Quando deputado federal, por dois momentos, fui indicado como observador internacional para eleições presidenciais. Uma vez no Uruguai e outra na Venezuela. Uma experiência inesquecível por se tratar de dois extremos no comportamento dos eleitores. Tanto uruguaios como venezuelanos tem uma relação intensa com o processo eleitoral. As forças políticas e as propostas de governo são bem definidas. Embora sejam visíveis as diferentes relações emocionais durante e pós-eleição, não há a mistura que se tem aqui onde a quantidade de partidos e a falta de ideologia confundem os eleitores.
Em boa hora me veio a lembrança os
desafios e o aprendizado que tive. Nunca imaginei passar por constrangimento
tão grande como agora. No Brasil, a poucos meses de uma eleição
presidencial, estamos vivenciando o pior dos mundos - o da ameaça a democracia. O
presidente em exercício quer que o Exército conte os votos. O alto comando
militar silencia diante tamanho despropósito, com claro intuito de enfraquecer o processo em curso. Nosso sistema eleitoral reconhecido mundialmente
como seguro e eficiente, publicamente vem sendo desmoralizado pelo
próprio presidente. Ao atacar as urnas eletrônicas o capitão se antecipa a um resultado eleitoral que se consolida contra ele.
O cidadão, razão de tudo, dono do seu
voto, aguarda um desfecho para tamanho retrocesso. Atônito assiste a um filme
de terror, com ameaças diárias a democracia. Só que boa parte da
sociedade não aceita a manipulação que vem de cima. Devidamente
"vacinada" não quer participar da farsa. Afinal, votar representa o
único ato de igualdade num país tão desigual. As urnas eletrônicas acabaram com
a possibilidade da fraude, dando ao eleitor da periferia o mesmo peso do da
Faria Lima.
Recentemente o reitor da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles, ao ser agraciado com a medalha
Thomé de Souza, se manifestou pelo aprendizado que é o convívio com o ambiente
universitário, tendo a Universidade como parte produtora de conhecimento e
democracia. Do seu pronunciamento reproduzo uma pequena citação: "Celebramos
neste momento sombrio de desmonte das instituições, de supressão de direitos,
de rudeza no debate, de esquecimento tanto das orientações da ciência na
formulação de políticas públicas quanto das sutilezas da cultura no
estabelecimento de padrões de convívio." Reforçando em outro
momento que só a educação, a ciência e a cultura podem nos afastar de
um brutal retrocesso.
Com a economia em frangalhos e o autoritarismo correndo solto, a sociedade começa a perceber o tamanho dos desencontros e do despreparo presidencial. Sem um plano B para se agarrar, boicotar as eleições virou programa de governo. Nos poucos meses que faltam os ataques às urnas eletrônicas continuarão no noticiário e nas redes sociais. As manifestações do atual presidente do TSE, Edson Fachin, e do que irá assumir, ministro Alexandre de Moraes, tem sido em defesa do resultado das urnas e de respeito à vontade popular. E nem poderia ser diferente. Nada fora das regras estabelecidas pode contaminar as eleições.
(*) Escrito para o Brasil 247, um dos maiores sites de notícia do país.
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