sexta-feira, dezembro 15, 2017

As reformas que faltam são outras

Em relação às reformas há duas coisas acontecendo: tem gente se enganando e tem gente querendo nos enganar. Como toda a enganação, passa o tempo e acaba não dando certo. E as razões são muitas. Em relação à reforma da previdência, por exemplo, a campanha publicitária foi fatal. As pessoas se deram conta de que "os que trabalham pouco e ganham muito", mesmo com a reforma, vão continuar ganhando muito. E os que apoiam a reforma escondem isso. Como o exemplo vem de cima, a credibilidade das propostas não se sustenta.

Outra enganação vem das contas que não fecham e dos investimentos que não chegam. A ausência ou a fraqueza do estado também é um inibidor do desenvolvimento. Basta observar os números para perceber que os investimentos públicos minguaram. E, ao contrário do que o governo prega,  não foram substituídos por privados.

Quem trata com propriedade esse tema é a professora da USP, Laura Carvalho(*). Segundo ela, os dados que constam no Relatório de Acompanhamento Fiscal mostram que os investimentos públicos já caíram ao patamar de 2004, em termos reais. Os números revelam ainda que esses investimentos chegaram a representar 4% do PIB em 2010. Atualmente é de 2%.

Para ela, "o governo Dilma apostou em políticas de desonerações tributárias como forma de estímulo aos investimentos privados".  Laura não consegue entender como um governo associado à esquerda tenha apostado suas fichas em uma política tão ampla de incentivo a grandes corporações.

Trouxe lucratividade para as empresas, mas não trouxe investimento. Como as reformas tomaram conta da politica,  não há interesse para o debate econômico. Até porque os números aprovados ontem no Orçamento não deixam o menor espaço para crescermos. O difícil momento que atravessamos exige um planejamento responsável que identifique e atenda nossas prioridades. Fora isso é mais uma enganação.

No fundo, as reformas que faltam são outras. Envolvem os três Poderes da República: judiciário, legislativo e executivo. Uma mudança necessária, mas difícil de ser implementada. Requer desprendimento e compromisso com a nação. Para virar pauta no Congresso, só com o envolvimento da sociedade. Quem sabe se aproveite um ano eleitoral para expor todas nossas mazelas: sejam elas de natureza econômica, politica e social ou por afrontarem a cidadania e o meio ambiente.

PS.: O Natal está chegando, não custa sonhar!

(*) Laura Carvalho, 33, é professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC).

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