domingo, março 09, 2025

"VAI PASSAR", de Chico Buarque (*)

Na última segunda-feira, dia 3, depois de um palco montado na Casa Branca, Trump leva adiante seu plano: suspendeu qualquer tipo de ajuda militar à Ucrânia. Ele sabe perfeitamente o que isso significa, uma guerra sem armas e sem dinheiro acaba. Uma outra leitura à ser feita dessa nova relação dos EUA com o conflito armado que já dura três anos entre Rússia e Ucrânia, foi a visível aproximação de Trump com Putin e o afastamento  gradual dos EUA com seus históricos parceiros, os países membros da União Europeia. Em um mês o que se viu foi um comportamento típico de quem gosta de jogar. Na próxima semana tudo pode mudar. Como nada é por acaso, vai passar. 

Uma guerra de origem suspeita, criada para durar um mês perdura no tempo. Quando passar, a população vai cobrar. Enquanto Zelensky viajava pelo mundo, ela convivia com mortes e escombros. Na primeira semana do conflito cerca de 2 milhões de civis já tinham deixado a Ucrânia, hoje são 10 milhões. Ao contrário que Zelenski apregoava, não havia um clima de morrer pela pátria. No fundo os ucranianos não sabiam direito o que estava acontecendo. Quem criou a hostilidade foram os próprios governantes autoritários dos países envolvidos. O que antes Zelensky falava como apoio militar, agora virou conta para pagar. O custo dessa guerra vai ser alto, aguardem: só está começando.

Com a posse de Trump, a um pouco mais de um mês, o mundo mudou. O que se tem hoje é uma insegurança total. Os históricos países adiados dos EUA e mais Zelenski,  ficaram sem rumo. Trump trouxe para si as cartas do jogo. A conversa com Putin, por exemplo, foi entre gente que se conhece de outros "carnavais". Segundo Bill Browder, CEO e Fundador do Hermitage Capital Management, uma relação que se fortaleceu na eleição de 2016, quando Trump venceu Hillary Clinton. A entrevista na íntegra está disponível, na Folha, 3/4/2022, página A19. Vale a pena ler. Afinal, nada é por acaso.

Desde o primeiro momento do conflito registro no blog De Olho no Futuro, a insanidade dessa guerra. Rússia e Ucrânia são bem mais que dois vizinhos, por muitos anos fizeram parte da mesma nação. O parentesco atravessa fronteiras, o povo nunca quis essa guerra. Lideranças politicamente enfraquecidas enxergaram no conflito a possibilidade de se fortaleceram no puder. Às vezes pode até dar certo, só que essa mudança radical dos EUA em relação a guerra não estava no roteiro. A OTAN, sem o seu principal aliado ficou sem chão. A Europa fragilizada como está, não tem condições políticas e econômicas de cumprir o que está prometendo.  Quem já percebeu esse vazio de liderança foi Macron e já dá sinais que está se movimentando para ocupá-lo.  

Quanto ao Brasil, no campo da diplomacia o país deu uma grande guinada. Felizmente saímos do atraso da era do "puxadinho" e voltamos a ter protagonismo fora das nossas fronteiras. Como todos sabem é lá que Lula se supera, adora o que faz. Se relaciona muito bem com os principais players globais. Sem titubear se colocou contra as guerras em curso, mostrando o compromisso do Brasil com a paz. Com determinação agilizou e viabilizou o Acordo Mercosul/União Europeia. Como um dos criadores do BRICs ampliou e fortaleceu o banco. Presidiu o G20 em época de turbulência e  fez crescer nossa Balança Comercial. Para uma liderança da América Latina é um legado significativo. .

De olho na questão ambiental, a país irá sediar a COP30. Portanto, sua agenda externa é atual e do bem. Um desafio e tanto, justamente no momento que os EUA, por opção, se afastaram de todos os eventos, organizações e fóruns globais que tenham algum tipo de relação com essa temática. Uma das primeiras medidas anunciadas por Trump foi mostrar sua indiferença às questões climáticas e ambientais, o que sem dúvida irá impactar diretamente na COP30. Por outro lado, como cresce um sentimento de que o mundo não gira ao redor de Trump, os demais países podem responder dando mais atenção à COP30. O próprio Papa Francisco, mesmo com as dificuldades de saúde que atravessa, tem orientado a Igreja na inclusão da Campanha da Fraternidade deste ano - a busca de conscientizar os fiéis e a sociedade sobre a importância de cuidar da relação harmoniosa entre o ser humano e o meio ambiente.(**)

Para quem acompanha o lado sério da política percebe o tamanho dos desafios que um mundo virado de cabeça para baixo está a nos exigir. No nosso caso em particular a intolerância de uma oposição local sem noção, já ultrapassou todos os limites. Como estamos num país tropical bonito por natureza, o ódio "vai passar". Afinal, acabamos de mostrar para o mundo do que somos capazes de fazer. Todos viram em tempo real a maior festa popular do Planeta, o Carnaval. Que se aprenda com ele, só chegou onde está por uma única razão: os envolvidos remam juntos. Sempre procurando fazer com que o próximo Carnaval seja  melhor que o do Ano anterior. Essa é a magia do Carnaval. Simples assim.

(*) "Vai Passar" é um samba enredo de Chico Buarque, de 1984. Em plena ditadura, uma obra prima. No domingo de Carnaval quando blocos e escolas desfilavam, o Brasil inteiro festejava nosso Oscar de melhor filme estrangeiro. "Ainda estamos aqui.",  resistindo.

(**) Trump está de olho no Papa Francisco. Tudo que ele não quer é um Papa com uma agenda progressista. Dia 10/3, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, às 19 horas, em alusão à Campanha da Fraternidade deste ano, uma proposta do deputado Padre Pedro Baldissera (PT), serei um dos homenageados. Grato pela lembrança.    


 

 

Nenhum comentário: