domingo, março 14, 2021

Amazônia: preservada ou destruída

" Em 1967, o presidente Castelo Branco, em recepção no Palácio das Laranjeiras, concedeu 3,5 milhões de hectares ao empresário americano Daniel Ludwig para dar início ao Projeto Jari na divisa do Pará com o Amapá. Enquanto durou e escondeu suas atividades ilegais, ali funcionou a maior companhia de extração de madeira e produção de celulose do mundo e a mais extensa propriedade do planeta pertencente a uma só pessoa." (Alvaro Costa e Silva, 13/3)

Se você desconhecia o relato acima, siga lendo abaixo o meu blog. A Amazônia continua exposta a negócios obscuros. 

Na semana em que num único dia morreram mais de 2300 pessoas do covid 19, se consolida um sentimento internacional sobre a responsabilidade do presidente  Bolsonaro pela mortandade de quase 300 mil brasileiros. Um macabro retrato do país. (*) 

Quando comento sobre a preservação da Amazônia, escrevo sobre a vida. Quando alerto sobre a destruição da floresta, falo sobre a morte. No caso da Amazônia como do COVID 19, morte e vida são consequências das atitudes do próprio governo.  Se ainda perdura alguma dúvida sobre isso, volte a reunião ministerial de 22/4/2020. 

Naquele dia o recado foi dado pelo ministro Salles, "que passe a boiada". Pela expressão que fez, só Nelson Teich, o atônito ministro da saúde, se surpreendeu com a desfaçatez de Salles. A sociedade precisa entender que existem duas florestas em disputa. A Amazônia S/A, do Bolsonaro e do Salles; e a Amazônia que todos queremos - preservada e sustentável. A disputa tá colocada e os interesses são inconciliáveis.  Não existe meia preservação, meio garimpo ou meio desmatamento. As máquinas quando entram na floresta, é para destruir. (**)

Infelizmente, a imensa maioria dos brasileiros não conhece a Amazônia. O que, em parte, ajuda a explicar a dificuldade da luta pela  preservação da floresta. Um recente artigo que recebi de pessoas que conhecem bem a região, confirma minha percepção.

Na Amazônia legal existem 211 sistemas isolados de suprimento de energia elétrica. No Acre,  Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima. A carga total próxima de 500 MW, é atendida basicamente por termoelétricas a diesel. O custo do diesel subsidiado e a poluição que causa, são passivos econômicos e ambientais pagos por todos nós. Se a sociedade soubesse já teria exigido uma resposta mais sustentável para o problema. 

Na metade do ano passado conversei bastante com Alexandre Hanklain e Ciro Campos, dois dos autores do artigo: "Um leilão para limpar a matriz elétrica da Amazônia". Atualmente o atendimento de energia elétrica às comunidades isoladas, é precário e na base do diesel. O custo anual, 8 bilhões de reais. E 3,5 milhões de toneladas/ano de CO², vão para a atmosfera. Como está, não pode continuar. Roraima, o único estado isolado do sistema interligado nacional, até pouco tempo recebia energia da Venezuela. Uma situação de total dependência energética, que poucos conhecem. (***)

O que o artigo propõe é justamente que se busque através de um leilão de fontes renováveis, limpar a matriz elétrica da Amazônia. A pergunta que deixo é se alguém pode ser contra isso? A resposta está no título do comentário, que Amazonas se quer: a preservada ou a destruída!

(*) Não foi por acaso que o ex-presidente LULA, na entrevista do dia 10, deu uma atenção especial para o descaso do atual governo com a pandemia. Não foi por acaso a repercussão  que sua mensagem teve; aqui dentro e lá fora.

(**) Nelson Teich, médico, chegou no Ministério da Saúde preocupado com a vida da pessoas. Na primeira reunião ministerial que participou, visivelmente constrangido, se espantou com as palavras de Salles. Logo depois deixou o governo. No dia 15 de maio, foi substituído por um general. Na época o Brasil contabilizava 15 mil mortos. Agora, sobre o comando do general Pazuello, são quase 300 mil.  Repetindo: 300 mil mortos!

(***) Alexandre Hanklain, é coordenador do Fórum de Energias Renováveis de Roraima. Ciro Campos, é pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA). Os 8 bilhões de reais que se paga por ano com diesel, é rateado por todos os consumidores de energia elétrica do Brasil. O instrumento é a CCC, Conta de Consumo de Combustível.

PS - Na década de 80 coordenei o projeto da Eletrobras que objetivava levantar e equacionar os sistemas isolados, no recém criado Estado do Mato Grosso do Sul. Com 8 bilhões de reais/ano, dá para fazer uma revolução na matriz elétrica da Amazônia. Para preservar a floresta é preciso vontade política. O governo tem obrigação de incentivar os projetos sustentáveis, são eles que geram emprego e renda local.  

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