quarta-feira, abril 26, 2017

O verdadeiro DNA da Odebrecht (parte III)

Na década de oitenta a Eletrosul estava construindo a maior hidroelétrica da região sul: Ilha Grande, no Paraná. A obra foi abandonada pelo governo por motivos devidamente comprovados: aditivos fraudados, superfaturamento e outros desvios de conduta. Na época como presidente da APROSUL me empenhei em apurar e denunciar os fatos, desmontando a máfia que desviava os recursos públicos destinados ao empreendimento.(*)

Além dos companheiros que sempre estiveram juntos, poucos sabem da luta que travamos para vencer os interesses escusos dos poderosos de então. Guardadas as devidas proporções, uma mostra fiel de como acontecem as relações entre o público e o privado há décadas no Brasil.

Talvez em razão desse episódio antigo, mas ainda muito vivo nas minhas lembranças, é que não  me sai da cabeça o que a Odebrecht fez. A atividade criminosa da maior empreiteira do Brasil, se ramificou por todos os cantos do país e atravessou fronteiras. A impressão que fica é que queriam formar uma grande multinacional especializada em fraudar contratos. Agora vem o novo presidente da Odebrecht e pede publicamente desculpas aos seus empregados. Com todo o respeito, pelo mal que fizeram o pedido deveria ter sido feito à Nação. 

Os delatores de hoje são os executivos de ontem da Odebrecht. Foram eles que repassavam para os engenheiros e o restante da equipe, as orientações contaminadas pelos acertos que faziam com governantes e políticos. Sempre souberam do que estavam fazendo e das consequências dessa ação criminosa. Agora, como delatores que são, posar de bom moço não dá.(**)

(*) O embate que a Associação dos Profissionais da Eletrosul - APROSUL travou contra a corrupção na empresa, só teve fim em função da nossa determinação e da farta documentação que tínhamos. A diretoria da Eletrosul foi afastada pelo então ministro das Minas e Energia, Aureliano Chaves (1985 a 1988). 

(**) Toda a vez que assisto o relato dos delatores da Odebrecht, na sua maioria engenheiros, economistas, administradores, a impressão que passam é de pessoas preparadas que optaram pelo caminho errado. Para crescer na empresa se especializaram em corromper pessoas.  E o que é pior, aparentemente, não demonstram qualquer arrependimento.    

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