sábado, março 25, 2017

Cidadania "em transe".

Cidadania plena é mais do que um CPF e um título de eleitor. Não basta estar em dia com a receita e votar. Duas das nossas principais obrigações sob a ótica distorcida do Estado. No fundo é o que querem de nós. Quanto a contra partida, cada vez mais retorna menos. O que se observa é o Estado se libertando de suas obrigações para com o cidadão. As reformas em curso no Brasil apontam nessa direção. Boa parte dos que nos representam não está nem aí para o que vai acontecer no futuro com as novas gerações. Como estão todos devidamente com a vida resolvida, danem-se os outros.

O comentário que ora faço tem muito a ver com experiências recentemente vividas, que, de certa forma retratam  - a cidadania ameaçada. E ela é urbana, econômica, política e social. Em menos de dois meses tive dois pneus cortados por buracos na rua. Aparentemente, um azar. Pelo menos é assim que costumamos reagir. No entanto, o certo é considerar um descaso do Estado (no caso a prefeitura) com o cidadão.

Nesse mês boa parte dos brasileiros vai prestar conta para a Receita. E, como todos sabem, o governo não corrigiu a tabela como devia ter feito. Mais uma vez o Estado (no caso o governo federal), ao agir dessa forma, metendo a mão no bolso de todos os cidadãos (contribuintes).

Na política então nem se fala: o desrespeito com a cidadania é total. Com a reforma da Previdência o cidadão está sujeito a morrer antes de se aposentar. Sem falar que com a terceirização vem a precarização do trabalho. Sem garantias no emprego e ameaçado de nunca se encontrar com o legítimo e aguardado direito que todos temos de nos aposentar -  o sentimento é de um cidadão abandonado pelo Estado.

Com a crescente ausência do Estado, a crise social  se agrava. Se atualmente a insegurança só cresce e ameaça a cidadania, em parte também é responsabilidade do Estado. Escrevo esse comentário do Uruguai,  onde acabo de passar por uma experiência bem desagradável de violência urbana. Em Montevidéu, na última quarta-feira, ao me dirigir de uma reunião para outra, numa via de grande movimentação  fui assaltado por um motoqueiro de forma bem violenta. Passado o susto, novamente aflora a indiferença (ou o descaso) com o cidadão. A polícia levou 30 minutos para chegar no local. Na delegacia para registrar o BO, a certeza de que nada ia acontecer. No Consulado, a informação que outros brasileiros já tinham sido assaltados na mesma sinaleira, a confirmação de minha suspeita: os ladrões vão continuar agindo. A impressão que me deu é que participei de uma farsa. Uma mera formalidade do Estado, se dizendo presente mas sem a menor vontade de resolver o problema do cidadão.

Segunda retorno para o Brasil. E a vida segue.

PS - "transe" é uma conjuntura aflitiva, perigosa. A cidadania abandonada é uma conjuntura de alto risco. Quando se perde a presença do Estado, ou nos tornamos indiferente a ele, o que vale é o cada um por si. Nesse caso estamos próximos da barbárie.


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