Foto cedida pelo movimento/Susana
Alguém já se perguntou porque FLORIPA está sempre sob ameaça. E não é de hoje. Quando cheguei aqui no final de 1972 já estavam de olho no terreno do Country Club. Área nobre que se valorizava rapidamente com a construção da Beira Mar, em frente à rua São Vicente de Paula, na Agronômica. Depois veio o casarão das irmãs Carvalho e tantas outras histórias. Algumas bizarras, como a promessa não cumprida do Esperidião Amin de tomar banho na Beira Mar Norte, já sinalizavam para a forte especulação imobiliária na região. Sempre teve gente de olho nessa Ilha encantada. Nunca foi por seu valor histórico e cultural, mas por suas belezas naturais e pelo valor do metro quadrado construído.
Com a Beira Mar Norte saturada os interesses das grandes construtoras passou a ser a Via Expressa Sul. É o caminho do aeroporto, perto do centro e tem vista para o mar. Tudo que o setor quer, um novo filão. Portanto, agora Floripa está diante de uma nova e grande ameaça, talvez a maior da história da cidade que a todos encanta. A ocupação de uma imensa área pública, que querem privatizar e lotear para grandes investidores. Primeiro querem fazer algo que não podem e depois às escondidas. Já tentaram fazer o mesmo com o Parque da Luz e com a Ponta do Coral. Não olham para as consequências e muito menos para o futuro da cidade. Se colar colou. Para deter a insanidade urbana que se estabeleceu por aqui, precisamos estar atentos e resistir sempre!
Com mandato ou não, sempre me identifiquei com grupos organizados da sociedade que se expõem por entender que a cidade tem seus limites e que precisam ser respeitados. Ela tem belezas naturais à serem preservadas; não podem fazer dela um balcão de negócios. A prioridade é outra, cuidá-la para o futuro. No entanto, o que fazem seus gestores é que nos preocupa. Em pleno verão, com as pessoas dispersas, se movimentam sorrateiramente para privatizar um aterro. Nem nisso foram criativos, algo até bem parecido com o que Bolsonaro tentou no início do seu governo: fazer de Angra dos Reis uma Cancún. (*)
No nosso caso em particular a cidadania não está parada. Está nas ruas se manifestando e quer ser ouvida. A foto acima é do último movimento que fizeram. Não vamos desistir nunca, a via expressa adensada por prédios inviabiliza a saída da Ilha e impacta diretamente no sistema viário que envolve UFSC, Pantanal, Carvoeira, Saco dos Limões, Trindade, Itacorubi, Santa Mônica, Córrego Grande e Lagoa da Conceição. Mesmo sem saber detalhes do projeto de ocupação, já dá para prever o estrago. Conheço bem a região, moro no Córrego há 40 anos, posso assegurar que metade da cidade será profundamente afetada.
O momento de resistência urbana é agora, antes dos espigões brotarem. Até onde se sabe, técnicos dos órgãos municipais de planejamento urbano e estudos ambientais reclamam que não foram respeitados. O movimento acusa a Prefeitura de conversar com o investidor, como se fosse um plano de negócios. A cidade quer ser ouvida. Resistir sempre, desistir nunca. Vamos em frente dialogando com todos, ganhando apoio e simpatia pela causa. Nada diferente do que já fizemos. Vinte anos atrás o Parque da Luz colheu 10 mil assinaturas. Quem sabe agora não se consegue 100 mil. O desafio está posto.
(*) No Brasil do descaminho, onde um juiz é condenado por seus pares por ser parcial e outro libera a maior apreensão de madeira ilegal tirada Amazônia, a interpretação das leis para atender interesses é uma realidade.
PS - Nos EUA Parque Público é um lugar sagrado. Aqui no Brasil também deveria ser. No governo Bolsonaro virou moda privatizar parques. Nunca engoli essa história. No momento atual onde o descaso é a marca da gestão, sigo as orientações do meu amigo Gastão - quem desconfia é sábio! Em fevereiro de 2019, foi assinado o contrato de concessão de uma das mais importantes áreas públicas do Brasil, o Parque Nacional do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O autor da façanha foi o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A empresa que ganhou a concessão para explorar a unidade de conservação não repassou o dinheiro prometido. O parque em 2019 recebeu 127 mil visitantes. O dinheiro entrou, mas não saiu como teria sido o contratado. Já são milhões em multa por descumprimento contratual. Depois de 25 anos de uso, basta ter má fé e encontrar um juiz bondoso para requerer a área para outros fins.
OBSERVAÇÂO - O texto acima publicado no blog de Olho no Futuro, de 26/1, foi por mim autorizado para reprodução e uso liberado para o movimento em defesa do aterro da Baia Sul.
MAURO PASSOS, ex-vereador de Florianópolis de 1996 a 2002. Foi deputado federal (PT/SC) de 2003 a 2007. Em 2007 criou o Instituto IDEAL, que atualmente preside.
BOA NOTÍCIA - Ontem foi publicado no BRASIL 247, meu primeiro artigo. Uma vez por semana estarei presente num dos mais importantes sites de notícias do país.
Um comentário:
Isso aí, Mauro. Sábado passado, dia 22 de janeiro de 2022, à tarde, fizemos (a turma do Quadrado, do Pomar dos Ciclistas, do Tecendo redes e do Fórum da Cidade, um evento lá,com roda de conversa, manifestação com faixas e cartazes e plantação de mudas de árvores nativas. Há pouco tempo, alguém incendiou o local, vindo a queimar várias que já estavam crescendo bem. O pessoal que mora lá no bairro é forte e persistente. Dizem que vão continuar plantando até ter o desejado parque. O negócio é "Ocupar e Resistir"!!!. Fou muito alto astral o evento, o encontro com pessoas legais, dispostas a luta por um mundo melhor.
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