quarta-feira, dezembro 20, 2023

O futuro é verde

Dia 20 de dezembro numa Ilha escaldante, meu neto que nasceu no meio de uma nevasca em Madison, no Wisconsin, me fez refletir sobre o futuro. A vontade de registrar esse momento da presença de quem eu vi nascer, mas ao mesmo tempo sem querer parecer a mensagem de um avô sentimental, fui em busca de algo com mais conteúdo. A humanidade e seus grandes desafios precisam encontrar o bom caminho para nossos descendentes  

O artigo de Fabio Alperowitch, fundador e CIO da Fama, reconhecido pelo seu engajamento nas questões ambientais, direitos humanos e sustentabilidade foi onde encontrei o que procurava. Publicado recentemente na Revista Época Negócios, a chamada para a leitura dá o tom da conversa e mostra a percepção de mundo do autor. Seu texto flui, começa assim: "Se faz mal para o planeta não é investimento". Segue abaixo  na íntegra:

Direto ao Ponto

"A evolução do conceito de investimento no contexto contemporâneo, especialmente em um cenário global cada vez mais consciente das mudanças climáticas e da degradação social, destaca uma realidade inevitável: investimentos prejudiciais ao planeta não são sustentáveis e, portanto, não deveriam ser reconhecidos como investimentos legítimos.

Esta perspectiva redefine não só ética financeira, mas também sinaliza uma transformação fundamental na essência do investimento econômico.

Investir com consciência socioambiental deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade. A exploração insustentável de recursos naturais e o aprofundamento das desigualdades sociais constituem uma ameaça social e um risco financeiro considerável. A longo prazo, as consequências do desrespeito aos seres humanos e ao meio ambiente podem resultar em custos enormes, tanto em termos de reparação de danos quanto de perda de capital e oportunidades. Assim, um investimento que ignora as externalidades negativas compromete sua própria base de sucesso futuro.

A adoção de critérios ambientais, sociais e de governança nos processos de tomada de decisão de investimentos é um passo crucial nesta direção. Integrar esses critérios na análise permite avaliar empresas não só por seu desempenho financeiro, mas também pelo impacto nos stakeholders e no ecossistema, rompendo com a visão tradicional que frequentemente negligencia tais aspectos em busca da maximização de lucros, independentemente de como tal lucro foi obtido.

O ano de 2023 evidenciou casos extremos, iniciando com a descoberta de uma fraude bilionária em uma varejista tradicional, passando pela violação de direitos humanos de centenas de trabalhadores escravizados por vinícolas nacionais e encerrando com uma grande empresa sendo reincidente no rompimento de barragens e afetando a vida de dezenas de milhares de maceioenses. Deveria o dinheiro financiar tais práticas?

Contudo, a existência de exemplos extremos mais confunde do que esclarece o que seja investimento responsável e ético. A tendência do investidor é acreditar que se seus investimentos não financiam o que esteja extremamente errado, então são automaticamente éticos – e esse é um conceito equivocado.

A esmagadora maioria dos investimentos não financia o controverso, mas o status-quo, que justamente produziu as desigualdades e emergência climática na qual vivemos. Apenas afastar-se do controverso significa normalizar o problemático status-quo.

Em contraste, os investimentos que promovem uma agenda positiva ainda representam uma pequena fração da indústria. Segundo dados da ANBIMA e da Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs - 2021), os investimentos de impacto correspondem a apenas 0,2% do total dos ativos detidos por investidores, um percentual insignificante.

Embora haja um debate sobre como integrar melhor as considerações ESG no processo de avaliação de investimento e garantir avaliações rigorosas e confiáveis, grandes detentores de ativos, tais como os fundos de pensão, seguradoras e famílias, devem se comprometer com investimentos éticos, incorporando responsabilidade além da rentabilidade.

Além disso, a crescente conscientização pública e regulamentações mais rigorosas estão pressionando muitas indústrias a reconsiderar suas práticas. Investidores que reconhecerem e se adaptarem a essa transição estarão mais bem posicionados para se benefícios a longo prazo, inclusive incrementando seus retornos financeiros.

A ideia de que "se faz mal para o planeta, não é investimento" reflete uma compreensão mais profunda e responsável do papel do capital no mundo moderno, sendo uma necessidade econômica pragmática: ignorar questões socioambientais compromete a vida humana, a saúde do planeta e a viabilidade de seus retornos financeiros.

O desafio é equilibrar a lucratividade com a preservação da vida e do meio ambiente. Isso exige uma mudança de paradigma e adaptação a um mundo em constante transformação.

A interdependência entre economia, sociedade e ecologia é indissociável, e a adoção de práticas de investimento sustentáveis tornou-se um imperativo não apenas moral, mas também estratégico." 

BOAS FESTAS! QUE O TEXTO ACIMA NOS AJUDE A PENSAR E SE POSSÍVEL A NOS REINVENTAR. QUE VENHA 2024. 


 

 

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