Lula está anunciando sua candidatura num dia simbólico, Primeiro de Maio. Ao que tudo indica ao seu lado estará Geraldo Alckmin. No momento de profundo desencanto que atravessamos, um pouco de pragmatismo não faz mal a ninguém. Afinal Alckmin é o politico que por mais vezes governou o principal estado do Brasil, São Paulo. Lula sabe o que representa sair de lá com uma boa vantagem sobre seu adversário. Pelo que acompanho, as resistências internas estão sendo superadas. Em 2002, o mesmo tinha acontecido com José de Alencar, um grande empresário mineiro, que foi vice de Lula por oito anos.
No tabuleiro da política, não interessa o sabor do picolé, Alckmin é um vice que amplia. Politica é poder e Lula se sente bem nesse papel. Depois de dois mandatos, saiu do governo com 86% de aprovação, sendo até hoje o presidente melhor avaliado da história do Brasil. Com 76 anos, Lula é uma referência incontestável, poderia percorrer o mundo contando a sua história no meio acadêmico e em grandes fóruns internacionais. Ao optar por entrar nessa disputa, só com a certeza da vitória. Na sua estratégia, São Paulo é chave. Além de ser o maior colégio eleitoral do país, é reduto político por décadas de Alckmin.
Portanto, o foco de Lula é ampliar ao máximo as articulações visando já o primeiro turno. Nada mais legítimo. Na esquerda, nem todos entendem assim e devem ter suas posições respeitadas. Só que quando a desgraça é tamanha, como agora, a unidade entorno de um governo que entenda o povo e traga esperança é fundamental. Governar é saber definir prioridades e ter compromisso com os mais vulneráveis. O empobrecimento de uma nação por um longo período é calamitoso, fatal para o futuro de qualquer país.
A necessidade do acolhimento na política, faz parte do jogo. Com os partidos da direita, o troca-troca é a regra. Já com setores da esquerda, as coisas não se dão assim. As divergências se dão no campo da política e são estimuladas. A opção por Alckmin, cuja aproximação com Lula será muito atacada pelos adversários, ao meu ver passa pela gravidade do momento e uma boa dose de bom senso e compreensão. Segundo Steven Levitsky, derrotar o autoritário Bolsonaro é prioridade dos brasileiros nessa eleição. (*)
Outro fato relevante da semana passada ligado ao tema, que mexeu com as peças do tabuleiro da corrida ao governo de São Paulo, foi o desprendimento de Guilherme Boulos. Ao retirar sua candidatura, Boulos coloca Haddad como franco favorito para governar São Paulo. Como na política nada é por acaso, o entendimento começa a fazer parte do jogo. Quem deve estar incomodado são os que estão sendo sufocados no seu próprio estado.
Em 2018, Bolsonaro teve mais que o dobro dos votos de Haddad em São Paulo (68 a 32%). Com Lula e Alckmin todas as pesquisas mostram que o quadro se reverte. Pesquisa não dá para festejar, é momento. Só que, confirmando a tendência, São Paulo pode dar à Lula os votos que precisa para ganhar no primeiro turno.
Em breve vamos nos encontrar com as urnas. Com certeza, eletrônicas. Não só por serem mais confiáveis mas também por destacar que no Brasil a votação ágil e segura que temos, é que nos dá certeza que a vontade popular vai ser respeitada. Não há clima para nada diferente. O atraso como regra tem limite e já estamos "vacinados"(**).
(*) Steven Levitsky, é autor do livro "Como as democracias morrem". Recentemente declarou que só uma coalizão ampla da oposição para impor uma derrota acachapante a Bolsonaro.
(**) Tanto em relação a vacinação contra a covid como seus ataques a urna eletrônica, Bolsonaro se deu mal: ficou falando para os mesmos. Mais de 80% dos brasileiros estão vacinados e a urna eletrônica virou patrimônio nacional (aprovada por 82% dos eleitores). Xô atraso!
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