações que se tem hoje, seu mérito se deve a identificação
antecipada de um tema central que irá dominar os grandes desafios da América
Latina e da humanidade nesse século. Tanto é verdade que mereceu um recente artigo escrito pelo Economist, com o apoio do Banco J.P. Morgan, sobre as
perspectivas futuras da América Latina.
O foco da matéria é a mudança do clima, seu impacto na
economia, remodelando a indústria, alterando a demanda dos consumidores e criando novas oportunidades para a América Latina. O artigo nos coloca como protagonistas da economia verde que está a caminho. Sem dúvida, de todos os continentes o nosso é o que tem o
maior capital natural.
Com uma população urbana em crescimento, a América Latina
tem que olhar para o campo e para cidade com a mesma atenção. Uma matriz
energética mais limpa, resultante de um esforço no sentido de criar uma América sem
Carbono. No campo uma agricultura sustentável e as cidades incorporando a mobilidade
elétrica como projeto regional de desenvolvimento. O horizonte projetado é o ano de 2050. As razões são
óbvias e já estão sendo percebidas: a produção do petróleo vai cair e o preço vai
disparar.
(*) Em Belgrano conheci Lorena, Verônica e Pedro. Embora
fossem bem mais jovens nasceu uma amizade e um trabalho prazeroso. Lorena é da Argentina, Verônica e Pedro do
Uruguai.
(**) Nos grandes encontros globais, nada é coincidência. Na foto, Lula entre Biden e Trudeau, um registro histórico. Pela ordem: Canadá, EUA e Brasil são os maiores países da América.
PS – O presidente Lula está certo em defender a Eletrobras pública.
Só ela poderá cumprir um papel de apoio ao desenvolvimento de uma matriz
energética limpa latino-americana. Contra sua vontade e de forma obscura criaram
uma empresa que se diz privada. Uma versão tupiniquim da oligarquia russa que se
apropriou da energia da antiga União Soviética e que hoje são bilionários. O
presidente Lula tornou público os salários dos gestores da nova empresa: os diretores vão
ganhar 360 mil reais/mês e os conselheiros 200 mil por reunião. Uma empresa não pode ser sustentável, se moralmente é insustentável.
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