sexta-feira, fevereiro 26, 2010
Capital à deriva. (Parte II)
Se tem alguma coisa que eu não me lembro, é de quantas vezês cheguei em Brasília. Já foram algumas centenas. Com chuva ou com sol, com escândalos ou não, sempre senti a falta de calor humano em Brasília. Parece uma cidade sem alma. Até os taxistas falam pouco, quando muito perguntam de onde você é. Nessa semana, pela primeira vez, senti que algo de novo havia no ar seco de Brasília. Do aeroporto ao hotel, um vibrante e indignado taxista me atualizou com os mínimos detalhes, a crise gerada pelo "mensalão do DEM". Na recepção do hotel, no lugar da tradicional boas vindas, um comentário jocoso de que Brasília está "sob nova direção", uma referência às churrascarias de beira de estrada. No almoço, com meu amigo Laurez, acompanhado das boas cabeças que circulam na capital, a conversa girava da cela da PF, onde Arruda permanece trancafiado, até o sangramento final do DEM, com a renúncia de Paulo Octávio. Para quem conhece os bastidores de Brasília, muita água ainda vai rolar. A rede de pessoas que tomou de assalto os cofres públicos da capital é muita grande. A contaminação dos poderes é visível. A delação premiada que possibilitou que o arquivo vivo, Durval Barbosa, abrisse a boca, pode ser oferecida pela Justiça à outros envolvidos. No Poder Legislativo o Corregedor da Câmara, deputado Raimundo Ribeiro, surpreendeu ontem seus colegas, recomendando a abertura de processo contra nove distritais. Na Justiça, a defesa do governador afastado pediu que o julgamento fosse adiado. No Poder Executivo, o governador em exercício, Wilson Lima, já dá sinais de pouca condição administrativa e política para gerenciar Brasília e sua crise. Diante desse quadro estarrecedor de falência dos poderes, volto para o aeroporto. Novamente, sou surpreendido. Um outro taxista, também falante e indignado, me olhando pelo espelho, com a sabedoria das ruas e a convicção de um renomado cientista político, sem vacilar, dispara: "doutor, olha o que fizeram. A capital tá à deriva".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário