O comentário que ora faço tem muito a ver com experiências recentemente vividas, que, de certa forma retratam - a cidadania ameaçada. E ela é urbana, econômica, política e social. Em menos de dois meses tive dois pneus cortados por buracos na rua. Aparentemente, um azar. Pelo menos é assim que costumamos reagir. No entanto, o certo é considerar um descaso do Estado (no caso a prefeitura) com o cidadão.
Nesse mês boa parte dos brasileiros vai prestar conta para a Receita. E, como todos sabem, o governo não corrigiu a tabela como devia ter feito. Mais uma vez o Estado (no caso o governo federal), ao agir dessa forma, metendo a mão no bolso de todos os cidadãos (contribuintes).
Na política então nem se fala: o desrespeito com a cidadania é total. Com a reforma da Previdência o cidadão está sujeito a morrer antes de se aposentar. Sem falar que com a terceirização vem a precarização do trabalho. Sem garantias no emprego e ameaçado de nunca se encontrar com o legítimo e aguardado direito que todos temos de nos aposentar - o sentimento é de um cidadão abandonado pelo Estado.
Com a crescente ausência do Estado, a crise social se agrava. Se atualmente a insegurança só cresce e ameaça a cidadania, em parte também é responsabilidade do Estado. Escrevo esse comentário do Uruguai, onde acabo de passar por uma experiência bem desagradável de violência urbana. Em Montevidéu, na última quarta-feira, ao me dirigir de uma reunião para outra, numa via de grande movimentação fui assaltado por um motoqueiro de forma bem violenta. Passado o susto, novamente aflora a indiferença (ou o descaso) com o cidadão. A polícia levou 30 minutos para chegar no local. Na delegacia para registrar o BO, a certeza de que nada ia acontecer. No Consulado, a informação que outros brasileiros já tinham sido assaltados na mesma sinaleira, a confirmação de minha suspeita: os ladrões vão continuar agindo. A impressão que me deu é que participei de uma farsa. Uma mera formalidade do Estado, se dizendo presente mas sem a menor vontade de resolver o problema do cidadão.
Segunda retorno para o Brasil. E a vida segue.
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