quinta-feira, outubro 28, 2021

A CPI da Covid 19 e o "charlatanismo"

A CPI da Covid  resgatou uma expressão antiga, que o tempo tinha se encarregado de levar embora, o charlatão.  Uma expressão muito usada na minha infância no interior do Rio Grande do Sul.  A definição é "curandeiro que diz possuir remédios milagrosos". Na Praça Tamandaré em Rio Grande, espaço sempre lembrado da minha infância, era onde os curandeiros se apresentavam vendendo curas. Quando a polícia  aparecia era um corre corre. Afinal a prática do charlatanismo é considerada crime. A detenção vai de seis meses a 2 anos,  Art. 283 (Fonte: Wikipédia).

Dos bons tempos de criança a um cidadão que acredita na ciência, nas vacinas e que até a dose de reforço já tomou;  muita coisa mudou. As lembranças que carrego são muitas e quando escrevo é para não perdê-las pelo caminho. A curiosidade que sempre tive, o rigor com a ética  e o interesse pelas coisas públicas  que mantenho, fazem parte do meu DNA Foi exatamente assim que me relacionei com a  CPI da Covid: curioso, atento e indignado.

Depois de uma bem sucedida e uma grande frustração como relator de CPI's, sempre tive um pé atrás em relação ao seu desfecho. Os interesses são tantos que formar e manter uma maioria contra o poder executivo de um governo, seja ele qual for, é uma engenharia política de difícil controle.  Até o final é puro estresse. 

No caso da CPI da Covid que ora se encerra, todas as minhas apreensões caíram por terra. A aprovação do relatório final, é a vitória da esperança. Tudo que fizeram para desacreditar a CPI só serviu para ela se consolidar perante à opinião pública. O governo foi inábil do início ao fim e em nenhum momento conseguiu desarticular a maioria. A tropa de choque indicada por Bolsonaro, não foi capaz de evitar a sua maior derrota. Nos faz lembrar a célebre frase de uma criança "o rei está nu", no conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, resgatada recentemente pelo Correio Braziliense. (outubro/2021) 

O Consórcio de Imprensa, diariamente atualizava os números da tragédia. O lado emocional e humano da CPI também foi determinante na relação com a sociedade. Na balança entre a vida e a morte, as vacinas ficaram conectadas com a vida e as mortes ficaram por conta do descaso do governo.  Com o tempo ficou claro para as pessoas que não se tratava de mais uma CPI como tantas outras. Com habilidade a cúpula da CPI soube identificar e traçar o rumo das investigações. Sem perder o foco no que era realmente relevante, a  CPI também contou com a participação de mulheres senadoras que honraram os seus mandatos. Mesmo sem direito ao voto, deram o recado com intervenções fortes e bem colocadas. (*)

Sobre o Relatório Final, mais uma vez os governistas se deram mal. As provas além de consistentes foram acolhidas com indignação por toda a sociedade. Só mesmo o mais radical dos bolsonaristas não se vacinou. Até seu filho 01 foi pego furando a fila da vacinação em Brasília. Quanto a primeira dama optou por se vacinar em Nova York. Que pobreza de comportamento, se merecem. O relatório da CPI já está na rua, quebrou a cultura do "jeitinho" e não titubeou ao identificar os envolvidos e os crimes cometidos. A cobrança pelos desdobramentos passa a ser tarefa da sociedade organizada, sofrida pelas mortes que vivenciou - mas fortalecida pelo resultado da CPI. (**)

(*) A tropa de choque governista, fez de tudo para que governadores e prefeitos viessem a ser investigados pela CPI. Uma manobra com claro objetivo de desviar a atenção  pulverizando ao extremo as informações coletadas - o que na prática inviabilizaria a CPI. 

(**) O Consórcio de Veículos da Imprensa, criado em junho de 2020, foi determinante na apuração e na divulgação do que estava acontecendo com a maior tragédia humana ocorrida no Brasil. O conhecimento conscientiza e liberta. Se a informação fosse "chapa branca", ainda estaríamos discutindo qual a vacina a ser comprada e quantos dólares por dose os intermediários iam levar.


PS - Quis o destino que praças fizessem parte da minha vida. O meu endereço em Rio Grande, era de uma  praça,  Praça Dr. Pio/121. A uma quadra dali, à direita, fica a Praça Xavier Ferreira. Saindo do prédio, à esquerda, também a uma quadra de distância, a Praça Tamandaré. De todas era a que eu mais frequentava. Inaugurada no século XIX, é até hoje a maior praça do interior do Rio Grande do Sul. Com 44 mil metros quadrados, 140 metros de largura por 316 de comprimento, é uma referência na cidade e local de rara beleza, com lagos e pontes.


Ao fundo o centro da cidade de Rio Grande. A cidade foi fundada 1737, considerada a primeira cidade construída pelos portugueses no Rio Grande do Sul. Na foto acima, que recebi da minha prima Tania, aparece à direita, no alto, uma pequena mancha verde da Praça Tamandaré. 

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