A pandemia virou o assunto do dia. Em todos os lugares só se fala nisso. Na última sexta-feira, três amigos devidamente vacinados se encontraram para conversar: um médico famoso, um advogado que presidiu a OAB/SC e um blogueiro sonhador. A conversa acabou girando em torno dela. Em 2019, nos encontrávamos para falar da vida como ela é. Em 2020 com a chegada do vírus, acabou o nosso sossego. O número de óbitos se tornou algo impensável, trazendo a dor e banalizando a morte.
Naquela mesma semana, duas pessoas próximas que respiravam arte e cultura, vieram a falecer. Automaticamente, a pergunta que se ouvia "de covid"? Não foi o caso, mas mostra como o vírus está presente no dia a dia da gente. Independente da causa, a morte igualmente levou seus projetos e sonhos. Inquietos por natureza, viveram intensamente. Meus sentimentos, a Carmen Fossari e a Luís Antônio Martins Mendes, o Totonho.
Logo depois do falecimento do Totonho, recebi uma crônica escrita por ele há mais de 20 anos. O papel amarelado pelo tempo registrava um fato ocorrido com uma pessoa marcante, que a todos encanta. O amigo comum, José Antônio Stallivieri, a quem chamo de excelência ou de don José .
Segundo Totonho, "Zé Antônio é daquelas pessoas que circula com intimidade entre o seu ganha-pão e seus sonhos". Gourmet de fino gosto é um perfeito anfitrião. Na época trabalhava na Embratel, onde sua lembrança perdura no tempo.
Com essa rápida introdução, voltemos no tempo. O motivo da crônica foi o jogo amistoso da Seleção Brasileira contra a Dinamarca, na Ressacada. O espetáculo estava montado, campo do Avaí, julho de 1996, em Florianópolis. No banco da seleção um jovem atacante, com apenas vinte anos, aguardava uma oportunidade, Ronaldo Nazário.
A Embratel era a responsável pela transmissão para todo o Brasil, seus profissionais com a adrenalina nas alturas. No momento derradeiro, com a Ressacada lotada, a bola já no meio do gramado, o locutor de uma rádio do Espírito Santo pede socorro ao pessoal da Embratel, o comentarista tinha perdido o avião.
Orlando Celso, que chefiava a equipe, não perdeu tempo: "a Embratel está aqui para ajudar". Na mesma hora providenciou um substituto. A solução encontrada, tinha nome e história para contar: José Antônio. Para o gerente administrativo da Embratel em Santa Catarina, foi um momento inesquecível. Jamais pensou que ia realizar seu sonho de criança, comentar um jogo da seleção. Quando acionado pelo locutor era chamado de "comentarista da pesada", em homenagem ao seu corpanzil.
Totonho encerra sua crônica lembrando que o menino de Caxias do Sul, se revelou um sucesso. "Com a antecedência de um Nostradamus, previu, entre outras coisas, a substituição do Amaral, o gol do Ronaldinho e o placar final".
Acima descrevo de forma resumida, a vida como ela é: com bons e maus momentos. Só que agora as boas notícias se foram. Quem podia imaginar que o Brasil ia virar no que virou...
PS Em 2003, eleito deputado federal, don José, já aposentado, se ofereceu para me ajudar como voluntário. Sem qualquer remuneração, se mudou para Brasília. Sempre alegre, cuidava de tudo. No gabinete, o "excelência" era ele. Bons tempos.
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