segunda-feira, agosto 14, 2017

Trump e a Venezuela

Se tem alguma coisa que "blogueiros" não podem reclamar - é falta de assunto.  Para quem escreve, o difícil está em escolher sobre o que escrever. No início da semana, Rodrigo Janot era o assunto: Temer e Gilmar Mendes, detonaram com o procurador. No meio da semana foi a inexplicável visita noturna de Raquel Dodge ao Jaburu. A explicação dada, só piorou: ninguém acreditou. Já no fim de semana, o caos nas contas públicas e a reforma politica dividiram o espaço nos noticiários. Nos dois casos, aflorou o nosso conhecido sentimento "me engana que eu gosto".

A introdução serve para mostrar a diversidade de temas importantes que temos pela frente. No entanto, se olharmos com atenção, todos eles relacionados a um país sem rumo. O que me faz pensar que eles ainda vão estar na pauta por muito tempo. Diante dessa constatação, a escolha sobre o comentário da semana recaiu sobre as recentes ameaças de Trump a Venezuela. Um país latino, que faz fronteira com o  Brasil, a Venezuela passa por uma grave crise que precisa ser superada.

Enquanto Trump e Kim Jong-um esbravejavam e trocavam ameaças entre si, nós latinos assistíamos tudo como um jogo de palavras de lideranças despreparadas. Quando na sexta-feira, Trump de forma intempestiva e inconsequente incluiu a Venezuela na sua sinistra lista de "possível opção militar", a perplexidade foi geral. As declarações do presidente americano não podem ficar sem resposta. 

A Venezuela, não é uma ameaça a paz mundial. É um país latino, que sempre teve fortes relações com os Estados Unidos. Boa parte do  petróleo venezuelano abastece o mercado americano. E, historicamente, a elite da Venezuela é quem mais se identifica com os Estados Unidos. Portanto, por trás das ameaças, algo mais pode estar em jogo.  

Não precisa ser um cientista político para reconhecer as fragilidades de Maduro. Seu despreparo é visível, e as consequências estão nas ruas. A eleição  da Assembleia Constituinte, no último dia 30, só serviu para agravar a crise. Os confrontos são crescentes e o grau de enfrentamento também.

No entanto, nada justifica uma intervenção militar dos EUA na Venezuela (*).


Hugo Chávez se elegeu em 1998. Se reelegeu em 2000 e 2006 (**). Morreu em 2013. Maduro, seu vice, assumiu a presidência da Venezuela num momento muito difícil. Uma sociedade dividida e um país endividado. Se não bastasse, o preço do petróleo no mercado internacional despencou. Sem a receita do seu  principal produto de exportação, a economia da Venezuela desabou (***).

Agora a expectativa é que as ameaças de parte a parte, não prosperem. A crise da Venezuela precisa - obrigatoriamente - ser tratada no campo da diplomacia. Os países membros da Organização dos Estados Americanos - OEA, já se posicionaram: "negociação plena, com respeito às regras do direito internacional e do princípio de não intervenção". E que as bravatas de Trump, não passem de meras bravatas. Uma ação militar na América Latina, nos faz relembrar o passado. Um tempo  com tanques nas ruas e irmãos se enfrentando. Um tempo de muito sofrimento, sem liberdade, sem futuro. Um passado que ninguém mais quer.

(*) Trump parece que não aprende. Conflitos internos, são resolvidos internamente. A ação militar externa só agrava o quadro. No sábado, em Charlottesville, nos EUA, uma violenta manifestação da direita ultra radical foi manchete em todo o mundo.  Um confronto com mortos e feridos, que trouxe à tona problemas políticos e sociais mal resolvidos nos EUA. Guardadas as devidas proporções, o que se viu em Charlottesville foram cenas bem parecidas com o que temos visto nas ruas de Caracas. 

(**) Em 2006, como deputado federal, fui indicado para ser observador internacional da eleição que reelegeu Chávez. Uma experiência única, que me permitiu circular por Caracas num dia de muita tensão. Na época a Venezuela já estava dividida e a disputa acirrada. 

(***) A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Com o preço do barril na casa dos 150 dólares, não faltava dinheiro. Agora com o barril do petróleo valendo 1/3, não há o que fazer. Falta tudo. Até dólar para pagar suas importações.  

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