quarta-feira, novembro 13, 2019

Libertação e renúncia

                                Foto Domingos Tadeu em janeiro de 2006.

Pode até ser coincidência, no dia seguinte à libertação de Lula, na Bolívia, Evo Morales renúncia. Dois líderes sindicais que governaram seus respectivos países com um olhar para o povo. Lula, o presidente brasileiro com melhor avaliação até hoje, não se aventurou a estender seu mandato por mais tempo. Já Evo, também considerado o melhor presidente da Bolívia, se encaminhava para o seu quarto mandato. Num regime democrático, a alternância no poder faz parte do jogo. Os registros mostram que mandatos longos costumam gerar desgaste.

Independente dos destinos de cada um, a caminhada que fizeram e o legado que deixaram já fazem parte da recente história política da América Latina. No entanto, os episódios do último final de semana, tanto na Bolívia como aqui, mostram a tênue fronteira que separa a barbárie da civilidade.

A libertação de Lula veio no bojo de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, sem estar relacionada diretamente ao ex-presidente. Mesmo assim mereceu de uma advogada do Rio Grande do Sul, Claudia Teixeira Gomes, uma declaração criminosa: "Que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF". Uma mensagem de "ódio cego e visceral", como se pronunciou publicamente o decano do Tribunal, ministro Celso de Mello.

Na vizinha Bolívia os confrontos se arrastam também movidos por sentimentos de ódio. A casa de Evo e de seus familiares foram invadidas por manifestantes tomados pela violência. Uma prefeita do interior ligada ao presidente teve  seus cabelos cortados, sua pele pintada e agredida por uma multidão de insanos. O próprio avião oficial do governo do México que veio buscar Evo para o seu exílio, precisou buscar rotas alternativas para abastecer.

Não se deve minimizar o que está acontecendo. E muito menos se omitir. A sociedade precisa entender o que representa tanta agressividade e suas consequências. Não há futuro sem respeito às pessoas e às instituições. Apostar no ódio e na violência, só leva a um caminho: a barbárie.

PS - Na Bolívia, uma senadora, Jeanine Añez, se autoproclamou presidenta do país. Em Brasília, a embaixada da Venezuela foi invadida por simpatizantes de um outro autoproclamado presidente, Juan Guaidó. Se a moda pega, os conflitos se acirram e  a barbárie se estabelece.  


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