quarta-feira, janeiro 18, 2023

O Brasil é outro. Ainda bem


Se estar distante tirou o testemunho histórico do momento de caos que passamos no domingo, dia 8, a cabeça literalmente fria pelo inverno do Wisconsin permitiu olhar o ocorrido com mais atenção. Ao contrário de alguns comentários que respeito, o Brasil saiu dessa para melhor. Sem dúvida o que queriam os vândalos, criminosos, terroristas e golpistas (capa da Veja), só podia ser o pior. O risco maior da barbárie se espalhar pelo país, se limitou a Brasília e só ocorreu graças ao compadrio das forças de segurança que deveriam ter cumprido com suas obrigações.

O capitão Jair e seus seguidores, militares, políticos, empresários, pastores e a massa de manobra que controlam deram um tiro no pé. Como alguém comentou nesses dias de tensão, não se acaba com a democracia quebrando vidraças. As cenas de brutalidade e as marcas da violência, fez os insanos se isolarem ainda mais. O líder se escafedeu, o Exército se recolheu e a democracia se fortaleceu. 

Ainda bem que a sociedade estarrecida com o que viu, se sentiu ameaçada e reagiu. A vitória nas urnas passou a ser também a vitória nas ruas. Sem uma liderança definida corre-se o risco de um oportunista ultra conservador se apropriar dessa parcela desorientada e adoentada com intuito de criar dificuldades ao governo que ora se inicia.  As redes sociais continuam ativas  e as fake News também.

Para entender esse novo momento é preciso um olhar mais apurado para os três Poderes da República. De todos o que saiu mais fragilizado foi o Poder Legislativo. Uma parcela considerável de seus membros, torcia para que o golpe ocorresse. Eles estão lá, são deputados e senadores sem grandes compromissos partidários e ideológicos. Em razão das dezenas de partidos que representam e da velha cultura de fazer política do toma lá dá cá; a qualquer momento podem promover uma instabilidade.

Quanto ao Poder Judiciário, que teve um peso considerável no golpe que levou o afastamento de Dilma, a prisão de Lula e na eleição de Jair, o quadro é outro. De todos os Poderes da República foi o mais desrespeitado pelo Poder Executivo e o mais ameaçado pelas redes sociais. A participação tanto do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral foi decisiva para que tivéssemos uma eleição transparente, participativa e segura. Quanto a cerimônia de posse, um exemplo para o mundo. 

Em relação ao Poder Executivo, que é sempre a expectativa de qualquer democracia, os desafios são enormes. No entanto, nada que não possa ser superado. Afinal, vamos ocupar o lugar do pior governo que já tivemos. Algumas situações que já se apresentaram precisam ser de pronto enfrentadas. Não se pode, por exemplo, minimizar a militarização do governo passado. Ainda mais sabendo que qualquer desatenção com esse desvio de conduta pode ameaçar nossa jovem democracia. (*)

Outro ponto importante é a necessidade de se dialogar com o mundo. Ao contrário do governo anterior precisamos nos relacionar com os vizinhos, de estar aberto para ajudar e ser ajudado. Na política interna, priorizar as questões do meio ambiente e olhar o mundo como protagonista dos grandes temas globais. Felizmente o presidente Lula se sente a vontade e está legitimado pelo seu passado à fazer esse papel. Dar transparência sempre as ações do governo e ter uma comunicação ágil com a sociedade. 

Por último, o assunto dos últimos dias: o que fazer com os que ameaçaram a democracia. Primeiro, nada que seja fora da lei. Segundo: culpa comprovada pena aplicada. Terceiro, não deixar ninguém de fora. Quarto, anistia nem pensar!

(*) Democracia não combina com governos militarizados. Os militares pela própria formação que recebem, só pensam em encontrar inimigos do Estado. Sabendo disso governos enfraquecidos se articulam com eles para se manterem no poder. O resultado dessa fusão nunca deu certo... 

       

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