segunda-feira, outubro 25, 2021

Guedes, balança mas não cai: estresse fiscal X risco eleitoral

Bolsonaro sabe que para chegar no segundo turno, só parando com a crescente debandada dos seus eleitores. Como militar que foi, afastado do Exército por maus serviços, o capitão Jair é um sobrevivente. Basta observar com atenção sua trajetória política para constatar isso. Joga duro todo o tempo e quando o cerco se fecha, suas palavras, promessas e compromissos ficam ao sabor do vento.   

Os casos são muitos e visíveis, basta procurar. Fica por conta de vocês, já que o do tema do comentário é outro. No último dia 19, terça-feira, o ministro Guedes por pouco não dançou. Desgastado do jeito que está, tentou evitar que a pauta econômica sucumbisse aos interesses eleitorais. Guedes, que aparentemente está mais preocupado com a cotação do dólar do que qualquer outra coisa, ficou à mercê da ala política do governo que está de olho no seu cargo.

Honestamente não sei o que Guedes pensa da vida. Com os seus dólares super valorizados no exterior, fica aqui se submetendo ao humor do chefe. A rejeição de Bolsonaro só cresce e com o Relatório da CPI da Covid, à ser votado nessa semana, vai piorar ainda  mais. As eleições são daqui a um ano e quem se libertou do "mito" não vai voltar para ele. Bolsonaro está sem opção: ou amplia a Bolsa Família e aumenta o benefício emergencial, ou não chega no segundo turno. Com a inflação e o dólar em alta, sem emprego e sem comida, não há fake news que resolva. Não sou eu que estou dizendo é só andar na rua.

Na última quarta-feira, num programa de rádio na Bahia,  Lula foi indagado sobre o que faria diante do gravíssimo quadro social que enfrentamos. De pronto respondeu: a Bolsa Família precisa ser ampliada para proteger os que estão pior do que estavam. Quanto ao valor do Auxílio Emergencial, precisa voltar aos R$ 600,00, como o PT já defendia no início da pandemia. As declarações de Lula chegam em boa hora. Já estão repercutindo e Bolsonaro sabe do impacto eleitoral que elas provocam.  

A dificuldade maior é que a equipe econômica do governo vive num outro país. Não entende que o combate à pobreza, no grau avançado que estamos, só se dá através de políticas públicas. Nos mil dias de governo, o Salário Mínimo virou pó e não atende o que é básico. Só para exemplificar, o botijão de gás custa 10% do SM. Sem essa percepção Guedes e seus "Golden Boys" põem em risco a qualidade dos nossos programas sociais. (*)

No Congresso, por onde Bolsonaro perambulou por 28 anos, a saída está nos precatórios: impondo restrições ao pagamento, como se o calote fosse uma solução. Só que lá ninguém gosta de botar o dedo na ferida. Por conveniência se calam diante do Orçamento do Relator, uma iniciativa mal explicada de 20 bilhões de reais. Uma espécie de pacto do silêncio se criou no Congresso, num negócio para lá de obscuro. Até me faz lembrar o excelente filme "O silêncio dos inocentes", de 1991. (**) 

(*) O Prêmio Nobel de Economia/2021, felizmente, surpreendeu o mundo e foi concedido para David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens "por suas contribuições metodológicas para a análise das relações causais". O trio de pesquisadores das universidades americanas de Berkeley, MIT e Stanford, focaram seus estudos "no mercado de trabalho e a política de desenvolvimento social". Enquanto isso no Brasil sem Nobel, na contramão de novas visões e pensamentos econômicos,  somente 9,5% das negociações salariais dos trabalhadores resultaram em ganho real. Ou seja, tiveram reajustes superiores à inflação. (Fonte: Fipe)  

 (**) Quando o cobertor é curto os pés ficam de fora. Para tentar a reeleição Bolsonaro está numa saia justa. Enfrentar o Centrão nem pensar, o presidente da Câmara, Arthur Lira, tem mais de uma centena de pedidos de impeachment na gaveta. Romper com o teto de gastos é se indispor com o mercado. Só nessa semana a bolsa desabou,  o dólar está nas nuvens e a equipe econômica se esfacelou. Adiar o pagamento dos precatórios, é dar o calote. São brasileiros que durante anos aguardam o pagamento de uma dívida já vencida, julgada, e que não cabe recurso. Mesmo assim o capitão Jair, que não queria a reeleição, optou pelo estresse fiscal do que correr o risco eleitoral.

PS - Lágrimas de crocodilo não resolvem. Estender o Auxílio Emergencial de R$ 400,00 para 750 mil caminhoneiros autônomos, também não. Com os juros, inflação, desemprego, combustíveis, energia e dólar em alta; não há equipe econômica que resista. Longe de ser um alarmista escrevo apenas sobre fatos e informações da semana que passou. Se preparem, a  semana que se inicia vai ser ainda mais turbulenta. O Relatório da CPI deve ser votado e aprovado.  

  

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