Às vezes acordo pensando no que leva a sociedade a não se envolver com as questões ambientais. Sei que se trata de um tema que ela é sensível, no entanto fica distante. Agora mesmo escrevi sobre o risco de uma ocupação numa área de aterro e o número de acessos me surpreendeu. São vínculos que ficam e o tempo não apaga. Se saí de vereador em Florianópolis à deputado federal por Santa Catarina, muito se deve aos meus mandatos estarem identificados com a preservação ambiental, a criação de parques e a valorização das áreas públicas da cidade.
Uma eleição presidencial se aproxima e o governo que mais ameaçou e desprezou o meio ambiente, não é bombardeado diariamente pela opinião pública, Se dá mais atenção "as rachadinhas" do que ao garimpo ilegal. Um camarão entalado dá mais ibope do que florestas sendo destruídas. Os partidos políticos, infelizmente, só crescem em número, estão mais voltados para as eleições do que sintonizados com os anseios da sociedade. O pouco que sobra na luta ambiental, são organizações não governamentais e movimentos sociais identificados em função de uma causa ou de uma tragédia.
Sempre que posso seleciono o que os outros comentam, não por acomodação, mas pelo conforto de saber que a gente não tá só. O artigo de Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, me fez sentir vivo e contemplado. Como é longo, selecionei os dois parágrafos iniciais e os dois últimos. O texto na íntegra foi publicado na FSP no dia 24. (*)
OS DOIS PRIMEIROS PARÁGRAFOS
"Tão modesto como competente, o ministro Joaquim Leite, Meio Ambiente, se esqueceu de mencionar em seu artigo nessa Folha (17/1) o principal resultado do "ambientalismo de resultados" praticado em sua gestão: em três anos o governo Bolsonaro deixou que 56 mil km² de florestas na Amazônia e no Cerrado virassem fumaça. É quase meia Inglaterra. Bolsonaro foi o primeiro presidente a ter três altas sucessivas na devastação da Amazônia num mesmo mandato. Um resultado e tanto! (se quiserem algo mais perto para comparar, são mais de 100 Ilhas de Santa Catarina inteiramente devastadas)
Também passou longe da retrospectiva de Leite o fato de que o Brasil foi o único país do G20 a aumentar as emissões de gases-estufa em 2020, quando a pandemia fez a poluição despencar. E que o governo foi processado por ter adotado uma meta climática que reduzia a ambição, violando o Acordo de Paris. E que o número de multas do Ibama no ano passado foi o menor em duas décadas, fato comemorado pelo presidente. O declínio da fiscalização é política pública".
OS DOIS ÚLTIMOS PARÁGRAFOS
"Sobre a participação do Brasil na COP26, é difícil saber de que Brasil Leite está falando. Decerto não o que foi para a Conferência do Clima sabendo que o desmatamento da Amazônia havia atingido a sua pior marca desde de 2006, mas optou por esconder os dados do mundo. Leite podia ter contado que o tratado Mercosul-União Europeia está engavetado desde 2019 por conta da política antiambiental do Brasil. Ou ainda que o Fundo Amazônia, iniciativa pioneira em defesa da floresta, continua paralisado, com mais de R$ 3 bilhões em caixa, enquanto a motoserra canta.
Em toda essa realidade paralela, o mais incrível é tentar saber a quem Leite ainda acha que engana. A "passagem da boiada" já levou à suspensão de acordos, a boicotes e, neste ano, a uma sinalização da BlackRock de que só voltará a investir no Brasil quando o governo mudar. Após três anos, o único resultado que o mundo espera do atual governo é uma derrota nas urnas em outubro próximo". (**)
(*) Marcio Astrini é o secretário executivo do Observatório do Clima, rede por demais conhecida que reúne 70 organizações da sociedade civil.
(**) BlackRock é uma empresa considerada a maior gestora de ativos do mundo. Sua sede não é em Havana e nem em Caracas - é em Nova York.
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