terça-feira, setembro 08, 2020

As cidades do futuro, parte III


Ricardo Wolffenbüttel / Secom

Na última quinta-feira, dia 3, participei de uma live para falar sobre Florianópolis e seu futuro. Conduzida por Gilberto Del' Pozzo, pré-candidato a vereador, jornalista e excelente comunicador, a conversa fluiu naturalmente. De forma resumida, cada cidade tem seus potenciais e suas debilidades. Florianópolis, por exemplo, tem na sua mobilidade urbana um entrave ao seu futuro. Por outro lado, suas belezas naturais atraem cada vez mais as pessoas para cá. A cidade acaba crescendo acima do que está preparada.

Para organizar o imenso universo das cidades que existem, de uma forma bem simplista, dá para dividir em três grandes grupos: as megas cidades; as que caminham nessa direção; e aquelas em que o crescimento não irá impactar tão cedo na vida das pessoas. O primeiro grupo formado por cidades saturadas é o que mais preocupa. A maioria delas sem solução espacial e urbana: precisam a todo o momento se reinventarem. Florianópolis ainda não está nesse grupo, mas caminha nessa direção.

Basta um olhar mais apurado para perceber que as dificuldades para o crescimento sustentável já estão presentes na cidade há muito tempo. E o pior, se agravam a cada ano que passa. O crescimento de Florianópolis não está sendo acompanhando pela infraestrutura necessária. O que é grave, porque põe em dúvida sua condição de ser sustentável no futuro. O alerta que faço se deve a proximidade de uma eleição municipal, quando os candidatos a prefeito e a vereador buscam o seu voto. A qualificação dos poderes executivo e legislativo é de nossa responsabilidade. (*) 

Durante a live deu para tratar de vários temas: transporte marítimo, uso compartilhado de carros, vias exclusivas para o transporte coletivo, valorização de áreas públicas, abastecimento de água, uma maior integração com os municípios da região metropolitana. A pergunta que ficou no ar foi sobre a Floripa do futuro: vai parar no tempo; crescer de forma desordenada sob a ótica da especulação imobiliária; vai se tornar um polo da inovação tecnológica; ou será um importante destino turístico????

As interrogações se devem porque são várias perguntas sem resposta. Na mesma semana da live Tatiana Prazeres escrevia na Folha de FS. Paulo sobre Shenzhen, o Vale do Silício chinês. Um relato de como uma vila de pescadores no sul da China se tornou um polo mundial de tecnologia. Em 40 anos a antiga vila virou uma cidade do porte de São Paulo, com 12 milhões de habitantes.

Profunda conhecedora da China e de Florianópolis, Tatiana me fez viajar no tempo e imaginar Florianópolis com 12 milhões de habitantes. O que me veio à mente foi assustador. Uma cidade verticalizada, tomada por viadutos, túneis e pontes por todos os lados. Ingleses, por exemplo, com mais de um milhão de habitantes, estava inaugurando sua terceira estação de dessalinização da água do mar. A beleza da Ilha fogosa e faceira cantada em verso pelo poeta Zininho, estava coberta pelo concreto. 

Claro que estamos falando de dois mundos bem distintos, o "manezês" e o chinês. Nada aqui vai acontecer com a velocidade de lá. Basta ver a restauração da Ponte Hercílio Luz, foram mais de duas décadas (foto acima). Mesmo assim precisamos saber o que fazer agora. Para projetar o futuro, as pessoas precisam dizer qual a cidade que querem. O debate é urgente, o momento é agora.

(*) Já fui vereador por duas vezes. Mais que dobrei meus votos de uma eleição para a outra. Sou um observador e me preocupo com a cidade que tão bem me acolheu. Só voto em quem defende uma Floripa acolhedora, sustentável, que valorize a qualidade de vida, enfrente as desigualdades e preserve a natureza. 

PS - Tatiana Prazeres, nasceu em Florianópolis. Doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Atualmente se encontra na Universidade de Negócios em Pequim. Integra o seleto grupo de colunistas da Folha de S. Paulo.

Um comentário:

Unknown disse...

Pertinente o assunto, em especial neste período eleitoral próximo. Precisamos planejar e fazer acontecer as cidades que queremos, sustentável e inclusiva. Excelente reflexão!