Começo a semana postando o quarto comentário sobre o problema energético que estamos passando. Conforme prometido seguem algumas preocupações e ideias sobre o que fazer no curto, médio e longo prazo.
CURTO PRAZO (2021/2022) - Só não vai ocorrer o pior, racionamento e apagões, porque a nossa economia vai ter um crescimento pífio. Para combater o risco de ficarmos sem energia, a última sinalização do setor foi o Leilão A 5, de 30 de setembro. De quase 10 GW ofertados, menos de 1 GW foi contratado. Além de ser muito pouco, a energia só vai estar disponível em 2026. O lado bom foi a escolha pelas fontes alternativas: destaque para a energia eólica e solar. Se o governo entendeu ou não o recado, aí é outra história. (*)
MÉDIO PRAZO (2023/2030) - Independente dos resultados eleitorais nos próximos anos dessa década, o setor elétrico vai passar por grandes turbulências. O Acordo de Itaipu se encerra em 2023 e há pela frente muita negociação. As usinas térmicas e os gasodutos anunciados, mais conhecidos como os "jabutis do Centrão", vão se mostrar à luz da realidade ambientalmente e economicamente inviáveis. Para agravar ainda mais a situação, as usinas hidrelétricas, que representam cerca de 70% da matriz elétrica, vão continuar perdendo capacidade de geração em consequência de outras crises hídricas que virão a nos atormentar. Sobre esse período em particular, me impressiona o silêncio do governo. (**)
LONGO PRAZO (2030/2050) - Essa viagem no tempo, me fascina. Tudo pode acontecer. A resposta está na inovação, ciência e tecnologia. O conhecimento vai ser determinante, como aconteceu com as vacinas no combate a Covid A mobilidade vai ser elétrica; e se por um lado combate os gases de efeito estufa, por outro vai exigir mais disponibilidade de energia elétrica. De onde ela virá é o grande desafio da humanidade, que aliás já começou a ser debatido em outros países.. Da terra só pode ser a energia do sol, do vento, dos oceanos, de grandes baterias, do hidrogênio verde e de mini reatores nucleares mais eficientes e seguros. Do cosmo, não me surpreenderia vir um grande facho de energia capaz de atender a nossa demanda global. Um sonho antigo, uma ficção, que acordei antes do final. (***)
(*) Para impulsionar a energia eólica e solar, as únicas que tem preço competitivo e uma resposta rápida; governo, concessionárias, Aneel e as entidades que representam o setor tem que falar a mesma língua. Programas de moradia popular de larga escala, por exemplo, já deveriam incorporar no projeto os telhados solares. Parques eólicos mais antigos, por exemplo, poderiam ser incentivados a substituir os antigos aerogeradores por tecnologias mais eficientes.
(**) No médio prazo, só uma política energética nacional, independente do governo de plantão, para nos tirar da crise. Não dá mais para o governo ser omisso, indiferente, ou amador no tocante ao planejamento energético. Sem uma política pública, transparente e respeitada no tempo, nada vai mudar. Bons exemplos existem e estão aqui do nosso lado, no Uruguai. No primeiro governo da Frente Ampla, de Tabaré Vásquéz. tudo mudou. Sem produzir um barril de petróleo e queimando diesel para produzir energia elétrica, Tabaré, que era médico, conseguiu unir todos os partidos para modificar a matriz energética do país. Em uma década a matriz do Uruguai, percentualmente, se tornou a mais renovável do mundo. Quanto a nós, continuamos dependentes da chuva que não vem. Só essa constatação exigiria do governo uma resposta técnica sobre a gravidade da situação. No mínimo uma sinalização sobre o que vão fazer para substituir o potencial energético das hidrelétricas, que estamos perdendo ano a ano. No passado, já representaram 80% do nosso consumo; neste ano cerca de 70%.
(***) Quanto ao futuro, regredimos muito. Não por falta de inteligência, mas de gestão e de entendimento de prioridade. Bolsonaro autorizou o corte de 600 milhões de reais da verba do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e o ministro Marcos Fontes diz que não sabia. Infelizmente esse descaso com a ciência e o descompromisso com o país, só se agravou no atual governo. As universidades estão abandonadas, os centros de pesquisas com os recursos cortados e os nossos melhores quadros buscam no exterior as condições de trabalho que não encontram aqui. Só não vê quem não quer. Pense nisso!
PS - Segundo o FMI a previsão do crescimento do PIB no Brasil entre 2020 e 2022, é de 2,4%. Bem abaixo da média mundial, estimada em 7,6%. Se compararmos com os demais países emergentes, a situação é pior ainda. Pois esses países, segundo o FMI, vão crescer 9,5%. Um detalhe importante: todos enfrentaram a Covid e saíram da crise melhor do que nós. Em resumo: depois de mil dias de Bolsonaro, o legado que ficou é a cultura do "cercadinho". Um espaço reservado às suas bravatas.
No Dia Mundial da Alimentação, 16/10, a FAO informa que o número de brasileiros passando fome dobrou nos últimos dois anos, de 19 para 38 milhões. Ainda bem que vem crescendo dentro da sociedade o sentimento de um governo sem rumo, incapaz de atender e de entender nossas demandas mais urgentes. .
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