quinta-feira, abril 24, 2025

O PAPA É POP

                                                Papa Francisco (17/12/1936 a 21/4/2025)

Quis o destino que o Papa Francisco nos deixasse na Páscoa. Depois de uma longa permanência hospitalizado, debilitado, precisou recorrer a um tratamento intensivo. Quando saiu da UTI foi para o quarto e por sua insistência voltou para a casa com todos os cuidados necessários. O sentimento de alívio foi grande quando apareceu na sacada e circulou no Papa Móvel pela Praça São Pedro. Com as boas notícias, ninguém esperava por seu óbito dia 21. Ao nos deixar na Páscoa, por tudo que fez pela humanidade, acabou sendo uma abençoada coincidência.

O papado de Francisco durou exatamente 12 anos e 35 dias, não foi o mais longo, mas com certeza o mais marcante. A repercussão que teve no mundo confirma esse sentimento, o Papa é pop. O seu legado tá rua, nas mudanças doutrinárias e estruturais da Igreja e no acolhimento aos que mais necessitam.  Seus compromissos e preocupações extrapolam as fronteiras do Vaticano. Sua indignação em relação as guerras, ao descaso com os imigrantes e aos menos favorecidos, se somam a uma das suas principais causas: a proteção ao meio ambiente e os efeitos das mudanças climáticas no nosso Planeta.

Pelo fato de nunca ter voltado ao seu país, a Argentina, o Papa acabou trazendo para si a curiosidade sobre esse estranho afastamento. No caminho do aeroporto de Buenos Aires se passa pela Igreja de Jorge Mário Bergoglio, que os taxistas fazem questão de mostrar como a Igreja do Papa. De forma carinhosa comentam a importância de seu papel durante a ditadura, de sua aproximação com aqueles que mais precisam e uma relação de profundo constrangimento com o poder na Argentina. Por outro lado, nunca compactuou com as mazelas da política e a corrupção endêmica no seu país. 

No parágrafo anterior, sem maiores pretensões analíticas e comportamentais, dá para compreender as razões de Jorge Mário, como Papa, não ter voltado ao seu país. Durante a ditadura seu envolvimento como negociador  junto aos militares salvou muita gente da morte, mas para alguns historiadores essa aproximação da Igreja Católica com a Junta Militar nunca foi vista com bons olhos pela esquerda argentina. Depois veio um longo período de uma transição democrática tumultuada com governantes corruptos, políticos despreparados e uma frágil democracia. Recentemente, como Papa, seu maior desconforto foi quando o atual presidente da Argentina,  Javier Milei, publicamente, comparou o Papa Francisco ao demônio. De uma agressividade gratuita e descabida.

Agora com sua morte, cerca de 170  Chefes de Estado já confirmaram  presença no seu funeral. A pergunta que se faz é porque todos querem estar lá, inclusive Milei. As interpretações  conforme os interesses podem variar, mas o sentimento mais perto da unanimidade é de reconhecimento e de profunda admiração, por um homem, religioso, latino, dedicado a periferia, que conseguiu mudar a Igreja Católica. Como Papa não se omitiu, condenou as guerras, alertou o mundo sobre o clima, a fome e a desigualdade. Ninguém chegou perto dele, Francisco é o nome do Século.

Sua simplicidade e humildade o acompanham no tempo. Quando se ajoelha para lavar o pé de um enfermo, ou rompe a segurança para abençoar uma criança, faz por entender que é essa a mensagem que tem que deixar. Quando expulsa da Igreja padres, bispos e cardeais, por má conduta, faz por entender que é sua obrigação agir assim. O Papa é um líder espiritual, não precisaria se indispor internamente e muito menos com uma parcela conservadora dos seus fiéis. À rigor, Papa não precisa de voto como os políticos dependem. Estar livre dessa condição, só reforça a espontaneidade de multidões que se formam nas ruas para se despedir de Franciscus. Vá em paz. 

   

 

  

Nenhum comentário: