terça-feira, maio 15, 2018

As meias verdades sobre o dólar

A recente e desesperadora crise cambial que passa a Argentina, ascendeu a luz para toda a América Latina. Embora a alta do dólar impacte de forma diferenciada em cada país, dependendo do grau de participação da moeda na economia local, a ameaça é real(*). O caso mais emblemático, com certeza é a Argentina. A dolorização da economia é muito forte. Os argentinos adoram ter dólar: é mais uma questão cultural que econômica. Basta observar o número de casas de câmbio em Buenos Aires e o movimento que elas tem. Como são milhares pessoas trocando peso por dólar todos os dias, o governo não aguenta e o dólar dispara. Além disso, na macro economia, boa parte da dívida pública que representa 50% do PIB - é em dólar. Diante da grave situação, não restou outra alternativa ao governo de Maurício Macri do que  bater na porta do FMI.

E quanto a nós, já que não se trata  de futebol, não temos nada para festejar. Além da Argentina ser o nosso terceiro parceiro comercial, os efeitos de lá já chagaram aqui. Ontem o dólar fechou em 3,62 reais. O maior valor dos últimos anos. Como é ano de eleição, os efeitos da crise vizinha sobre a nossa economia vão virar meias verdades. Já li que a desvalorização do real perante o dólar, vai contribuir para aumentar o fluxo de turistas que nos visitam. Para mim, uma meia verdade. Nem sempre lugares baratos, em razão de uma moeda desvalorizada, atraem turistas.  Prova disso é que entre as  cidades mais visitadas do mundo estão Londres, Paris e Nova York. Todas muito caras, só que historicamente atraem milhões de turistas por ano. Portanto, façam suas contas antes de viajar. Se não for esse o seu caso, pense com seus botões: pode ser bom para um país a moeda perder muito valor para o dólar?  Não será essa mais uma meia verdade sobre o dólar? Até quando o dólar continuará sendo o senhor absoluto das relações comerciais no mundo? Será que não há outra forma do comércio exterior se relacionar? E o tal de "bitcoin", como moeda global, no futuro poderá substituir o dólar? Sei lá. O tempo é que pode dizer...

(*) Na América Latina nós temos os dois extremos. A economia protegida das flutuações do dólar, como é o caso do Equador que optou pelo dólar americano como moeda oficial do país; e a economia esfacelada da Venezuela, onde a moeda virou pó. 

PS -  No Brasil, todos os grandes doleiros foram presos ou fugiram. Sem dólar disponível no mercado paralelo, a moeda se valorizou. É a velha lei da oferta e da procura. Quem sabe a recente alta do dólar, em parte, não  está  associada a atividade criminosa. Aqui, tudo é possível. Até porque, só sabemos "meias verdades". 



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