sexta-feira, agosto 16, 2019

Argentina: depois das prévias o vale tudo

Quem diria, depois de perder as prévias na Argentina, o presidente Mauricio Macri se soltou. Não sei qual vai ser a reação dos argentinos diante do "vale tudo" por ele anunciado. Com intuito de alavancar votos junto à população mais sofrida, Macri não se fez de rogado: três meses de congelamento nos combustíveis, aumento do salário e pagamento dos impostos a perder de vista. Se isso não faz parte do populismo que condenava, que seu governo ultraliberal peça desculpas pelo agravamento da pobreza na Argentina. 

O governo que ora se encerra não deu a devida atenção à população mais carente. Embora essa atenção sempre tenha feito parte da história política da Argentina, Macri não demonstrou a preocupação do Estado com aqueles que mais dependiam dele. A resposta veio agora nas prévias.

Parece até ironia do destino. Macri, que nada tem a ver com Evita Péron (*), na hora do desespero, sem qualquer constrangimento, se agarra justamente no populismo que nunca acreditou. Fico imaginando o que deve estar passando na cabeça do eleitor argentino com o pacote de bondades de Macri. Uma mudança de comportamento que só a vontade de se reeleger consegue explicar. Evita costumava dizer aos que nela não acreditavam algo mais ou menos assim: "Se ainda querem duvidar das minhas intenções, é só olhar pra dentro de mim". Agora, 60 anos depois, nem isso Macri  consegue dizer.

(*) Sobre Evita - Nasceu em Los Toldos, em 1919. Filha de uma família pobre, se tornou a primeira dama da Argentina depois de ter casado, em 1945, com Juan Domingo Péron. Adoentada, pedia aos seus seguidores para não chorarem por ela. Morreu em Buenos Aires, em 1952. Seu velório durou 14 dias em razão das intermináveis filas para o último adeus.


PS-  Pressionado por todos os lados, Macri cancelou o congelamento por 90 dias do preço dos combustíveis. A incerteza sobre o futuro da Argentina fez com que o peso perdesse ainda mais seu valor perante o dólar. E a inflação disparou.    



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