Antigo assinante da Folha, tenho uma forte relação com o jornal. O curioso sobre este importante e secular veículo, é que a esquerda não gosta da Folha e a direita também não. Já pensei sobre isso muitas vezes, talvez seja esse o motivo do nosso longo relacionamento. O que posso dizer é que não sou ingênuo a ponto de achar que uma empresa de comunicação desse porte, não coloque seus interesses em primeiro lugar. Fica o registro.
O que me agrada nesta linha editorial que perdura por décadas, é a necessidade de ler com atenção o que é publicado. Muitas vezes está nas entrelinhas o recado que a Folha quer passar. Para quem mantêm um blog, sempre é bom saber interpretar o que se lê.
Para quem não teve a oportunidade de acessar a Folha 100, o texto de Tatiana Prazeres é o típico caso de uma leitura que nos faz falta. De certa forma responde a necessidade que vejo de manter esta antiga relação com o jornal. Sua abordagem precisa da urgência que temos de entender a China, não se encontra em outro jornal. (*)
Ao meu ver a Folha ao cobrir a China, está de olho no futuro. Tatiana destaca a importância, a necessidade e a urgência de se ter correspondentes por lá. Que naveguem entre culturas diferentes, que falem mandarim, que capturem as nuances do país. Segundo ela, nos falta informação e análise. E, conclui: "É impossível entender minimamente o mundo hoje sem conhecer um pouco da China".
O que sai de notícia da China, mesmo que filtradas, são basicamente da revista britânica The Economist e dos jornais The New York Times (EUA) e Financial Times (Reino Unido). Tatiana no seu artigo pergunta se o leitor sabe dizer o nome de cinco províncias chinesas, ou se alguém já ouviu falar em Chongqing, a maior cidade do mundo.
Como pensar num relacionamento respeitoso e frutífero, com o grau de desconhecimento que temos. Nosso esforço de bom relacionamento com o mundo, em dois anos se perdeu. A política externa do Brasil, é um fracasso que se confirmou agora com as vacinas que não chegam. O ambiente hostil criado por Bolsonaro, não vai nos levar à lugar algum. Isolados estamos, isolados ficamos.
(*) Tatiana Prazeres, é conselheira da OMC, Senior fellow da Universidade de Negócios Internacionais e Economia, em Pequim. Escreve na Folha e é de Florianópolis.
PS - Recente pesquisa feita entre os leitores da Folha, 80% se declararam a favor do impeachment de Bolsonaro. O resultado fala por si. Como Trump, Bolsonaro também ameaça fechar a mídia que contraria seu projeto de poder.
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