Diante da possibilidade de longo prazo de convivermos com a economia do hidrogênio, o IPEN – Instituto Nacional de Pesquisas Energéticas e
Nucleares começou a se envolver com o tema no final
da década de noventa. Trinta anos se passaram até a recente publicação do livro
de Marcelo Lunardi, "A Economia do Hidrogênio", que nos ajuda a entender um pouco do desafio que está batendo na nossa porta e que vai fazer parte do nosso futuro. (**)
Por não dominar o assunto, mas por interesse em promove-lo,
li e reli o livro de forma a poder entender melhor o que temos pela
frente. Como toda a grande transformação, só a escala viabiliza. Sem ela a
mudança não acontece, ficando limitada a academia e centros de pesquisa. Quanto a
escala, ela só se dá se a inovação que está sendo proposta é acolhida pela
sociedade. Muitas vezes não se consolida, mesmo sendo economicamente viável. (***)
As preocupações e observações acima relatadas servem para direcionar o foco e contribuir na identificação das melhores escolhas a serem feitas. Vamos ao livro:
- O mais recente relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que o mundo
provavelmente atingirá ou excederá 1,5graus centígrados de aquecimento nas
próximas duas décadas, e 90 países estão comprometidos com as metas de zero
emissão até 2050.
- O hidrogênio vem sendo considerado o
pilar da descarbonização e, desde de fevereiro de 2021, foram anunciados, em
todo o mundo, 131 projetos de grande escala, em um total de 359 projetos e
investimentos de cerca de US$500 bilhões até 2030.
- Mais de trinta países possuem estratégias para o
hidrogênio, e a capacidade de sua produção pode ultrapassar 10 milhões de
toneladas/ano em 2030. Até 2050, a demanda por hidrogênio verde (de origem
renovável) deverá chegar de 300 milhões de toneladas/ano (nas previsões mais
pessimistas) e a 800 milhões de toneladas/ano (no cenário mais otimista),
promovendo o desenvolvimento socioeconômico, tecnológico, a sustentabilidade e
a proteção do meio ambiente.
- Particularmente, o que torna o setor do hidrogênio
verde muito atrativo é sua ampla cadeia de valor, que incluí os setores
elétricos e o de gases industriais. Um hub de hidrogênio verde representa um
cluster de energia, envolvendo plantas de dessalinização e de aproveitamento de
água de reuso, parques de energia renovável, plantas de eletrólise da água,
reforma de biocombustíveis, gasificação de biomassa e de resíduos plásticos.
- Por meio de processos chamados power to x, o hidrogênio
pode ser usado também para produção de combustíveis sintéticos, como diesel
sintético, querosene de aviação e metanol. Pode produzir amônia, utilizada na
produção de fertilizantes. A produção tradicional de amônia utiliza gás natural
ou carvão para produzir hidrogênio, bem como para gerar energia. Como
resultado, a produção tradicional de amônia é uma das indústrias que mais
emitem carbono no mundo. No Brasil, o setor de fertilizantes importa 80% da
amônia e seus derivados, causando um déficit histórico na balança comercial. O
setor de hidrogênio verde abre as portas para a produção da amônia verde
nacional.
O tema hidrogênio, não tem fim. Ele vai
perdurar no tempo. O Brasil
tem um imenso potencial para liderar esse processo na América Latina. Já
lideramos a produção de energia eólica e solar, fontes renováveis fundamentais
na produção do hidrogênio verde como da amônia verde. O laboratório de
hidrogênio da UFSC, a ser inaugurado em breve, colocará a universidade à frente
do processo como ocorreu com o desabrochar da energia solar. A FURG, em Rio
Grande, tem tudo para ocupar também um papel relevante de pesquisa e
desenvolvimento na busca da amônia verde. As primeiras conversas já começaram.
(*) São três os laboratórios para pesquisa, disseminação do conhecimento e formação de mão de obra a serem inaugurados no segundo semestre: o da UFSC, da UFRJ e da federal de Itajubá. Os recursos foram disponibilizados pelo governo da Alemanha. A foto acima registra esse bom momento. Sapiens Park, Praia da Cachoeira do Bom Jesus, Florianópolis.
(**) O professor Marcelo Linardi, é pesquisador Emérito do IPEN, desde 2019. Formado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (1983), mestrado pelo ITA (1987), doutorado pela Universitat Karlsrube (1992) e Pós-Doc pela Universidade de Darmstadt, na Alemanha, em 1998.
(**) Quando criamos o Instituto IDEAL em Florianópolis
(12/02/2007), foi com o objetivo de promover a energia solar em larga escala no
país. Até então restrita a poucas universidades, UFSC, UFRGS, USP, UFPA, sem
escala e sem preço competitivo, só começou a ganhar mercado em 2015. Atualmente
é a fonte de energia que mais cresce no Brasil.
PS – O IPEN/CNEM é uma instituição pública de pesquisa
técnico científica, fundada em agosto de 1956. Gerido tecnicamente pelo CNEN,
autarquia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O instituto é
vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.
Conta com cerca de 650 servidores e 400 alunos de pós-graduação.
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