Dois temas diretamente ligados ao preço da energia elétrica tomaram conta do noticiário: a crise hídrica e a MP dos "jabutis". A meu juízo, a possibilidade de um racionamento é real. Como também acho que o preço da energia vai disparar. Pela gravidade do assunto, não me parece que a solução venha de um debate informal no "puxadinho".
Em governos anteriores um problema dessa natureza era tratado na Eletrobras, por técnicos da área. A eles e a mais ninguém cabia estudar a expansão do mercado e buscar atendê-lo com as fontes de energia mais em conta. Sempre as discussões estavam baseadas nos dados do Plano Decenal, estudo que norteava o setor elétrico. Com acompanhamento e revisões anuais, o documento planejava o setor com 10 anos de antecedência.
Agora, na semana que se discute a MP da Eletrobras, os iluminados de plantão batem cabeça e rezam para que a chuva apareça. Nem a economia estagnada por causa da covid evitou a situação crítica dos reservatórios. O papel da Eletrobras nunca foi de fazer chover nas usinas, mas tinha conhecimento acumulado e compromisso com um planejamento energético sustentável, que protegia os consumidores de preços abusivos e racionamentos intempestivos.
O Plano Decenal estabelecia por ordem de custo, qual a fonte geradora que produzia a energia mais em conta e quando ela deveria entrar no sistema nacional interligado. De tal forma que o custo médio da energia não fosse para as nuvens como agora está acontecendo. A ligação das usinas térmicas a plena carga, que estão anunciando, vai impactar no bolso do consumidor e pressionar a inflação. (*)
Para se livrar da responsabilidade, o governo quer atribuir a culpa à mãe natureza. Só que a falta de chuva não responde por tudo. A situação é caótica e ninguém sabe como resolver. Quando a desorganização e as incertezas ameaçam o setor elétrico, o efeito é devastador. Um apagão em ano de eleição é tudo que Bolsonaro não quer.
(*) As duas fontes de energia mais barata que temos, todos sabem: é a eólica e a solar. No momento, são elas que estão alavancando as energias renováveis no mundo: até mesmo em países que não chove. As condições de sol e vento no Brasil são excelentes. Ao contrário do óbvio, os lobbies do carvão e do gás estão agindo em favor dos seus "jabutis" da Câmara e no Senado. É o tema do próximo comentário.
PS- Por muitos anos trabalhei no planejamento da Eletrobras. O que fazíamos na época era buscar tecnicamente as melhores alternativas para atender o consumo crescente de energia elétrica. Já me manifestei diversas no blog sobre a insanidade que é se desfazer da Eletrobras. Sem controle sobre a energia, nenhum país prospera. Só como registro: nos últimos dois anos já compramos energia do Uruguai, da Argentina e da Venezuela. Sem falar que a cota de Itaipu, que é do Paraguai e nós compramos, se encerra em 2023.
Um comentário:
É que dá um governo que desdenha da ciência e que não tem um plano para o país.
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