A polêmica indicação do presidente dos EUA para Nobel da Paz está dando o que falar. Também, não é para menos. Obama ainda pouco fez por merecer tamanha honraria. Até ele se supreendeu. E se saiu bem ao declarar não se sentir merecedor do prêmio e ao mesmo tempo, anunciar que irá doar o valor recebido (mais de um milhão de dólares). Minhas divergências em relação à escolha são compartilhadas por muitos analistas. Afinal os EUA estão em guerra no Iraque e no Afeganistão, como ainda mantêm a base de Guantánamo, em Cuba. Pode até se alegar, em defesa da indicação de Obama, que são heranças de governos passados. Tudo bem, mas ainda estão presentes. Como também está presente na cultura norte-americana um facínio pelo poder das armas e, por consequência, por conflitos armados. Não é por acaso que a indústria das armas nos EUA é líder mundial em produção e na comercialização.
Para mim, o Prêmio Nobel da Paz, criado pelo químico sueco, Alfred Nobel, em 1896, deveria ser dado a quem não usa a guerra como forma de poder, não incentiva a indústria bélica, não alimenta conflitos e busca a paz através de atos e gestos. Mahatma Ghandi, por exemplo, nunca ganhou o Prêmio Nobel, no entanto entrou para a história como um dos mais fascinantes personagens de todos os tempos. Preso dezenas de vezes, impôs ao poderoso Império Britânico uma humilhante derrota. Sem armas e sem violência, apenas através da "satyagraha", a desobidiência civil organizada e pacífica, levou milhares de seguidores a se engajarem à causa da liberdade.
Entendo que os tempos são outros. Em 1930, Ghandi começou sua caminhada pelo "sal da liberdade". No início, eram 78 seguidores. Durante 24 dias percorreu 320 quilômetros com o cajado na mão. Ao chegar no oceano, até ele se surpreendeu: eram milhares de seguidores. Em 30 de janeiro de 1948, Ghandi foi assassinado. Suas últimas palavras, "Hey,Rama", em louvor a Deus, resumem um de seus mais sagrados princípios:"Estou pronto para morrer por um causa. Nunca, para matar por ela".
Agora, nos tempos de Obama, pregar que "a desobidiência civil é um direito intrínsico do cidadão. Não ouse renunciar.....", como dizia Ghandi, há oitenta anos atrás, tem pouco impacto. Logo vamos lembrar que a Constituição nos assegura esse direito. No entanto, o sentimento libertário da Índia do início do século passado não se consegue mais reproduzir. A Obama, cabe a responsabilidade de tornar a premiação precoce num perene compromiso com a paz. Uma tarefa difícil para o presidente de uma nação que nunca se mostrou conciliatória aos países com contencioso.
São outros tempos. Esperamos que os ensinamentos de Ghandi, cheguem ao mundo globalizado. E que sua humildade e sabedoria, contagiem e sirvam de inspiração aos atuais líderes mundiais. E, para todos, deixo como reflexão um dos seus inúmeros pensamentos, que melhor se identifica com o Prêmio Nobel da Paz:"Denomino-me nacionalista, mas meu nacionalismo é amplo como o universo. Inclui em sua vastidão todas as nações da Terra. Meu nacionalismo inclui o bem-estar do mundo inteiro. Não desejo que a minha Índia se erga sob as cinzas de outras nações. Não quero que a Índia explore um único ser humano. Quero que a Índia seja forte para que possa contagiar outras nações com sua força."
P.S - depois da indicação, Obama conseguiu apoio do Congresso para enviar mais tropas para o Afeganistão. Aliás, a ONU acaba de admitir fraude nas eleições de agosto no Afeganistão, e que irregularidades aconteceram em todo o país. No blog(dia 22/9), comento sobre as declarações do general Stanley Crystie, Comandante Chefe da forças armadas no Afeganistão, sobre os rumos da guerra. Segundo o general, já tinha informado ao presidente Obama sobre o fracasso da operação militar, que se extende por seis longos anos.
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