domingo, setembro 12, 2021

Dias de tensão, Bolsonaro blefou mas não levou (7 a 12/9)

Dia 7, tanto em Brasília como em São Paulo, o capitão Jair estava em êxtase. Tudo tinha saído como planejado. Seus fanáticos seguidores eram mais cegos do que ele mesmo imaginava. Incapazes de pensar, mergulharam de cabeça numa confusão coletiva sem pauta e nem projeto futuro. O país se encontrou nesse dia com parte da nossa sociedade tomada por um forte sentimento de desequilíbrio emocional e racional. Para eles não importa a motivação e as consequências das manifestações. Um grupo pronto para seguir as orientações do líder, sem qualquer espaço para uma reflexão mais apurada. (*)

De tanta informação que chega, dar uma pausa de cinco dias para pensar sobre o ocorrido é o mínimo que se pode fazer. Afinal, depois da euforia vem a cobrança. O capitão Jair foi enquadrado pelos presidentes da Câmara e do Senado; e,  literalmente, triturado pelos presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Desnorteado e desmoralizado, Bolsonaro teve que acionar Michel Temer para orientá-lo.

Por ordem de Bolsonaro, o avião presidencial foi a São Paulo para buscar Temer. Para um registro histórico,  nada como uma self. Temer, que não se faz de rogado, aparece sentado no avião vazio com aquele inconfundível sorriso no canto da boca. Para os bolsonaristas mais exaltados, o mito virou um traidor. Sei lá se traidor é o termo certo. Para quem conhece Bolsonaro há vinte anos, nenhuma surpresa, continua o inconsequente de sempre. E reafirmo, não enganou ninguém!(**)

De todos os protagonistas desses cinco dias tensos e trágicos, um especial precisa ser citado: Zé Trovão. Entender o que se passa com o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, talvez explique um pouco o bolsonarismo.  Zé Trovão, o líder que impulsionou a paralisação dos caminhoneiros, era um total desconhecido. Agora as notícias que chegam é que se trata de um ativista de ultradireita, com fortes relações com líderes do agronegócio.

 Depois de suas repetidas bravatas de  parar o Brasil, Zé Trovão ameaçou de morte ministros do Supremo. Com a prisão decretada, o líder da paralisação por um dia se escafedeu. Comentam que foi visto no México e nas redes sociais pede apoio para o "chefe", que finge que não é com ele. Ao que parece,  seus dias de vitrine estão contados.

O jogo do poder não é para amador. Nem todos conseguem perceber que estão sendo usados. Até hoje não sei o que se passou com os caminhoneiros para seguir a voz do Trovão. Pelo comunicado oficial da Presidência da República, do dia 10, Temer e Bolsonaro deram um jeito e tudo acabou ficando por conta do descontrolado Zé Trovão. No domingo, 12, estão prevista novas manifestações pelo FORA BOLSONARO. (***)  

(*) Não gosto de fazer comparações dos bolsonaristas mais fiéis com berrantes e boiadas (berrantes ficam por conta do Sérgio Reis e boiada é coisa do Ricardo Salles). Pelo que leio de estudiosos se trata de um grupo majoritariamente de meia idade, brancos, vestidos de verde amarelo, unidos por uma mistura de conservadorismo, atraso,  truculência e fanatismo. 

(**) Bolsonaro é exatamente "isso daí". Pode ser que agora seus aliados de ocasião, que não estão nas ruas e nem querem se associar a ele, comecem a se movimentar pelo impeachment. Acostumados com o jogo do poder, sabem que a 3ª via só vai crescer com a saída de Bolsonaro. 

(***) No verão de 2015 fui até Santa Vitória do Palmar, extremo sul do país,  para a inauguração do parque eólico  Campos Neutrais, da Eletrosul. No caminho, produtores de leite interrompiam a estrada. Como era cedo, desci para conversar. Fiquei sabendo que eles se juntaram ao movimento dos caminhoneiros, que pedia reajuste na tabela do frete. Tentei explicar que eles estavam no movimento errado, já que  pagavam o frete para levar o leite até a cooperativa  em São Lourenço. Na volta passei devagar no local e eles não estavam mais lá. No ano seguinte Dilma foi afastada. As paralisações dos caminhoneiros foram decisivas para tirar Dilma do poder e levar Temer à presidência. Em 2018 as mesmas forças se unem para eleger Bolsonaro. Agora a história se repete. Só não se sabe ainda o papel de Temer nesse inesperado reencontro... 

PS - 12 de setembro é um dia especial para mim. Até me dei de presente uma cadeira mais confortável para continuar escrevendo o blog e sonhar com o Brasil que queremos. Quem também nasceu dia 12 foi outro sonhador, Juscelino Kubitschek. Um visionário de bem com a vida. Morreu em 1976, no auge da sua popularidade a caminho de mais um mandato. Sobre a sua  morte, até hoje pairam suspeitas. 

  

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