A CPI da Covid resgatou uma expressão antiga, que o tempo tinha se encarregado de levar embora, o charlatão. Uma expressão muito usada na minha infância no interior do Rio Grande do Sul. A definição é "curandeiro que diz possuir remédios milagrosos". Na Praça Tamandaré em Rio Grande, espaço sempre lembrado da minha infância, era onde os curandeiros se apresentavam vendendo curas. Quando a polícia aparecia era um corre corre. Afinal a prática do charlatanismo é considerada crime. A detenção vai de seis meses a 2 anos, Art. 283 (Fonte: Wikipédia).
Dos bons tempos de criança a um cidadão que acredita na ciência, nas vacinas e que até a dose de reforço já tomou; muita coisa mudou. As lembranças que carrego são muitas e quando escrevo é para não perdê-las pelo caminho. A curiosidade que sempre tive, o rigor com a ética e o interesse pelas coisas públicas que mantenho, fazem parte do meu DNA Foi exatamente assim que me relacionei com a CPI da Covid: curioso, atento e indignado.
Depois de uma bem sucedida e uma grande frustração como relator de CPI's, sempre tive um pé atrás em relação ao seu desfecho. Os interesses são tantos que formar e manter uma maioria contra o poder executivo de um governo, seja ele qual for, é uma engenharia política de difícil controle. Até o final é puro estresse.
No caso da CPI da Covid que ora se encerra, todas as minhas apreensões caíram por terra. A aprovação do relatório final, é a vitória da esperança. Tudo que fizeram para desacreditar a CPI só serviu para ela se consolidar perante à opinião pública. O governo foi inábil do início ao fim e em nenhum momento conseguiu desarticular a maioria. A tropa de choque indicada por Bolsonaro, não foi capaz de evitar a sua maior derrota. Nos faz lembrar a célebre frase de uma criança "o rei está nu", no conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, resgatada recentemente pelo Correio Braziliense. (outubro/2021)
O Consórcio de Imprensa, diariamente atualizava os números da tragédia. O lado emocional e humano da CPI também foi determinante na relação com a sociedade. Na balança entre a vida e a morte, as vacinas ficaram conectadas com a vida e as mortes ficaram por conta do descaso do governo. Com o tempo ficou claro para as pessoas que não se tratava de mais uma CPI como tantas outras. Com habilidade a cúpula da CPI soube identificar e traçar o rumo das investigações. Sem perder o foco no que era realmente relevante, a CPI também contou com a participação de mulheres senadoras que honraram os seus mandatos. Mesmo sem direito ao voto, deram o recado com intervenções fortes e bem colocadas. (*)
Sobre o Relatório Final, mais uma vez os governistas se deram mal. As provas além de consistentes foram acolhidas com indignação por toda a sociedade. Só mesmo o mais radical dos bolsonaristas não se vacinou. Até seu filho 01 foi pego furando a fila da vacinação em Brasília. Quanto a primeira dama optou por se vacinar em Nova York. Que pobreza de comportamento, se merecem. O relatório da CPI já está na rua, quebrou a cultura do "jeitinho" e não titubeou ao identificar os envolvidos e os crimes cometidos. A cobrança pelos desdobramentos passa a ser tarefa da sociedade organizada, sofrida pelas mortes que vivenciou - mas fortalecida pelo resultado da CPI. (**)
(*) A tropa de choque governista, fez de tudo para que governadores e prefeitos viessem a ser investigados pela CPI. Uma manobra com claro objetivo de desviar a atenção pulverizando ao extremo as informações coletadas - o que na prática inviabilizaria a CPI.
(**) O Consórcio de Veículos da Imprensa, criado em junho de 2020, foi determinante na apuração e na divulgação do que estava acontecendo com a maior tragédia humana ocorrida no Brasil. O conhecimento conscientiza e liberta. Se a informação fosse "chapa branca", ainda estaríamos discutindo qual a vacina a ser comprada e quantos dólares por dose os intermediários iam levar.
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