quinta-feira, agosto 24, 2023

Lula acabou com a privatização da Eletrobras


A semana de 13 a 19 de agosto, já faz parte da nossa história. Um conjunto de fatos eletrizantes, mas distintos entre si, expôs como nunca antes a podridão de um governo. Nas Forças Amadas, o envolvimento com os malfeitos vai do general ao sargento. Nas asas dos aviões da FAB, que num passado recente carregavam drogas para a Espanha, agora carregam joias para Miami. O então presidente e o seu entorno, familiar, político e militar, estão sendo investigados pelo que fizeram. Em quatro anos perverteram as relações entre o público e o privado no Brasil, sem qualquer pudor. 

Quando a decisão de privatizar a Eletrobras foi anunciada, nos primeiros meses do governo anterior, o mundo das "oportunidades", da má fé, da falta de transparência e de interesses escusos, logo mostrou suas garras. Por conhecer o setor elétrico de imediato chamou  atenção o que pretendiam fazer com o fim do Acordo de Itaipu, que se encerrou no primeiro semestre de 2023. Quando vazou a notícia de que pessoas de São Paulo, se utilizando de suas boas relações com o governo, buscavam negociar no mercado livre os excedentes de energia da usina de Itaipu, a luz vermelha ascendeu. Logo se percebeu que se tratava de um grande escândalo. Assim que as suspeitas se confirmaram, as negociatas foram rapidamente abortadas. No Paraguai, a repercussão foi a pior possível. O Congresso quase aprovou o impeachment do então presidente. (*)

Dois anos depois, o presidente da Câmara Arthur Lira começa a se movimentar como se fosse o chefe do planejamento do setor elétrico brasileiro. Aos poucos começa a impor suas ideias de como deveria ser privatizada a Eletrobras. Os famosos "jabutis" começam a circular pelos corredores do Congresso. Com o aval do Lira, no bojo desse "vale tudo legislativo", são incorporados 8.000 MW de energia a gás nas regiões norte e nordeste. Lá falta tudo, as usinas, o mercado, o gás e os gasodutos. Ninguém sabe direito o custo da obra e o impacto ambiental da rede de gasodutos na Amazônica. (**)  

Quem conhece o setor elétrico e tem responsabilidade, logo percebeu que os delírios legislativos tinham interesses e objetivos inconfessáveis. A privatização da Eletrobras, não passava de um grande negócio para poucas pessoas. Por trás dos arranjos legislativos, fortes lobbies econômicos. Usinas hidroelétricas amortizadas, com baixíssimo  custo de geração de energia, passariam a vender no mercado libre numa situação muito favorável e desigual frente a outras empresas geradoras de grande porte. Outra preocupação seria sobre a grande incerteza que viria sobre quem atenderia o mercado cativo, que somos nós: os consumidores em baixa tensão que já pagam as maiores tarifas.  

Além de todas essas gravíssimas situações sob o ponto de vista econômico, energético e social; o esdrúxulo arranjo acionário surpreendeu a todos pela ousadia. Nem a lei das S.A, a bíblia da cultura liberal foi respeitada. Para os meios empresariais, um escândalo 3g, extra large. Os sócios dessa aventura definiram que as ações da União, 43,6%, valiam o mesmo que as suas que não passam de 10%. Ao que tudo indica, por trás dessa engenhoca tupiniquim, a cabeça pensante era a do ex-presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr.

(*) Imaginem o mico, o Congresso do Paraguai enquadrando o presidente de lá por estar associado a fraudadores ligados ao governo daqui.  

(**) O setor elétrico brasileiro sempre foi referência no mundo. Por décadas o planejamento energético seguia orientações técnicas de alto nível. Desde 1977 trabalhei com os chamados Planos Decenais, que norteavam todas as decisões sobre o crescimento do mercado e como as demandas de energia seriam atendidas. Jamais essa atribuição poderia estar associada ao presidente da Câmara dos Deputados, seja ele quem for.   

PS - Na semana passada, quando presidente Lula deu um basta na privatização da Eletrobras, ao retirar por Decreto as ações da União do processo em curso, o então presidente da Eletrobras Wilson Ferreira, de forma inesperada, sem qualquer manifestação pública, renunciou ao cargo. As dúvidas em relação ao ocorrido precisam ser apuradas. O silêncio não é resposta. 



 

Nenhum comentário: