sexta-feira, março 09, 2018

O mundo é das mulheres



Em Florianópolis, como no resto do mundo, as mulheres foram às ruas. Motivos, não faltam. Ontem a noite, tomaram conta do centro da cidade. Eram milhares de mulheres: solidárias, conscientes e determinadas. Como não pude estar lá, em razão de outros compromissos, fui atrás de um relato interessante  de uma dessas bravas mulheres para ficar registrado no blog. (foto, de Andressa Braun)

Liedi Bernucci, 59, é a primeira representante feminina, em 124 anos, a assumir a diretoria da Escola Politécnica da USP, uma das faculdades de engenharia mais importante do país. Que coincidência ter encontrado essa história. Em 1972, quando me formei em engenharia, as mulheres não chegavam a 10% da turma. Uma delas, Ana Maria Mattos, chegou a ser vice reitora da UFSC.

Já Liedi, entrevistada pela Folha de São Paulo, relembra que quando era estudante não tinha para quem reclamar do machismo e dos abusos. "Eram todos homens. A mulher se calava, engolia em seco. Se reagisse, era chamada de histérica". Para chegar no topo da carreira como professora, Liedi, recorda "que teve que ouvir piada idiota a vida inteira". Aprendeu com sua família a não se calar diante do preconceito. Reconhece os avanços e nas suas palestras, sempre que pode, destaca  as mudanças em curso no mundo das mulheres.

Em 1977, quando entrou na USP, menos de 5% dos alunos de graduação eram mulheres. Hoje elas correspondem a 20%. "Sei que parece pouco, mas não é. Tenho muito orgulho desse número", afirma Liedi. Tudo é um processo e como engenheira, Liedi acredita nos números. Na sua época, os machistas de plantão chamavam as mulheres de burra. Foram os números que protegeram Liedi dessas ameaças. Suas notas, sempre foram as mais altas da turma. Como então chama-la de burra. Liedi fez o seu mestrado e doutorado no exterior, na Suíça. (*)

(*) Liedi Bernucci,  vem de uma família humilde do interior de São Paulo. Filha de um pedreiro e de uma dona de casa. Além da atuação acadêmica, trabalha como consultora em grandes projetos de estradas, aeroportos e ferrovias. Considerada uma referência na sua área de trabalho, Liedi é um bom exemplo para as mulheres que lutam por seus direitos.


PS- Minha sogra, Esther Coutinho Schmidt, com 91 anos, foi uma das primeiras mulheres do Rio Grande do Sul a se formar em Engenharia Química.  Naquela época,  há 70 anos atrás, fico imaginando como uma jovem do interior decidia ir para a capital estudar química. Foram essas mulheres, talvez até sem perceber, que num passado distante tiveram a ousadia de estudar e de buscar conhecimento, que abriram o caminho da busca por igualdade  de oportunidades entre homens e mulheres.   

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