segunda-feira, outubro 23, 2023

O alerta que vem da Amazônia


Na Amazônia os rios são as estradas

As consequências da seca no Norte e as inundações no Sul, tem trazido preocupação e muita incerteza. No ar fica aquela sensação de que "só sei que nada sei". Na última semana de setembro a usina hidroelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, uma das maiores do Brasil, com 50 turbinas e 3.568 MW de potência, foi desligada por falta de água. As outras duas hidroelétricas na mesma bacia, Jirau e Belo Monte, convivem com semelhante problema: muita turbina para pouca água. As três em valores atualizados, custaram bem mais do que 100 bilhões de reais. Mais uma lição que a Amazônia nos dá.

Para quem é do setor e tem liberdade de opinião, nenhuma surpresa. A poucos quilômetros de Manaus, uma outra hidroelétrica, Balbina, nos envergonha. Construída pelos militares, é considerada por especialistas como "a pior hidroelétrica do mundo": se gastou muito para gerar pouco. O reservatório ocupa uma área de 2,3 mil quilômetros quadrados. Para efeito de comparação, são seis vezes a área da Ilha de Santa Catarina, sede da capital e suas quarenta e quatro praias. Com certeza, Balbina não devia estar ali. A imensa área inundada, só confirma a extensão do crime ambiental que fizeram. (*)

A retomada do tema tem inúmeras motivações. A primeira é de um procedimento habitual, sempre que o assunto desperta interesse nas pessoas ele volta a ser abordado. Como os textos são curtos, sempre se tem algo à acrescentar. No caso em questão o momento exige muita atenção e reflexão. A Amazônia está sob observação. A pressão para se construir novas usinas, é uma realidade. Os chamados "jabutis do Lira", também. As comunidades isoladas pela seca, precisam de atendimento imediato. A busca pela preservação  da maior floresta tropical do Planeta, é antes de tudo um processo civilizatório. (**)

Os debates estão crescendo dentro da sociedade. O atual governo "fechou a porteira" aberta pelo Salles, que tanto mal causou. A ação em curso contra o desmatamento e o garimpo ilegal tem apresentado bons resultados. As redes de facilidades alimentadas pelo governo passado, estão sendo desbaratadas. A Polícia Federal, o IBAMA, o Ministério Público, com o apoio das Forças Armadas estão agindo com rigor para acabar com grileiros, garimpeiros e traficantes que se sentiam em casa para promover seus crimes. 

Por sua vez, a ONU já confirmou Belém (PA), como sede da COP - 30.  A conferência do clima será em novembro de 2025. Um lugar próprio para encontrarmos soluções que ainda não encontramos. Uma oportunidade única para o Brasil. A hora de pensarmos nos ribeirinhos, nas áreas de preservação, nas comunidades indígenas, na riqueza da biodiversidade, na segurança dos que vivem e dependem da floresta, dos seus pequenos projetos que geram emprego e distribuem renda; é agora. 

(*) A maior usina solar do Brasil, Janaúba, em Minas Gerais, recentemente inaugurada, tem uma potência de 1,2 GW, podendo atender de energia elétrica hum milhão de residências. A usina conta com  2,2 milhões de módulos fotovoltaicos e o investimento foi de quatro  bilhões de reais. Para dar uma ideia de como avançamos, doze anos atrás estive no deserto do Arizona para conhecer uma dos maiores parques fotovoltaico que havia nos EUA, tinha 1/3 da potência instalada de Janaúba.

(**) Uma rede de gasodutos na Amazônia para atender "os jabutis do Lira", que ninguém sabe quanto vai custar, ou se sabe não diz, é impensável. Propor novas barragens na Amazônia, que custam muito e geram pouco, é insistir no erro. A área equivalente aos reservatórios das hidroelétricas da Amazônia, de forma descentralizada e bem distribuída, daria para gerar com painéis solares toda a energia que o Brasil precisa. Quanto a intermitência, um problema que costuma ser levantado, no futuro a solução virá através de grandes grupos de bateria de última geração. Um caminho natural à ser seguido pela mobilidade elétrica, como pelo hidrogênio verde.

PS - Na Amazônia os rios são as estradas, navegar é preciso. Só que na seca as pessoas não se deslocam, o que é básico para a população ribeirinha não chega. Estima-se que 500 mil pessoas estão nessa situação. Uma tragédia ambiental e humana. Dependendo do nível dos rios as capitais também sofrem as consequências. Toda a logística que envolve a floresta passa, necessariamente, por elas. Em Manaus, maior porto da região, a seca está prejudicando a sua operação. A movimentação de pessoas, turistas, carga e descarga está caótica. Na foto acima, uma imagem de Boa Vista e o desnível do rio Branco que banha a capital de Rondônia.  

 

  

 


Nenhum comentário: