segunda-feira, novembro 09, 2009

Muro de Berlim: vinte anos depois

O tempo passa. Dia 9 de novembro de 1989, Günter Schabowski, um dirigente da RDA (República Democrática Alemã), anunciava que os cidadãos do país comunista poderiam atravessar livremente as fronteiras. Horas depois, caía o Muro de Berlim. Por trás desse anúncio, historiadores buscam as razões de uma das decisões mais impactantes do século passado.

O próprio Schabowski, em entrevista ao historiador e cientista político brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, confirma que só foi possível tomar a decisão de abrir as fronteiras, após a queda do primeiro-secretário, Erich Honecker, em outubro. Fico imaginando as pressões internas e externas que antecederam esses dias. No seu livro “A Reunificação da Alemanha – do ideal socialista ao socialismo real”, Moniz Bandeira, mostra que a economia ia de mal a pior. A indústria local não respondia mais, as dívidas como Ocidente, era tecnicamente impagável e 250 mil alemães tinham deixado em poucos dias o país pelas fronteiras da Tchecoslováquia e Polônia. Os ventos por mudança sopravam forte. E a economia, nessas horas, é determinante.

Passados vinte anos, a sonhada reunificação da Alemanha, não é um mar de rosas. Quem é da antiga Alemanha Ocidental, reclama do alto custo da reunificação. Já os outros se sentem marginalizados, tanto em termos de salário como de oportunidades. O saudosismo é forte e a nostalgia do leste vira moda. Um fenômeno que vem ganhando força nos últimos cinco anos, a “Ostalgia” (mistura de “Ost, leste, com nostalgia), é a busca por referências que se perderam da noite para o dia com a reunificação, como nos conta Luciana Coelho e James Cimino, enviados da Folha a Berlim.

Berlim e o seu “muro” foram o foco das atenções mundiais. A grande mídia estava ali para anunciar o fim de um regime. No entanto, distante dali, duas cidades Leipzig e Dresden, tinham muito a comemorar. Com movimentos crescentes de rua elas lideraram os protestos na época. A impossibilidade de viajar e as restrições econômicas aumentavam de forma exponencial a insatisfação popular. Em Leipzig, dia 9 de outubro 70 mil pessoas foram às ruas desta cidade de 1400 anos exigir a abertura. Na véspera, 40 mil tinham feito o mesmo em Dresden, ao sul.

Se a transição política é lenta e custosa, o mesmo ocorre na economia. Na excelente cobertura dos enviados da Folha, podemos acompanhar o desafio que é diminuir o desequilíbrio que ainda hoje persiste dentro do país. Quando as barreiras caíram, o que se encontrou no Leste foi um parque industrial anacrônico. O que se pensava sobre o baixo custo da mão de obra como uma vantagem, também sumiu diante da paridade cambial.

Na época havia uma preocupação em relação aos jovens deixarem a região em busca de oportunidades no outro lado. Estima-se que dois milhões deles tenham deixado a região. Para evitar essa situação foi preciso injetar volume considerável de recursos, aproximando o PIB per capita das duas regiões. Mesmo assim a diferença é considerável, e isso é um fator de decepção na região. O custo de vida é igual, mas os salários, na média, são 30% mais baixos. O desemprego no Leste chega 12%, enquanto no Oeste, é de 6%. O PIB numa é cinco vezes maior do que na outra.

Como se pode ver, dificuldades não faltam dentro do processo de unificação da Alemanha. Ela ainda está dividida no bolso e na mente. Cabe a eles resolverem. Afinal foram eles que conviveram, durante 28 anos, com um muro de 4 metros de altura e 127 km de cerca elétrica, separando-os!

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