Depois que deixei a Câmara Federal em 2007, poucas vezes voltei a Brasília. Só mesmo por uma questão maior envolvendo o Instituto IDEAL. O afastamento se deu naturalmente, sem olhar para trás. Uma página virada. Na semana passada quando vi o ato organizado pelo Caetano Veloso, com outros artistas e os movimentos sociais comprometidos com o meio ambiente, pela primeira vez senti um enorme pesar por não estar lá. Na foto acima, ao contrário do que tem acontecido durante esse governo, na Esplanada não havia nem armas nem tanques. Apenas uma voz e uma mão tocando um violão, sob o olhar atento de milhares de pessoas. Gente de todas as idades reunidas por uma causa legítima e civilizatória - a defesa do meio ambiente. Sem churrasco e cerveja, estavam ali fazendo a sua parte.
Brasília até então era palco do atraso. As manifestações, em sua maioria, contra a democracia, promovida por grupos ligados ao que há de pior na sociedade. Gente armada, carregada de ódio, sem noção do mal que estão fazendo para o país. Boa parte deles agem como seguidores de uma seita que encontra abrigo fácil nas redes sociais alimentadas de mentiras, manipuladas por robôs. Não sabem da missa a metade, mas continuam a serviço da "porteira aberta" para facilitar a entrega do país. (*)
As imagens do encontro do dia 9, liderado por Caetano Veloso, são animadoras. A magnitude do ato é um recado para que respeitem o nosso meio ambiente, florestas, manguezais e rios. As entidades e as pessoas que ali estavam estão comprometidas com um Brasil reflorestado e não desmatado. Cerca de 80% da população está indignada com as ações criminosas na Amazônia. Que boa bandeira para um ano eleitoral.
Se por um lado estamos motivados pela reação, também ficamos receosos da ousadia de um governo que não se importa de misturar narrativas, como os efeitos da guerra da Ucrânia no fornecimento de potássio, com claro intuito de confundir a opinião pública. Num momento de tamanha tensão, também nos preocupa o papel do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Na mesma semana dos protestos e de ter recebido os manifestantes, sem titubear, contra o bom senso que o cargo exige, aprovou em regime de urgência, o projeto de lei 191, de 2020, que permite mineração em terra indígena. Que cara de pau! (**)
(*) A expressão "porteira aberta", que ficou oficializada na reunião de Bolsonaro com seus ministros, em abril de 2020, sinaliza a intenção de vender a Amazônia, que pode ser: para desmatar, minerar ou garimpar. O valor desse patrimônio é incalculável. Por trás estão os oligarcas tupiniquins, que ficarão mais ricos que o grande oligarca russo, amigo de Putin, Roman Abramovich. Que segundo consta, enriqueceu vendendo ativos da antiga União Soviética.
(**) No fundo o que o governo quer é usar o potássio como pretexto para abrir ainda mais a porteira da devastação ambiental na Amazônia. O resto é conversa para boi dormir. Estudos da UFMG mostram que as grandes reservas de potássio estão em Minas Gerais, cerca de 800 milhões de toneladas. O suficiente para abastecer o mercado brasileiro até o fim do século.
PS - Na década de 90, a Fertisul, do Grupo Ipiranga, localizada na minha cidade natal, Rio Grande/RS, fechou suas atividades. Agora produzir fertilizante aqui no Brasil ainda está mais difícil. Nos últimos quatro anos, três outras plantas fecharam. Imaginem então com o potássio sendo extraído no coração da Amazônia, contra tudo e todos. Não sei o que pensam nossos congressistas, se é que pensam. Em breve volto ao assunto. Ainda há tempo. .
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