Prezada senhora, li com atenção seu artigo "Mea-culpa" do dia 2, na Folha de SP. Diante seu desabafo de rara coragem, tomei a liberdade de registrar a introdução do seu texto: "Cena do crime. Olhei para os dois lados, dei um dane-se e apertei. Primeiro o 1, depois o 7, formando o terrível 17. Em seguida, o tiro derradeiro: a tecla verde de confirma. Pronto, estava consumado o ato político mais estúpido que eu poderia ter cometido na vida. Perdoem-me, porque eu ainda não consegui me perdoar".
Cara Becky Korich, não a conheço, mas não há nada a perdoar ante à grandeza de se expor publicamente. Quem sou eu para julgar alguém com o seu destemor. O que me passa na cabeça nesse momento, é a vontade de amenizar sua dor. (*)
Se serve de consolo, seu caso é de milhões de brasileiros que também apertaram o 17. E em silêncio morrem de vergonha pelo que fizeram. Bolsonaro teve 46% dos votos válidos no primeiro turno e 55% no segundo. Só que em dois anos de governo, virou mico. Segundo as últimas pesquisas, já perdeu metade dos seus eleitores. Com a CPI da Covid instalada, vai desabar.
Bolsonaro escondeu das pessoas, quem ele realmente é: um capitão afastado do Exército por mau comportamento, aposentado com 33 de anos de idade. Um candidato que fugiu dos debates, para não mostrar seu despreparo para o cargo que se elegeu. Graças a senhora é que pude sentir melhor o seu dilema e de tantos outros. Seu voto mal dado, que tanto lhe incomoda, se deve, em parte, ao pouco que se conhece da política e dos políticos.
Quando deputado, em 2003, acolhi a ideia de uma prestação de conta semanal do mandato. Algo que partidos e políticos nunca estiveram dispostos a fazer: a comunicação permanente e direta com os eleitores. Não aquela em véspera de eleição, mas uma prestação pública do que fazem com o voto que receberam.
A transparência num cargo eletivo deveria ser obrigatória. As "rachadinhas", fake news, verbas de gabinete, emendas e atitudes antidemocráticas; de pronto seriam do conhecimento de todos. O eleitor estaria mais informado na hora de votar.
Portanto, senhora Becky, de forma respeitosa, agradeço o seu desabafo que motivou meu comentário. Com sua permissão, encerro o texto da mesma forma que a senhora encerrou o seu: "Sou hoje coautora de crimes dolosos, por ter sido autora de um crime culposo em 2018". Um resumo perfeito da agonia de muitos, que está em plena sintonia com o que penso: voto tem consequência.
(*) Becky Korich, é advogada, dramaturga, cronista e blogueira.
PS - Quinta-feira, dia 15, tomei a minha segunda dose da vacina contra o covid. A média de mortes no Brasil, a maior do mundo, foi duas vezes a da Índia e dos EUA juntas. A população dos dois países, é oito vezes maior do que a nossa. Vacina já!
2 comentários:
Prazer em conhecê-lo! Muito bom seu texto.
Prazer em conhecê-lo! Muito bom seu texto.
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