segunda-feira, agosto 02, 2021

Privatização da Eletrobras: a única certeza é que a energia vai ficar ainda mais cara

Com tanta notícia ruim, que vai  da CPI da Covid a um pequeno grupo de pessoas que insiste em seguir com suas poderosas motos um sem noção, é normal que sonhos e pesadelos aconteçam com frequência nas noites frias do inverno catarinense. Numa dessas noites, sem saber precisar se era sonho ou pesadelo, estava participando da CPI da privatização da Eletrobras. Que carma, faz tempo que estou envolvido com esse tema. Em 2003, como deputado federal, consegui retirar as estatais do setor elétrico do Programa Nacional de Privatização. 

O presidente da CPI, que não me recordo o nome, provavelmente alguém do Centrão, até explicou que o motivo do convite estava relacionado ao meu passado na  Comissão de Minas e Energia da Câmara e a minha permanente preocupação com o futuro do setor elétrico,  Pronto, só com a apresentação já me senti em casa. Olhei em volta e logo percebi que nenhum dos presentes dominava o assunto. Abandonei a apresentação que ia fazer e passei a perguntar em vez de responder.

A primeira pergunta foi um teste, quantas horas tem um ano? Ninguém soube responder. São 8760. Quantos MW são os 8 GW  que os senhores aprovaram de geração térmica a gás? Surpreendidos pela estratégia utilizada, também não responderam. São 8000 MW. Supondo que o custo dessa energia, que  ainda não está definido, mas que já se sabe que pode chegar a 3 vezes o valor da energia eólica e solar, vou estabelecer R$1000,00/MWh para facilitar a conta de padeiro que vou apresentar para os senhores.

Multiplicando esses números todos, estamos falando em 70 milhões de MWh e uma receita de 70 bilhões de reais por ano. Claro que esses números arredondados são para chamar a atenção sobre o que quero dizer: é muita energia e muito dinheiro. Por isso a conta de padeiro, despretensiosa e imprecisa. Nem todas as térmicas vão ser instaladas e nem se sabe se vai ter gás chegando até elas. Além disso, sempre passam por um período de manutenção que também não foi considerado nas minhas contas. (*)

Portanto senhores deputados, vamos ao que interessa: o bolso do consumidor. Se a conta da energia térmica a gás não for 70 bilhões de reais/ano, vai ser algo dessa ordem de grandeza. A pergunta que eu quero fazer aos senhores, é quem vai pagar essa conta? Diante do esperado silêncio, me antecipei: o povo! Palavra mágica para os políticos. Logo quiseram saber o porque de tanta certeza. A resposta foi imediata, pelo estudo recentemente divulgado pela FIESP (quando é da FIESP eles prontamente acreditam). Sugiro a leitura, foram minhas últimas palavras antes de acordar. (**)

(*) Os deputados e senadores não tem noção do quanto de energia  empurraram no "jabuti" das térmicas a gás. Só como comparativo Itaipu gerou, em 2020, 76 milhões de MWh.

(**) A FIESP alerta que o impacto do custo da energia gerada pelas térmicas a gás, vai cair sobre os consumidores cativos. Os grandes consumidores estão migrando para o mercado livre. Nos próximos anos o custo da energia praticado pelas concessionárias será impagável. O que de certa forma explica as dificuldades que estão sendo criadas para que a geração distribuída não avance no país. Querem manter seus "consumidores cativos". Simples assim. 

PS - O que está se passando com  o setor elétrico é tão grave que torço para estar enganado. Não tive um sonho, foi um pesadelo! 


2 comentários:

Mirian disse...

Sempre claro e conciso ! Parabéns Mauro
Sorte tem quem le teus artigos! Saúde!

Mirian disse...

E a outra razão fundamental: o que é estratégico pra uma nação jamais poderias ser privatizado !