quinta-feira, outubro 29, 2020

Bolsonaro e a guerra das vacinas

 Em plena pandemia, que já matou milhares de brasileiros, fazer da vacina uma guerra política e se referir a ela com ironia, é patético. A sociedade estarrecida assiste um enfrentamento pelo uso de uma vacina, que sequer existe.

A mediocridade é o fio condutor dessa falsa polêmica. Ela não se sustenta no mundo real, onde o esforço de todos está voltado para encontrar a vacina que nos proteja do covid 19.  

No final de semana recebi do meu vizinho e amigo João Camargo, um antigo exemplar da Revista História Catarina. Publicada em Lages a revista que tive oportunidade de conhecer (nº 43/2012), tem um excelente conteúdo. Entre seus inúmeros artigos, um em particular foi a razão dela ter chegado em minhas mãos.

A história contada por Bruno Schlemper Jr. e Ana Cláudia Dall"Oglio, retrata a chegada da gripe espanhola na cidade de Rio Grande e suas consequências. O relato de "Uma história sobre a Gripe Espanhola no Sul do Brasil 1918-1919"; mostra o sofrimento dos que morreram e a dor dos que ficaram.  

A influenza espanhola alterou completamente a rotina dos habitantes de Rio Grande, no extremo sul do Rio Grande do Sul. Segundo os historiadores, a Rio Grande de 1910 passava por um boom econômico. Obras de grande vulto como os Molhes da Barra, a construção do Porto Novo, a instalação do frigorífico "Swift", atraia  milhares de trabalhadores para a cidade em busca de emprego. Nesse período a população deu um salto, passando dos 50 mil habitantes.

Em 1918 com a gripe espanhola já presente no país, os vapores que vinham do Rio de Janeiro não tiveram permissão para atracar em Santa Catarina. Sem essa condição, seguiam direto para o porto de Rio Grande. Por esse motivo a gripe espanhola chegou em Rio Grande com muita força. O que se viu foi um verdadeiro filme de horror. Rio Grande que contava com dois únicos hospitais, a Santa Casa e a Beneficência Portuguesa, em pouco tempo assistiu 1% da sua população morrer. Uma verdadeira tragédia humana. (*) 

A ciência e a tecnologia avançaram muito nos últimos 100 anos. Sem querer fazer comparações, esse relato serve para alertar o quanto o desconhecimento pode afetar a humanidade. Em pleno século XXI, o covid 19 se alastra e a vacina não chega. As mortes continuam e o vírus está de volta em países por onde já tinha passado. (**)

(*) Segundo a matéria, em Rio Grande a gripe espanhola provocou 540 óbitos.

(**) Ainda bem que temos o SUS,  sem ele as mortes seriam incontáveis. 

PS - Rio Grande é a minha cidade natal. Estou fora há muito tempo. O preciosismo do relato me levou para um passado distante, onde muito pouco se podia fazer.  Já para as próxima gerações a "guerra das vacinas" e as mortes associadas a ela, só o atraso pode explicar. Negar a ciência e politizar o debate; nos afasta do futuro.    

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