terça-feira, outubro 05, 2021

Catarina, parabéns pela data. De um avô distante, saudoso e sonhador.

                   Na Baia Norte, o verde do Parque da Luz e a Ponte Hercílio Luz 
Florianópolis, primavera/2021

Minha neta Catarina, que nasceu nos EUA, em Austin, no Texas, onde seus pais lecionavam,  completa dois anos hoje (5/10). Em função da pandemia estamos há um tempo sem vê-la. Claro que o WhatsApp ajuda, mas não é a mesma coisa. Recentemente a família se mudou para Madison, em função de uma nova oportunidade que surgiu para eles na Universidade de Wisconsin. 

Em função do aniversário da neta, muita coisa relacionada a ela aconteceu. As fotos que chegam, as fotos que vão, a compra dos presentes e o envio dos mesmos, fez com que Catarina quebrasse a rotina dos avós. Como sonho muito, não me surpreendi de ter sonhado com ela nessa semana. Um sonho tão louco e ao mesmo tempo tão lindo, que só acontece de tempos em tempos.  Quando acontece costumo registrar, fazendo do blog um diário.

A história se passa num sábado em Florianópolis, numa tradicional travessia a nado que acontece na primavera. No sonho não consegui identificar o lugar, se era na Lagoa, na Beira Mar, em Santo Antônio ou até mesmo em Coqueiros. Para chegar até a beira da água foi uma dificuldade. A cada ano ficava pior, afinal três semanas atrás tinha feito 90 anos. Sozinho, no meio daquela agitação toda, lá estava eu entrando no mar sem ter tirado o tênis. (*)

Quando o tênis começou a pesar, uma jovem com corpo de nadadora, bonita e muito simpática se aproximou rindo e já foi resolvendo a minha situação: sem pedir foi tirando  o tênis. Não satisfeita, se encarregou de guardar debaixo de um banco. Entramos juntos na água. Ao longo da prova percebi que ela estava sempre na volta, como se estivesse me cuidando. Às vezes passava na frente, depois ficava do meu lado e assim foi o tempo todo. Parecia um anjo da guarda.

Na chegada, trôpego pelo esforço da prova, novamente o velho tênis à me atrapalhar. Não sabia o que tinha feito com ele.  Cansado e desolado resolvi esperar para ver se aparecia uma alma boa para me ajudar como tinha acontecido na largada da prova. Não deu outra, no meio da multidão a mesma moça, com o mesmo sorriso, vinha ao meu encontro com o tênis na mão. Se sentou no chão e enfiou o par de tênis nos meus pés murchos. Quando terminou levantou a cabeça e com aquele olhar marcante, num português pausado, falou as últimas palavras antes que eu acordasse: vô não estás me conhecendo, sou a tua neta.

Não sei como é com vocês, mas se o sonho é bom a gente não quer acordar. Com a Catarina foi o que aconteceu. Quando acordei olhei em volta e ela não estava lá. De imediato tentei fechar os olhos para trazer o sonho de volta, mas não consegui. Como um avó saudoso e distante,  abraçar e falar com a neta ficou só na vontade. Aliás, como acontece em sonhos...  

(*) Como ex-vereador, ex-deputado federal  e agora um blogueiro, parei para pensar que lugar poderia receber a Travessia da Primavera. De imediato me veio à lembrança um projeto que sempre sonhei; a despoluição das nossas baías. A importância urbana  para a volta da balneabilidade na região central, tão esquecida no tempo e tão cheia de promessas. A prova sairia da Ponta do Coral, cruzaria a Ponte Hercílio Luz até chegar ao Parque de Coqueiros. Nessa cidade sustentável e inclusiva, onde passado e futuro caminham juntos, no alto da Ponte Hercílio Luz pais e avós se encontram para acompanhar as braçadas de filhos e netos na Travessia da Primavera. (foto acima) 

PS - A Ponte Hercílio Luz resiste ao tempo, é do início do século passado (de 1920 a 1926). O Parque de Coqueiros, o Parque da Luz e a Ponta do Coral são legados de movimentos da comunidade em defesa do espaço público que se iniciaram no fim do século, anos 90. 


Um comentário:

Sérgio Porto disse...

Mauro,

Parabéns pela Catarina!

Um grande abraço!

Sérgio