quinta-feira, janeiro 31, 2013
E a gasolina subiu ....finalmente
Depois de idas e vindas a Petrobras finalmente anunciou o aumento da gasolina (6,6%) e do diesel (5,4%). No bolso do consumidor o reajuste deve ser um pouco menor. Na gasolina em função da adição do etanol e no diesel em razão do biodiesel. Embora ninguém goste de aumentos, no caso dos combustíveis estava mais do que na hora. A Petrobras vinha comprando tanto diesel como gasolina no exterior e vendia aqui por um preço mais baixo. A conta não fechava e as açòes da empresa derretiam na bolsa. A Petrobras tem grandes desafios pela frente, o Pré- sal é um deles. Os investimentos são altos e para dar conta, a Petrobras precisa acertar suas contas.
Por outro lado tenho visto alguns comentaristas, por má fé ou desconhecimento, querendo misturar o reajuste da Petrobras com o desconto nas contas de energia elétrica. Como se fosse uma jogada do governo - dá com uma mão e tira com a outra. Estão, ao meu ver, misturando "alhos com bugalhos". A reduçao das tarifas de energia, embora conceitualmente correta, foi precipitada. Já o reajuste da gasolina e do diesel, perdoem a franqueza, veio tarde. O resto, é o resto - faz parte do jogo político em razão das eleições que se avizinham.
quarta-feira, janeiro 30, 2013
Depois da tragédia .... o jogo de empurra
Eu tinha certeza que depois da tragédia, da dor e da comoção que tomou conta de todos...vinha o jogo de empurra. Lamentavelmente, faz parte da nossa "cultura". As tragédias quase nunca tem responsáveis. É um barco super lotado que afunda, é uma encosta de morro que desaba, levando casas e tirando vidas, é um caminhão desgovernado com carga acima do estabelecido, é o telhado de uma escola que cai .....e assim segue a vida (ou a morte). Todo o dia nos deparamos com essa triste realidade. Nos jornais de hoje, a cobertura da tragédia de Santa Maria aponta, mais uma vez, para esse caminho. O prefeito e os bombeiros tornam publico seus desencontros. Na hora que as familias das vitímas e a sociedade buscam respostas e responsabilidades, as autoridades fogem das suas obrigações e deveres. Pela dimensão e repercussão da tragédia de Santa Maria, a impunidade e o jogo de empurra devem sucumbir diante da pressão da opinião pública. É o que todos esperam!
PS- segundo o DC, o promotor Daniel Paladino informou que o Ministério Público tem uma lista com 47 casas noturnas irregulares no município de Florianópolis. Como perguntar não ofende - o que fizeram até agora, em relação ao funcionamento dessas casas?
PS- segundo o DC, o promotor Daniel Paladino informou que o Ministério Público tem uma lista com 47 casas noturnas irregulares no município de Florianópolis. Como perguntar não ofende - o que fizeram até agora, em relação ao funcionamento dessas casas?
terça-feira, janeiro 29, 2013
A tragédia
Santa Maria está de luto....o Brasil também. A tragédia na madrugada de sábado vitimou 231 jovens e levou para os hospitais mais de uma centena. Infelizmente, outros vão morrer. A tristeza tomou conta da cidade. Santa Maria sempre foi reconhecida por ser uma importante cidade universitária. Ontem, foi justamente desses jovens estudantes que lhe dão vida, que Santa Maria se despediu com as mortes na tragédia da boite. Por falar na boite, quanto improviso. Uma casa com mais de 1000 pessoas e só uma porta. Uma estreita abertura que servia de entrada e de saída. Fico imaginando se o foco do incêndio fosse próximo dessa porta e não no fundo, onde ficava o palco. Ninguém ia sair - todos iriam morrer. Até quando o improviso, motivado pela ganância desmedida, vai ditar as regras das casas noturnas de nossas cidades. Que a tragédia de Santa Maria não se repita nunca mais.
segunda-feira, janeiro 28, 2013
Lincoln
No sábado assisti Lincoln. Fui mais motivado pela história do que pela possibilidade de vir a ser um filme premiado. Mesmo assim, o filme surpreende e encanta. Não só pelo desempenho de Daniel Day-Lewis, no papel de Lincoln, mas também pelo trabalho cuidadoso de Spielberg na direção. A história é de um homem simples, visionário e determinado - Abraham Lincoln. O mais popular dos presidentes dos Estados Unidos soube conviver, ao mesmo tempo, com a Guerra Civil e a dura luta política na Câmara dos Deputados, ao propor uma emenda à Constituição para por fim a escravidão no país. O filme, com duas horas e meia de duração, passa sem voce perceber. A luta política que Lincoln enfrenta, sem maioria na Câmara, nos faz sentir vergonha do nosso Congresso. No meio de uma guerra civil, longa e sangrenta, com o país dividido, Lincoln vai atrás dos votos que lhe faltam. Diferentemente daqui, onde as Propostas de Emenda a Consstituição -PEC nascem e prosperam nos corredores do Congresso, a cultura política dos EUA é pela preservação das claúsulas constitucionais. O filme resgata a dificil trajetória da 13 emenda à Constituição, com muita fidelidade. Lincoln sabia como ninguém a importância da aprovação dessa emenda que iria libertar 4 milhões de escravos. Mesmo derrotando os sulistas no campo de batalha, sabia que para o futuro dos EUA tinha que derrotar os escravocratas na campo das idéias. Foi o que fez. Vale a pena ver o filme.
sexta-feira, janeiro 25, 2013
Dilma e os bons ventos
Dilma, ao anunciar em rede nacional a redução das tarifas de energia elétrica, se esqueceu de falar da energia do sol. No entanto, se lembrou de registrar a importância da energia eólica para o Brasil. O compromisso e simpatia da presidenta com a energia dos bons ventos é antigo. Dilma, quando Secretária de Energia do Governo do Rio Grande do Sul, foi decisiva na implantação dos primeiros parques eólicos no sul do país. Hoje o setor está consolidado. Dados do BNDES mostram que esse setor cresceu 50% em 2012. Foram aprovados 63 projetos e os financiamentos somam R$ 3 bilhões. Diferentemente do que se passa com a energia solar, esquecida pelo planejamento do setor, no caso das eólicas estamos em sintonia com o mundo. Nos últimos anos temos adicionado de 1 a 2 GW no sistema de energia eólica. Algo impensável 10 anos atrás. Arrisco a dizer que muito se deve a Dilma e sua equipe. Incorporaram, definitivamente, a energia dos bons ventos na matriz brasileira.
PS- prova de que o setor eólico não para de crescer em todo o mundo - é Portugal. O país passando por uma grave crise econômica acaba de anunciar projetos eólicos off-shore de 10 MW por gerador. A iniciativa é da EDP.
PS- prova de que o setor eólico não para de crescer em todo o mundo - é Portugal. O país passando por uma grave crise econômica acaba de anunciar projetos eólicos off-shore de 10 MW por gerador. A iniciativa é da EDP.
quinta-feira, janeiro 24, 2013
Dilma - faltou o sol
Se eu pudesse falar com Dilma sobre seu pronunciamento de ontem a nação, teria lembrado que faltou falar no sol. O sol é a maior fonte de energia do planeta. Ele vai estar presente na matriz energética do futuro. No Brasil, com a boa insolação que temos, sua presença vai ser mais marcante ainda. Dois pequenos pontos no mapa do Brasil, um no serrado e outro no sertão, por exemplo,
com placas fotovoltaicas, seriam suficientes para gerar toda a energia que precisamos. O Brasil tem silício para fabricação das placas, terra e sol em abundância. O preço dessa tecnologia vem caindo ano a ano. Além disso, a complementariedade da energia solar é perfeita num sistema com forte base hídrica como a nossa. Justamente no verão, período de grande insolação e, por consequência, de grande evaporação, é que os reservatórios ficam mais baixos. Com o sol gerando, os reservatórios seriam preservados aumentando a confiabilidade de todo o sistema.
com placas fotovoltaicas, seriam suficientes para gerar toda a energia que precisamos. O Brasil tem silício para fabricação das placas, terra e sol em abundância. O preço dessa tecnologia vem caindo ano a ano. Além disso, a complementariedade da energia solar é perfeita num sistema com forte base hídrica como a nossa. Justamente no verão, período de grande insolação e, por consequência, de grande evaporação, é que os reservatórios ficam mais baixos. Com o sol gerando, os reservatórios seriam preservados aumentando a confiabilidade de todo o sistema.
quarta-feira, janeiro 23, 2013
China lidera o ranking das renováveis
Enquanto a Europa (em função da crise econômica) e os EUA (em função da crise fiscal) seguram os investimentos em energias renováveis, China e Japão aumentam. Ainda bem: só assim os investimentos globais não recuaram tanto ( US$ 302 bilhões em 2011 para US$ 268 bilhões em 2012). A China cresceu 20% e lidera o ranking com investimentos no setor de US$ 67 bilhões e o Japão cresceu 75%, injetando no setor eólico e solar US$ 16 bilhões. O Japão depois de Fukushima tomou uma decisão dificil mas adequada - buscar fontes alternativas renováveis e seguras. Na lista das prioridades o sol e o vento. A Agência Japonesa de Recursos Naturais e Energia planeja para 2020 colocar em operação a maior fazenda eólica marinha. O projeto preve a implantação de 1000 MW. Os dados são do Relatório da Bloomberg New Energy Finance.
PS- no comentário de ontem lembrei que EUA e China, pelo tanto que poluem, deveriam investir numa matriz energética mais limpa. A China tem procurado esse caminho. É o país que mais investe nesse segmento.
PS- no comentário de ontem lembrei que EUA e China, pelo tanto que poluem, deveriam investir numa matriz energética mais limpa. A China tem procurado esse caminho. É o país que mais investe nesse segmento.
terça-feira, janeiro 22, 2013
Mudanças climáticas - a dívida de Obama
No primeiro mandato de Obama, os EUA pouco fez em relação a grande agenda global - as mudanças climáticas. Ontem, o presidente reeleito, Barak Obama, voltou a assumir compromisso com o tema. Já tinha se comprometido no discurso de posse quatro anos atrás - ficou devendo. O discurso é afinado, no entanto as medidas práticas não são tomadas. EUA e China, as duas maiores economias do planeta, são os países que mais poluem. Portanto, cabe aos dois buscar alternativas que contemplem energias renováveis e limpas ao planejar suas iniciativas de desenvolvimento. O mundo espera que não fique só no discurso.
segunda-feira, janeiro 21, 2013
Preto no branco
Se tem assunto polêmico é o das cotas para negros nas universidades brasileiras. Sempre que posso procuro ler o que os especialistas na área falam. Quando li a entrevista de Júlia Puglia com o professor Luiz Eduardo Soares, não pensei duas vezes - vou registrar no blog. O professor Luiz Eduardo Soares, é formado em Literatura, na PUC do Rio. É mestre em Antropologia e doutor em ciência política. Tem vinte livros publicados e foi professor visitante nas universidades americanas de Harvard, Virginia, Pittisburgh e Columbia. Foi secretário nacional de segurança pública e atualmente é professor na UERJ.
por Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo.
Sabe quando seus olhos ou ouvidos batem em algo que salta da página, ecoa na cabeça e fica atormentando o juízo? Aconteceu comigo há algumas semanas, quando li um comentário de duas linhas na geleia geral do Facebook. Transcrevo: “Por anos lecionei só na Pós. Este ano, voltei à graduação da UERJ. O resultado das cotas para negros é tão maravilhoso, que me emociono toda semana.” O autor do comentário era Luiz Eduardo Soares, antropólogo, escritor, dramaturgo e gestor público com importante atuação em todas essas áreas.
Sei bem o quanto o assunto das cotas é polêmico e incompreendido – seja intencionalmente ou não. Ainda são escassos os brancos renomados que se posicionam a favor. Portanto, ao me deparar com um acadêmico reconhecido tomando a iniciativa de se expressar de forma clara e emocionada sobre o tema, senti que podia render. Tomei a liberdade de lhe pedir uma entrevista, no que fui pronta e generosamente atendida. As respostas de Luiz Eduardo são assim, preto no branco, mas de uma nitidez profunda e cálida. Espero que contribuam para irmos esmiuçando essa tal questão racial, que ainda requer muita conversa e reflexão. Vamos a elas.Nota de Rodapé – Por que você acha necessário que sejam estabelecidas cotas de acesso ao ensino superior público baseadas em critérios raciais?
Luiz Eduardo Soares – Pesquisa importante do IPEA, concluída no início da década passada, mostrou que um jovem branco de 18 anos tinha, em média, mais 2,3 anos de escolaridade do que um jovem negro, da mesma idade. Demonstrou ainda mais: o pai desse jovem branco, 30 anos antes, tinha mais 2,3 anos de escolaridade do que o pai do jovem negro. Além disso, comprovou que o avô desse jovem branco tinha, 60 anos antes, mais 2,4 anos de escolaridade do que o avô do jovem negro. O mais extraordinário não é o fato da trágica, brutal, vergonhosa desigualdade, mas a permanência no tempo. Uma permanência quase absolutamente invariável, contrastando com o verdadeiro tsunami de transformações que marcou a história brasileira no século XX. Enquanto o Brasil mudou intensa, veloz e profundamente, na política, na cultura, na economia, nas relações sociais, nas organizações familiares e até nos padrões de religiosidade, o racismo estrutural manteve-se congelado, intocado, inteiramente protegido por uma blindagem potente, intransponível, impermeável aos terremotos sociológicos, aos golpes, às transições políticas, às alterações constitucionais, às mobilizações cívicas, aos projetos educacionais, à expansão da mídia. Portanto, o século XX demonstrou à sociedade brasileira que, assim como na economia não basta fazer crescer o bolo para que todos se beneficiem, por uma espécie de efeito natural do desenvolvimento, também na urgente e prioritária questão do racismo não adianta esperar que a redução de desigualdades econômicas e a distribuição de renda dissolvam as barreiras erigidas pela cor da pele. O racismo é um preconceito que tem patas pesadas, bases sólidas, plantadas como pilares na raiz de nossa história colonial e escravagista, que oprimiu e devastou populações indígenas e comunidades negras. Está errado o diagnóstico que atribui o preconceito às diferenças de classe, afirmando que o negro é discriminado por ser pobre, não por ser negro. Errado. Análises sociológicas de Carlos Hasenbalg, Nelson Vale e Silva, Ricardo Henriques, entre outros, já demonstraram à exaustão que, embora a discriminação dos pobres seja real e dramática, não se confunde nem explica a discriminação contra os homens negros e as mulheres negras. Conclusão: ou o Brasil, como nação, intervém nesse quadro para mudá-lo, enfrentando o racismo – e para enfrentá-lo é preciso, primeiro, reconhecer sua existência –, ou as gerações se sucederão continuando a respirar o ar infecto dessa monstruosidade repugnante, a meu ver a maior de todas: o preconceito de raça, étnico ou de cor. Não esperemos que as migalhas – benefícios residuais – caiam da mesa em que a boa consciência nacional celebra suas virtudes, fartando-se no banquete de sua idolatria solipsista e narcísica, embriagando-se com a retórica inebriante da democracia racial ou com o mantra narcótico da mestiçagem. É preciso agir de imediato, recorrendo-se aos mecanismos disponíveis, ou seja, adotando-se políticas públicas pragmáticas de efeitos tópicos e imediatos. As cotas incluem-se nesse repertório de ações públicas que não constituem soluções, propriamente, mas mitigações e redução de danos. Nem por isso as cotas devem ser subestimadas em seu alcance, em suas consequências positivas. Mesmo não resolvendo os problemas, as cotas para ingresso nas universidades começam a virar o jogo por meio da incorporação de filhos da população negra às elites dirigentes, nas diversas áreas profissionais e políticas. A médio e longo prazos, far-se-ão ouvir vozes distintas, expressando perspectivas diferentes e verdadeiramente comprometidas com a luta antirracista. Estaremos, então, no umbral de grandes transformações democratizantes.
NR – Não seria mais justo deixar que o mérito/desempenho desse conta da questão do acesso?
LES – Onde está o mérito? Quem é mais capaz? Quem é mais dedicado? Quem reúne talento, dotes naturais, disciplina aprendida, disposição de trabalho, persistência, conhecimentos acumulados? Talvez os que puderam acumular mais conhecimentos até o vestibular não sejam os mesmos que disponham de mais talento, dotes, disciplina, disposição e persistência. Afinal, as condições com que contaram para a formação escolar foram muito diferentes: a qualidade das escolas foi diferente, a qualidade de vida em casa, no transporte, assim como terão sido distintas as chances de acesso aos livros e ao material didático pertinente. Uma nota 7 para quem cumpriu sua trajetória social e escolar driblando inúmeros percalços e obstáculos traduz um desempenho global inferior a uma nota 7,5 ou 8, conferida a quem percorreu seu itinerário escolar e social com todos os estímulos, apoios e facilidades? Quem alcançou melhor rendimento, considerando-se as condições com as quais cada um contou? Esta consideração não é indulgente ou paternalista, apenas expressa um pressuposto intrínseco ao argumento que valoriza o mérito: a equidade. Não há como entender o significado do mérito sem admitir a equidade como princípio matricial de juízo e fundamento do valor. A projeção do argumento relativo ao mérito recobre dois planos: o passado, traduzido no desempenho que as provas retratam, e o futuro, definido como provável desdobramento do passado. Se é assim, a indagação sobre o desempenho deve com mais razão levar em conta as condições com as quais contaram os candidatos em suas histórias de vida, uma vez que as expectativas a respeito de rendimento futuro não podem ser apenas derivadas do passado, como seu desdobramento natural e contínuo, porque, na universidade, a equidade será garantida – ou melhor, as iniquidades serão reduzidas, todos recebendo o mesmo ensino. O passado de dificuldades sofre uma refração e, projetando-se para o futuro, submete-se a uma inflexão de sinal positivo, inclinando para cima a curva de desempenho provável. Eis as notas 7 e 8 encontrando-se no horizonte prospectivo. E é exatamente isso que tem acontecido, segundo as pesquisas já realizadas e de acordo com minha própria observação cotidiana.
NR – De que maneira a sociedade brasileira como um todo pode se beneficiar desta política?
LES – Uma sociedade livre de racismo é uma coletividade muito melhor dos pontos de vista mais diversos. Ares mais dignos, menos hipócritas e desrespeitosos, farão bem a todos.
NR – Qual tem sido a sua experiência sobre o assunto, como professor?
LES – Tenho o privilégio de ser professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) há mais de duas décadas. Acompanhei de perto todo o processo de aprovação e implementação da política de cotas. Hoje, me emociono todos os dias de aula, quando encontro um número enorme de alunos da melhor qualidade que vieram das áreas mais pobres, das famílias mais pobres e que atravessaram as barreiras do racismo para chegar à universidade. Dedicam-se aos estudos com paixão, orgulham-se de participar da universidade e a valorizam. O clima na UERJ mudou para melhor. O padrão intelectual elevou-se. O resultado é visível e indiscutível. Emociona.
por Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo.
Sabe quando seus olhos ou ouvidos batem em algo que salta da página, ecoa na cabeça e fica atormentando o juízo? Aconteceu comigo há algumas semanas, quando li um comentário de duas linhas na geleia geral do Facebook. Transcrevo: “Por anos lecionei só na Pós. Este ano, voltei à graduação da UERJ. O resultado das cotas para negros é tão maravilhoso, que me emociono toda semana.” O autor do comentário era Luiz Eduardo Soares, antropólogo, escritor, dramaturgo e gestor público com importante atuação em todas essas áreas.
Sei bem o quanto o assunto das cotas é polêmico e incompreendido – seja intencionalmente ou não. Ainda são escassos os brancos renomados que se posicionam a favor. Portanto, ao me deparar com um acadêmico reconhecido tomando a iniciativa de se expressar de forma clara e emocionada sobre o tema, senti que podia render. Tomei a liberdade de lhe pedir uma entrevista, no que fui pronta e generosamente atendida. As respostas de Luiz Eduardo são assim, preto no branco, mas de uma nitidez profunda e cálida. Espero que contribuam para irmos esmiuçando essa tal questão racial, que ainda requer muita conversa e reflexão. Vamos a elas.Nota de Rodapé – Por que você acha necessário que sejam estabelecidas cotas de acesso ao ensino superior público baseadas em critérios raciais?
Luiz Eduardo Soares – Pesquisa importante do IPEA, concluída no início da década passada, mostrou que um jovem branco de 18 anos tinha, em média, mais 2,3 anos de escolaridade do que um jovem negro, da mesma idade. Demonstrou ainda mais: o pai desse jovem branco, 30 anos antes, tinha mais 2,3 anos de escolaridade do que o pai do jovem negro. Além disso, comprovou que o avô desse jovem branco tinha, 60 anos antes, mais 2,4 anos de escolaridade do que o avô do jovem negro. O mais extraordinário não é o fato da trágica, brutal, vergonhosa desigualdade, mas a permanência no tempo. Uma permanência quase absolutamente invariável, contrastando com o verdadeiro tsunami de transformações que marcou a história brasileira no século XX. Enquanto o Brasil mudou intensa, veloz e profundamente, na política, na cultura, na economia, nas relações sociais, nas organizações familiares e até nos padrões de religiosidade, o racismo estrutural manteve-se congelado, intocado, inteiramente protegido por uma blindagem potente, intransponível, impermeável aos terremotos sociológicos, aos golpes, às transições políticas, às alterações constitucionais, às mobilizações cívicas, aos projetos educacionais, à expansão da mídia. Portanto, o século XX demonstrou à sociedade brasileira que, assim como na economia não basta fazer crescer o bolo para que todos se beneficiem, por uma espécie de efeito natural do desenvolvimento, também na urgente e prioritária questão do racismo não adianta esperar que a redução de desigualdades econômicas e a distribuição de renda dissolvam as barreiras erigidas pela cor da pele. O racismo é um preconceito que tem patas pesadas, bases sólidas, plantadas como pilares na raiz de nossa história colonial e escravagista, que oprimiu e devastou populações indígenas e comunidades negras. Está errado o diagnóstico que atribui o preconceito às diferenças de classe, afirmando que o negro é discriminado por ser pobre, não por ser negro. Errado. Análises sociológicas de Carlos Hasenbalg, Nelson Vale e Silva, Ricardo Henriques, entre outros, já demonstraram à exaustão que, embora a discriminação dos pobres seja real e dramática, não se confunde nem explica a discriminação contra os homens negros e as mulheres negras. Conclusão: ou o Brasil, como nação, intervém nesse quadro para mudá-lo, enfrentando o racismo – e para enfrentá-lo é preciso, primeiro, reconhecer sua existência –, ou as gerações se sucederão continuando a respirar o ar infecto dessa monstruosidade repugnante, a meu ver a maior de todas: o preconceito de raça, étnico ou de cor. Não esperemos que as migalhas – benefícios residuais – caiam da mesa em que a boa consciência nacional celebra suas virtudes, fartando-se no banquete de sua idolatria solipsista e narcísica, embriagando-se com a retórica inebriante da democracia racial ou com o mantra narcótico da mestiçagem. É preciso agir de imediato, recorrendo-se aos mecanismos disponíveis, ou seja, adotando-se políticas públicas pragmáticas de efeitos tópicos e imediatos. As cotas incluem-se nesse repertório de ações públicas que não constituem soluções, propriamente, mas mitigações e redução de danos. Nem por isso as cotas devem ser subestimadas em seu alcance, em suas consequências positivas. Mesmo não resolvendo os problemas, as cotas para ingresso nas universidades começam a virar o jogo por meio da incorporação de filhos da população negra às elites dirigentes, nas diversas áreas profissionais e políticas. A médio e longo prazos, far-se-ão ouvir vozes distintas, expressando perspectivas diferentes e verdadeiramente comprometidas com a luta antirracista. Estaremos, então, no umbral de grandes transformações democratizantes.
NR – Não seria mais justo deixar que o mérito/desempenho desse conta da questão do acesso?
LES – Onde está o mérito? Quem é mais capaz? Quem é mais dedicado? Quem reúne talento, dotes naturais, disciplina aprendida, disposição de trabalho, persistência, conhecimentos acumulados? Talvez os que puderam acumular mais conhecimentos até o vestibular não sejam os mesmos que disponham de mais talento, dotes, disciplina, disposição e persistência. Afinal, as condições com que contaram para a formação escolar foram muito diferentes: a qualidade das escolas foi diferente, a qualidade de vida em casa, no transporte, assim como terão sido distintas as chances de acesso aos livros e ao material didático pertinente. Uma nota 7 para quem cumpriu sua trajetória social e escolar driblando inúmeros percalços e obstáculos traduz um desempenho global inferior a uma nota 7,5 ou 8, conferida a quem percorreu seu itinerário escolar e social com todos os estímulos, apoios e facilidades? Quem alcançou melhor rendimento, considerando-se as condições com as quais cada um contou? Esta consideração não é indulgente ou paternalista, apenas expressa um pressuposto intrínseco ao argumento que valoriza o mérito: a equidade. Não há como entender o significado do mérito sem admitir a equidade como princípio matricial de juízo e fundamento do valor. A projeção do argumento relativo ao mérito recobre dois planos: o passado, traduzido no desempenho que as provas retratam, e o futuro, definido como provável desdobramento do passado. Se é assim, a indagação sobre o desempenho deve com mais razão levar em conta as condições com as quais contaram os candidatos em suas histórias de vida, uma vez que as expectativas a respeito de rendimento futuro não podem ser apenas derivadas do passado, como seu desdobramento natural e contínuo, porque, na universidade, a equidade será garantida – ou melhor, as iniquidades serão reduzidas, todos recebendo o mesmo ensino. O passado de dificuldades sofre uma refração e, projetando-se para o futuro, submete-se a uma inflexão de sinal positivo, inclinando para cima a curva de desempenho provável. Eis as notas 7 e 8 encontrando-se no horizonte prospectivo. E é exatamente isso que tem acontecido, segundo as pesquisas já realizadas e de acordo com minha própria observação cotidiana.
NR – De que maneira a sociedade brasileira como um todo pode se beneficiar desta política?
LES – Uma sociedade livre de racismo é uma coletividade muito melhor dos pontos de vista mais diversos. Ares mais dignos, menos hipócritas e desrespeitosos, farão bem a todos.
NR – Qual tem sido a sua experiência sobre o assunto, como professor?
LES – Tenho o privilégio de ser professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) há mais de duas décadas. Acompanhei de perto todo o processo de aprovação e implementação da política de cotas. Hoje, me emociono todos os dias de aula, quando encontro um número enorme de alunos da melhor qualidade que vieram das áreas mais pobres, das famílias mais pobres e que atravessaram as barreiras do racismo para chegar à universidade. Dedicam-se aos estudos com paixão, orgulham-se de participar da universidade e a valorizam. O clima na UERJ mudou para melhor. O padrão intelectual elevou-se. O resultado é visível e indiscutível. Emociona.
sexta-feira, janeiro 18, 2013
"O Mundo em 2050"
Foi com o título acima que a PricewaterhouseCoopers, uma das mais importantes consultoras do mundo, acaba de divulgar um estudo sobre a real ameaça do aquecimento global. Clóvis Rossi, se baseia nesse relatório para chamar a atenção sobre os perigos que a humanidade corre com os crescentes aumentos de temperatura (FSP -17/1/2013). Não se trata mais de entidades ambientalistas, que mesmo desconsideradas pelo poder dominante, seja ele político ou econômico, não se cansam de alertar sobre os riscos de um "planeta terra" super aquecido. Eu mesmo, aqui nesse meu divã, já comentei e registrei dezenas de vezes minhas preocupações. Clóvis Rossi introduz uma novidade no seu artigo: "o mundo empresarial começa a coincidir com os ambientalistas, ao soar o alarme sobre o clima". O mundo dos negócios começa a mensurar o custo de uma catástrofe ambiental. Quanto custa um furacão? Uma inundação? A desertificação de uma área? A morte de um rio? E os números são assustadores. Segundo Clóvis Rossi, o custo global de catástrofes naturais relacionadas ao clima foi, no ano passado, de US$ 160 bilhões (Fonte: seguradora Munich Re). No relatório "O mundo em 2050", as previsões são de que, mantidas as coisas como estão, o crescimento da economia elevaria a temperatura em 6 graus. Mais 6 graus, abre-se a porta do inferno!
quinta-feira, janeiro 17, 2013
Só vento não basta
Que me desculpem colegas e amigos do setor elétrico: só o vento não basta! Para um parque eólico ser útil ao país, precisa escoar a energia que produz. Se não o fizer, por que falta linha de transmissão para escoar a energia, me desculpem: é um escândalo! E o que é pior, por questões contratuais, como as empresas responsáveis pela implantação dos parques cumpriram seus prazos, terão direito de receber pela energia "em tese" produzida. Segundo a presidente da Abeeólica, Elbia Melo, o prejuízo em 2012 foi de mais de R$ 300 milhões e em 2013 deve ser o dobro. Esse descompasso, entre o tempo de implantação dos parques eólicos versus o tempo de implantação do sistema de transmissão, é inconcebível. Basta ajustar os cronogramas. Todos sabem o tempo aproximado das obras. Agora mesmo, na região de Rio Grande e Santa Vitória serão implantados grandes parques eólicos. Para escoar a energia que vão produzir precisam de linhas de transmissão. As obras de geração e de transmissão precisam caminhar juntas para não acontecer o que aconteceu no nordeste. Vamos ver.
quarta-feira, janeiro 16, 2013
Qualificar é o caminho
Sem qualificação não há solução. Essa afirmativa, que não é minha, se já é válida agora imaginem na próxima década. Estamos entre a cruz e a espada: ou nos qualificamos, ou vamos sofrer com o "apagão de mão de obra". Atento a essa situação e preocupado com o futuro do setor eólico no sul do Brasil, nós do Instituto IDEAL estamos buscando junto ao prefeito da cidade de Rio Grande, a universidade de lá e outros parceiros, a criação de um centro de capacitação nessa área. A cidade foi escolhida por atender todas as condições. Fica exatamente no meio da região onde vão se desenvolver os grandes parques eólicos (de Osório até o Chuí), é um importante porto e tem um polo naval consolidado. Pela sua proximidade com os países do Mercosul e com a linha de transmissão de 500KV (em implantação), Rio Grande também terá um papel importante na integração energética com os países vizinhos. A partir desses fortes e incontestáveis argumentos, no último sábado nos reunimos com o prefeito e a universidade para tratar desse projeto. Rapidamente acordamos por definir os termos de um convênio que nos levasse a transformar Rio Grande, num novo polo de conhecimento na área da energia eólica.
terça-feira, janeiro 15, 2013
Campos neutrais em mutação
Durante minha rápida passagem pela zona sul do Rio do Grande do Sul, tive uma grata surpresa. De Rio Grande a Sta. Vitória do Palmar, onde estão em estudo os grandes parques eólicos, a paisagem se modificou: onde só havia arroz começa a se ver soja. Para quem é da região, algo impensável dois anos atrás. A terra só dá para arroz, era o que todos afirmavam. Recentemente, com investimento em pesquisa novas sementes foram descobertas e a soja passou a ser uma boa alternativa. As terras que iam do Banhado do Taim até a Barra do Chuí, chamadas no passado de "Campos Neutrais", eram ocupadas por ovinos e bovinos. A economia se baseava na lã e na carne. Na década de 60, a região passou por uma grande transformação com a chegada do arroz. As granjas passaram a ser as responsáveis pela principal atividade econômica do campo. Agora, 15 mil hectares de soja ocupam parte das terras que eram usadas pelo arroz. Outra novidade é o aproveitamento dos bons ventos da região. Antes só assobiavam, agora vão gerar energia, criar emprego e trazer riqueza. Essa mutação mostra um novo potencial econômico da região, que nasce a partir de novas tecnologias no campo e de oportunidades de desenvolvimento e negócios no setor de energia renovável e limpa.
PS- Péricles Azambuja, historiador e jornalista, resgata no seu livro "Histórias das Terras e Mares do Chuí", um pouco da disputa que portugueses e espanhóis travaram pelos limites da fronteira no extremo sul do Brasil. O primeiro tratado que firmaram foi o de Madri, em 1750. Depois, em 1777, o ponto extremo que separava o Brasil do Uruguai sofreu um recuo acordado e registrado pelo Tratado de Ildefonso. Em 1814, os limites estabelecidos no tratado deram origem ao município de Santa Vitória do Palmar. Inicialmente chamado de Campos Neutros ou Terra de Ninguém, justamente por ser uma região criada para amortecer os choques entre portugueses e espanhóis.
.
PS- Péricles Azambuja, historiador e jornalista, resgata no seu livro "Histórias das Terras e Mares do Chuí", um pouco da disputa que portugueses e espanhóis travaram pelos limites da fronteira no extremo sul do Brasil. O primeiro tratado que firmaram foi o de Madri, em 1750. Depois, em 1777, o ponto extremo que separava o Brasil do Uruguai sofreu um recuo acordado e registrado pelo Tratado de Ildefonso. Em 1814, os limites estabelecidos no tratado deram origem ao município de Santa Vitória do Palmar. Inicialmente chamado de Campos Neutros ou Terra de Ninguém, justamente por ser uma região criada para amortecer os choques entre portugueses e espanhóis.
.
segunda-feira, janeiro 14, 2013
Índia: cultura x cidadania
Não é por acaso que cresce o número de estudiosos adeptos a uma nova forma de se identificar países realmente em desenvolvimento. O PIB, que durante as últimas décadas foi o grande parâmetro, vem perdendo dia a dia sua importância. Os países agora são avaliados pelo respeito a cidadania, ao meio ambiente e a democracia. Se formos olhar com rigor os países que formam junto com o Brasil o chamado BRIC, o que temos realmente para destacar em termos de liberdade, costumes e comportamentos.
Só essa pequena e despretenciosa introducão, já levaria economistas e cientistas políticos há anos de estudo. Como não é aqui o espaço para o aprofundamento de temas dessa complexidade, e também por não ter sido essa a motivação do comentário, vou direto ao assunto que vem constrangendo a todos: a violência contra as mulheres na Índia.
De que adianta a Índia crescer sua economia, se ainda persiste no país a violência e o cerceamento do direito às mulheres. De que adianta a Índia ser a maior democracia do planeta e assegurar na sua Constituição direitos e oportunidades iguais às mulheres, se elas são violentadas e mortas. De que adianta apostar e investir em alta tecnologia, se o básico da cidadania não é observado pela grande maioria. As mulheres, segundo as informações que chegam, continuam a ser tratadas como cidadãs de segunda classe. A cultura do abuso contra as mulheres ainda está presente nessa sociedade, ao mesmo tempo - nova e antiga.
O recente e lamentável episódio que levou a morte uma estudante, estuprada e espancada por seis homens dentro de um ônibus, e que fez milhares de indianos protestarem nas ruas de Nova Déli e em outras cidades do país pode ser o início de um processo que leve a Índia a respeitar suas mulheres. Atribuir a insanidade de alguns a cultura, é confortável para políticos e governantes que preferem tolerar a violência a mudar costumes e atitudes.
Só essa pequena e despretenciosa introducão, já levaria economistas e cientistas políticos há anos de estudo. Como não é aqui o espaço para o aprofundamento de temas dessa complexidade, e também por não ter sido essa a motivação do comentário, vou direto ao assunto que vem constrangendo a todos: a violência contra as mulheres na Índia.
De que adianta a Índia crescer sua economia, se ainda persiste no país a violência e o cerceamento do direito às mulheres. De que adianta a Índia ser a maior democracia do planeta e assegurar na sua Constituição direitos e oportunidades iguais às mulheres, se elas são violentadas e mortas. De que adianta apostar e investir em alta tecnologia, se o básico da cidadania não é observado pela grande maioria. As mulheres, segundo as informações que chegam, continuam a ser tratadas como cidadãs de segunda classe. A cultura do abuso contra as mulheres ainda está presente nessa sociedade, ao mesmo tempo - nova e antiga.
O recente e lamentável episódio que levou a morte uma estudante, estuprada e espancada por seis homens dentro de um ônibus, e que fez milhares de indianos protestarem nas ruas de Nova Déli e em outras cidades do país pode ser o início de um processo que leve a Índia a respeitar suas mulheres. Atribuir a insanidade de alguns a cultura, é confortável para políticos e governantes que preferem tolerar a violência a mudar costumes e atitudes.
sexta-feira, janeiro 11, 2013
Marina, a surpresa da pesquisa
O resultado da última pesquisa para presidente, que coloca Dilma e Lula bem acima dos demais, trás de volta Marina Silva. Sem mandato e sem partido, Marina consegue reproduzir o desempenho que teve em 2010, quando obteve cerca de 20% dos votos. Acho que para muitos foi a surpresa da pesquisa. Por outro lado consolida um considerável patamar de eleitores identificados com a ex-senadora e seus compromissos com a ética na política, com o meio ambiente e a sustentabilidade. Que aliás é uma grande pauta para 2014. Em recente artigo, Marina nos faz pensar ao lembrar que "2013 não é só a antessala de uma disputa eleitoral, é uma oportunidade de redefinir projetos e prioridades. Bem entendem isso os prefeitos que iniciam sua gestão com esperança de fazer, em suas cidades, algo além de manter o trânsito engarrafado, a coleta de lixo e as facilidades do mercado imobiliário." E, conclui: "Desadaptar-se dá trabalho. Mas já sabemos, nos disse o poeta, que vale a pena, se a alma não é pequena." (FSP- 4/01/2013)
PS - na eleição passada já tinha comentado que Marina era a novidade. No entanto, alertava: o problema era com quem controlava o partido. Depois das eleições, por dicordar da prática partidária, Marina deixa o PV. A pergunta que agora fica, é com quem Marina vai estar em 2014?
PS - na eleição passada já tinha comentado que Marina era a novidade. No entanto, alertava: o problema era com quem controlava o partido. Depois das eleições, por dicordar da prática partidária, Marina deixa o PV. A pergunta que agora fica, é com quem Marina vai estar em 2014?
quinta-feira, janeiro 10, 2013
Dilma e os riscos do setor
A leitura sobre a decisão da presidenta Dilma de antecipar sua volta para Brasília, é uma só: tomar a frente os encaminhamentos sobre o setor elétrico. Quem a conhece sabe que jamais ficaria distante de um problema dessa natureza. Alguns especialistas aproveitam para associar a situação atual com o apagão de 2001. Me permito a discordar. Em 2001, o governo não tinha planejamento, investimento e compromisso com o setor. A crise, em parte, até serviu para justificar e acelerar o processo de privatização em curso. Dilma, ao contrário dos responsáveis pelo setor na época, sempre teve uma relação de atenção com o setor elétrico brasileiro. Embora tenha nomeado pessoas capacitadas e de sua absoluta confiança na Eletrobrás, na Aneel, na EPE e no próprio Ministério das Minas e Energia, a presidenta sinaliza que está junto na busca de alternativas que afastem os riscos de um eventual desabastecimento. Numa matriz de base hídrica como a nossa, a água é o principal combustível. Se não chover nos locais das barragens, há pouco a fazer. No curto prazo, só nos resta acionar as térmicas disponíveis. O Operador Nacional do Sistema - ONS, responsável pelo despacho das usinas, sempre que pode procura evitar a geração térmica por poluir e custar mais.
PS- em resumo: com os reservatórios baixos, só nos resta acionar as usinas térmicas. O custo da geração térmica é alto e vai ser repassado. Depois de analisar o resultado da reunião de ontem volto a comentar o assunto.
PS- em resumo: com os reservatórios baixos, só nos resta acionar as usinas térmicas. O custo da geração térmica é alto e vai ser repassado. Depois de analisar o resultado da reunião de ontem volto a comentar o assunto.
quarta-feira, janeiro 09, 2013
O alerta está dado
Um possível racionamento nunca foi admitido pelo governo. É um assunto probido, que deixa a nossa presidenta muito incomodada. No entanto, em razão dos baixos reservatórios e as altas temperaturas o sinal de alerta foi dado. Direto da Bahia, Dilma convocou os responsáveis pelo setor para uma reunião de emergência para hoje. Imaginem os riscos se a economia estivesse acelerada. Outra declaração que deve ter constrangido o setor partiu da presidente da Aeeólica, Elbia Melo, ao comentar na FSP que o atraso na construção nas linhas de transmissão impediram que parques eólicos, já construídos na região nordeste, pudessem escoar a energia produzida. O atraso de 15 meses em média e o prejuízo de 600 milhões de reais por ano devem ser cobrados por Dilma de sua equipe.
terça-feira, janeiro 08, 2013
Olhem só o que escrevi em janeiro de 2012
Ano Novo ...... velhos problemas
Passadas as festas de final de ano volta tudo ao normal. Engarrafamentos, obras inacabadas, recursos desviados e morte nas estradas e nas enchentes. No final de semana do Natal até o domingo passado morreram nas ESTRADAS BRASILEIRAS 460 pessoas. No Rio e em Minas as chuvas também deixaram mortos e desabrigados. Nada diferente do que ocorreu no passado. O inacreditável é que até hoje os atingidos pelas enchentes do ano passado no Rio aguardam pelas obras prometidas. Uma vergonha! Em SC a BR 101, tanto para o sul como para o norte, dá sinais de esgotamento. Para utilizá-la só com muita paciência. Cada ano que passa as filas aumentam. Dia 2, no final da tarde, para percorrer os 15 km que separam o pedágio de Tijucas até Itapema, minha filha levou duas horas. E o que nos espera no próximo ano ? Querem saber: com certeza uma situação bem mais caótica que a atual. Lembrem-se só este ano foram 3 milhões de carros a mais rodando pelas precárias ESTRADAS BRASILEIRAS!
PS- houve uma pequena mudança de um ano para o outro: agora são 3,8 milhões de carros a mais rodando nas precárias ESTRADAS BRASILEIRAS !
PS- houve uma pequena mudança de um ano para o outro: agora são 3,8 milhões de carros a mais rodando nas precárias ESTRADAS BRASILEIRAS !
segunda-feira, janeiro 07, 2013
A mudança climática chegou e é pior do que se pensava
Celso Vicenzi é uma inesgotável fonte de informações. Sempre nos abastece com ótimos artigos. No início de dezembro recebi um do James Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa, com o título que reproduzi acima. Foi justamente na semana que os termômetros marcavam 41 graus. E nós, simples mortais, estávamos aplastados. Acho até que foi em razão do calor que deixei de comentar o artigo no momento certo. Com a pressão baixa, vem a moleza e a gente perde a vivacidade. Agora, com as temperaturas mais amenas, me veio a vontade de recuperá-lo. E leiam o que esse renomado cientista nos diz:
" Em declaração perante o Senado naquele caloroso verão de 1988, adverti aos senadores sobre o tipo de futuro que as mudanças climáticas trariam para nós e nosso Planeta. Apresentei um cenário sombrio das consequências no aumento progressivo da temperatura impulsionado pela dependência da raça humana dos combustíveis fósseis. Mas preciso confessar: fui bastante otimista.
Minhas projeções sobre o aumento global da temperatura se confirmaram. Mas falhei quando não percebi que a velocidade do aumento na média da temperatura poderia influir na ampliação da ocorrência de eventos climáticos extremos.
Numa nova análise sobre as variações de temperatura das últimas seis décadas (publicada em 29 de Março), meus colegas e eu revelamos um aumento impressionante na frequência de verões extremamente quentes, gerando consequências profundas e preocupantes para nosso futuro, mas também para nosso presente.
Não se trata de um modelo climático ou de uma previsão, mas sim de observações das ocorrências climáticas que já ocorreram. Nossa análise mostra que não é mais razoável dizer que o aquecimento global aumentará as possibilidades de haver climas extremos, nem repetir o aviso de que qualquer evento particular possa ser diretamente associado às mudanças climáticas. Ao contrário, nosso estudo aponta que, em relação aos eventos extremos de um passado bem recente, não há outra razão se não a mudança climática." ...............
"A onda de calor mortal que castigou a Europa em 2003, a feroz canícula russa em 2010 e a seca catastrófica no Texas e em Oklahoma ano passado, cada um desses eventos pode ser atribuído às mudanças climáticas. E assim que os dados forem reunidos ainda essa semana, o mesmo acontece em relação a esse verão extremamente quente o qual os EUA sofrem agora. Esses eventos climáticos não são apenas simples exemplos do que poderá ocorrer. Eles são causados pelas mudanças climáticas."...........
" Nosso novo estudo revisado por colegas pesquisadores, publicado pela National Academy of Sciences, mostra claramente que enquanto a temperatura média do planeta aumenta progressivamente devido ao aquecimento global (acima de 1,5° Fahrenheit no século passado), temperaturas extremas vêm ocorrendo com muito mais frequência e intensidade no mundo todo." .........
" Esse é o mundo que modificamos e agora temos que viver nele; um mundo no qual as ondas de calor como a de 2003, na Europa, que mataram 50.000 pessoas e secas, como a de 2011 no Texas, que causaram mais de 5 bilhões de dólares em prejuízos. Tais eventos, como apontam nossos estudos, ocorrerão com frequência e intensidade cada vez maiores. Ainda há tempo para agir e evitar o pior, mas estamos desperdiçando um tempo precioso. Podemos enfrentar o desafio das mudanças climáticas com uma taxa gradativamente crescente sobre a captura de carbono derivada das empresas de combustíveis fósseis, com 100% desse dinheiro sendo restituído a todos os residentes legais baseado na renda per capita. Este processo estimularia inovações e criaria uma robusta economia com energias limpas e milhões de novos empregos. Esta é uma simples, honesta e efetiva solução."
"O futuro é agora. E ele é quente."
Excluir | Responder | Responder a Todos | Encaminhar | Redirecionar | Ver Discussão | Lista Negra | Lista Branca | Código Fonte da Mensagem | Salvar como | Imprimir | ||
Mover | Copiar |
sexta-feira, janeiro 04, 2013
O que fazem os bancos ...o que dizem os banqueiros
Encontrar na mesma página uma entrevista com o presidente do principal banco público e, ao lado, uma outra com o presidente do maior banco privado do país, é uma oportunidade única (FSP-23/12). Luciano Coutinho, do BNDES, acredita que o ano foi de ajustes, com o crescimento do PIB aquém do esperado. A imagem do Brasil lá fora se modificou e os investidores estrangeiros se retrairam. Para ele, em 2013 o quadro será outro. Mesmo com o "pibinho", houve crescimento de renda, emprego e massa salarial em 2012. E nessa conjuntura projeta um crescimento de 4% na economia e de pelo menos 8% no investimento agregado. Os desembolsos do banco (empréstimos) devem crescer 20%, e os principais setores, pela ordem, são: indústria, infraestrutura e serviços.
Roberto Setúbal, o presidente do Itaú, pensa que os bancos sofrerão profundas mudanças nos próximos anos. Terão que se adaptar a nova realidade dos juros menores, aumentar o capital e combater a inadiplência. Boa parte dos investimentos do banco estão direcionados para fundos de energia. Para ele a situação da infraestrututa no Brasil é dramática e o retardamento dos investimentos é preocupante. Uma das metas do Itaú é se tornar um banco latino com forte presença nos países vizinhos. No Brasil o que mais vem chamando atenção é o crescimento da chamada classe C. Até em relação a isso os bancos precisarão se adaptar. Como projeto de vida, "teria muita vontade de construir uma faculdade. Uma grande faculdade, de ponta, de grande nível, que pudesse educar grandes profissionais."
Roberto Setúbal, o presidente do Itaú, pensa que os bancos sofrerão profundas mudanças nos próximos anos. Terão que se adaptar a nova realidade dos juros menores, aumentar o capital e combater a inadiplência. Boa parte dos investimentos do banco estão direcionados para fundos de energia. Para ele a situação da infraestrututa no Brasil é dramática e o retardamento dos investimentos é preocupante. Uma das metas do Itaú é se tornar um banco latino com forte presença nos países vizinhos. No Brasil o que mais vem chamando atenção é o crescimento da chamada classe C. Até em relação a isso os bancos precisarão se adaptar. Como projeto de vida, "teria muita vontade de construir uma faculdade. Uma grande faculdade, de ponta, de grande nível, que pudesse educar grandes profissionais."
quinta-feira, janeiro 03, 2013
Dilma e os apagões
Quem conhece a presidenta sabe que nada a incomoda mais que os repetidos apagões no setor elétrico. Em recente entrevista, com a habitual sinceridade, deixou claro que a desculpa de atribuir a causa dos desligamentos aos raios (descarga elétrica), tão utilizada na época dos apagões de FHC, não encontra guarida no seu governo. E foi além: "o dia que falarem para vocês que é raio gargalhem", ou é falha humana, ou falta de investimento. Complemento, afirmando: cada caso é um caso, e é possível identificar com precisão a causa. Acho importante que se trate tema tão relevante e desgastante, com o devido rigor técnico. Os consumidores, principais vítimas dos apagões, tem todo o direito de saber as verdadeiras razões dos prejuizos, da insegurança e dos constrangimentos que os apagões causam. Os próprios técnicos do governo reconhecem que a geração longe dos centros de carga trazem perdas e riscos para o sistema. Quanto mais se investir em fontes de energia próxima ao consumo, mais sustentável e seguro será o sistema. A fonte que nos possibilita essa proximidade "geração/consumo" é a solar. Já temos o sol e o telhado das casas, só falta a vontade!
quarta-feira, janeiro 02, 2013
1961 O GOLPE DERROTADO
Longe das badaladas festas de final de ano em Florianópolis, livre dos estressantes e constantes engarrafamentos, a opção da familia foi entrar 2013 cercado pela natureza, com muito verde, rodeado de pássaros e borboletas. O local escolhido foi a vizinha Serra do Tabuleiro. Nesse paraíso que é Caldas da Imperatriz, recebi para ler o livro de Flávio Tavares - 1961 0 GOLPE DERROTADO. O livro conta os treze dias em que o jovem governador Leonel Brizola, do Rio Grande do Sul, construiu e liderou um movimento popular que derrotou o golpe de Estado planejado pelos ministros militares da época.
Assim como aconteceu com Saramago que qualificou o livro de "magistral" e frisou: "Li-o de uma assentada só, sem poder parar", também foi o que fiz. Comecei na manhã do dia 31 e antes da ceia do Ano Novo já tinha terminado.
Não costumo comentar no blog ( até pelo próprio nome "de olho no futuro") sobre o passado. No entanto esse episódio histórico relatado por Flávio, na época um jornalista de 27 anos, que teve a felicidade de tudo testemunhar, me motivou registrar as peripécias da rebelião. Acho que em parte por ter vivenciado(embora ainda um pré-adolecente) a ousadia de Leonel Brizola de criar o Movimento da Legalidade que abortou o golpe e possibiltou a posse do então vice-presidente da República, João Goulart.
Flávio, um escritor maduro, contempla e valoriza no livro a parte testemunhal que a vida lhe possilitou ao conviver com toda a efervecência dos treze dias que antecederam a chegada de Jango no Brasil. Flávio se preocupa também em relembrar os leitores que Jango, vice de Jânio, estava em viagem ofical na China quando Jânio renunciou. E que os militares de plantão, que não suportavam Jango, aproveitaram o momento para dar o golpe e tomarem o poder.
Com o argumento de que não iam permitir "que o governo caísse nas mãos ameaçadoras do comunismo", anunciaram que Jango seria preso tão logo colacasse os pés no Brasil. Pensaram em tudo, só não contavam com a ousadia e a capacidade de mobilização de Leonel Brizola. Sem nada nas mãos, sem armas, só com a voz, o governador criou a Cadeia da Legalidade. E através dela mobilizou a sociedade. Nesses treze longos dias o Movimento da Legalidade ganhou a simpatia da Igreja Católica e do Terceiro Exército. Percebendo que o movimento crescia e que o golpe ia fracassar os militares mandaram Tancredo Neves para o Uruguai negociar com Jango as condições do seu retorno. Da conversa que tiveram em Montevidéu, pouco se sabe. No entanto, no dia 2 de setembro de 1961, às 21 horas , vindo do Uruguai, Jango chega no aeroporto da capital gaúcha. Em Brasília, o Congresso pressionado aprova às pressas o parlamentarismo. Não era o que Brizola e o movimento pela legalidade queriam. Este vacilo histórico de Jango é bem lembrado no livro. E o preço pago foi alto: em 31 de março de 1964 veio o troco. Com o golpe militar Brizola, Jango, o próprio Flávio e tantos outros citados no livro são exilados. A pergunta que fica, e que o livro não responde, é se a história não teria sido outra se Jango tivesse seguido o que Brizola e seus seguidores pregavam......
PS- deixo como sugestão de leitura para 2013 o livro de Flávio Tavares - 1961 o golpe derrotado.
Assim como aconteceu com Saramago que qualificou o livro de "magistral" e frisou: "Li-o de uma assentada só, sem poder parar", também foi o que fiz. Comecei na manhã do dia 31 e antes da ceia do Ano Novo já tinha terminado.
Não costumo comentar no blog ( até pelo próprio nome "de olho no futuro") sobre o passado. No entanto esse episódio histórico relatado por Flávio, na época um jornalista de 27 anos, que teve a felicidade de tudo testemunhar, me motivou registrar as peripécias da rebelião. Acho que em parte por ter vivenciado(embora ainda um pré-adolecente) a ousadia de Leonel Brizola de criar o Movimento da Legalidade que abortou o golpe e possibiltou a posse do então vice-presidente da República, João Goulart.
Flávio, um escritor maduro, contempla e valoriza no livro a parte testemunhal que a vida lhe possilitou ao conviver com toda a efervecência dos treze dias que antecederam a chegada de Jango no Brasil. Flávio se preocupa também em relembrar os leitores que Jango, vice de Jânio, estava em viagem ofical na China quando Jânio renunciou. E que os militares de plantão, que não suportavam Jango, aproveitaram o momento para dar o golpe e tomarem o poder.
Com o argumento de que não iam permitir "que o governo caísse nas mãos ameaçadoras do comunismo", anunciaram que Jango seria preso tão logo colacasse os pés no Brasil. Pensaram em tudo, só não contavam com a ousadia e a capacidade de mobilização de Leonel Brizola. Sem nada nas mãos, sem armas, só com a voz, o governador criou a Cadeia da Legalidade. E através dela mobilizou a sociedade. Nesses treze longos dias o Movimento da Legalidade ganhou a simpatia da Igreja Católica e do Terceiro Exército. Percebendo que o movimento crescia e que o golpe ia fracassar os militares mandaram Tancredo Neves para o Uruguai negociar com Jango as condições do seu retorno. Da conversa que tiveram em Montevidéu, pouco se sabe. No entanto, no dia 2 de setembro de 1961, às 21 horas , vindo do Uruguai, Jango chega no aeroporto da capital gaúcha. Em Brasília, o Congresso pressionado aprova às pressas o parlamentarismo. Não era o que Brizola e o movimento pela legalidade queriam. Este vacilo histórico de Jango é bem lembrado no livro. E o preço pago foi alto: em 31 de março de 1964 veio o troco. Com o golpe militar Brizola, Jango, o próprio Flávio e tantos outros citados no livro são exilados. A pergunta que fica, e que o livro não responde, é se a história não teria sido outra se Jango tivesse seguido o que Brizola e seus seguidores pregavam......
PS- deixo como sugestão de leitura para 2013 o livro de Flávio Tavares - 1961 o golpe derrotado.
Assinar:
Postagens (Atom)