segunda-feira, setembro 25, 2017

"Há algo de podre no reino da Dinamarca"

A frase é de William Shakespeare, atribuída ao Príncipe Hamlet, na peça que leva o seu nome. Filho do Rei da Dinamarca, Hamlet era um  jovem indignado com a corrupção e as traições no reinado. A obra, reconhecida até hoje, foi escrita por Shakespeare de 1599 a 1602. O tempo passou, a Dinamarca ainda é um reinado, só que agora nada de podre se vê no reino da Dinamarca.

Quem chega na Dinamarca, está entrando no topo do ranking das Nações Unidas dos países mais felizes do mundo. Quem conhece Copenhague, nunca mais a esquece. Capital mundial do design, com pouco mais de um milhão de habitantes, em cada esquina uma surpresa.  Funcionalidade, organização e estética estão presentes em todos os cantos. Mas não se anime muito, a Dinamarca é um país caro. Faz um bom tempo que estive lá visitando a VESTAS, a primeira fabricante de turbinas eólicas do mundo. E até hoje referência no mercado pela qualidade de suas máquinas. Mas não foi por isso que estou escrevendo sobre "Há algo de podre no reino da Dinamarca".

A motivação está numa viagem ao tempo, que ao escrever me obrigo a fazer: o que deveria ser o reino da Dinamarca quando Shakespeare escreveu a peça? Um caos. Praticamente coincide a peça,  com os 100 anos de história do descobrimento do Brasil. De lá para cá, tivemos um pouco de tudo: fomos colônia de Portugal, Império e República. Embora uma retrospectiva histórica identifique avanços importantes em algumas áreas,  não servimos de exemplo no ranking das Nações Unidas. Não somos um reino, mas tem muita coisa de podre ameaçando nosso futuro. O que está a caminho, com a apuração do que aconteceu com as delações e delatores, junto com as eleições que se aproximam, vai expor as instituições envolvidas. 

O maior desafio que vejo está na sociedade. Se ela não mudar, quem vai propor as mudanças: aqueles que nos representam? Vão querer sair da sua área de conforto? Vide o que está acontecendo com a reforma politica? Um Congresso caro e inoperante, com boa parte dos deputados e senadores envolvidos com ilícitos,  segue  legislando conforme seus interesses. Mudar para quê? Só se vierem a ser pressionados. Vide o caso do Temer, só permanece no cargo pelo silêncio das ruas. Ou alguém duvida disso.  

Não me considero um conhecedor da Dinamarca e muito menos do povo dinamarquês, só sei que para se viver numa nação feliz a sociedade tem que estar consciente do seu papel. Se libertar de preconceitos, valorizar a cultura, a arte e a história. Ser mais participativa e solidária. Se importar com o meio ambiente, com o destino do lixo, com a criação de parques e ciclovias. Que a aposentadoria seja digna e os idosos respeitados. Que haja segurança nas ruas. E que todos tenham acesso a educação e a saúde de qualidade. 

Se a Dinamarca, que ainda é um reino, passou por guerras, tem seis meses de um inverno rigoroso, poucos recursos naturais, chegou ao topo como nação, oferecendo a todos as condições acima, se deve a sociedade que evoluiu ao longo tempo. Quanto a nós, pouco evoluímos como sociedade. Assistimos "algo de muito podre acontecer na República do Brasil", passivamente. Insisto: mesmo sabendo que irá comprometer  o nosso futuro como nação.

PS- A Dinamarca é um país comprometido com a sustentabilidade. Boa parte da energia vem dos seus milhares de parques eólicos. No Brasil, custamos a investir na energia dos ventos e mais ainda na do sol. É o caminho natural: temos bons ventos e ótima insolação. Então o que nos falta? Até sei, mas perguntem lá na Dinamarca que é melhor. 

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