Ainda sobre a privatização da Eletrobras

 Quando me ligaram hoje pela manhã para saber minha opinião sobre a privatização da Eletrobras, logo associei a iniciativa aos lobbies que estão por trás de mais uma obscura privatização. Só que não é qualquer privatização, a da Eletrobras compromete o nosso futuro como nação. Os desencontros são tantos e começam na própria Câmara.

Ainda ontem, 19, no JN, o relator da MP que abre o caminho para privatização da Eletrobras, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), foi alvo de graves críticas. A medida provisória impunha a contratação de térmicas a gás como condição prévia à privatização. Nunca pensei que pudessem chegar a tanto.

Com ampla maioria na Casa, os deputados governistas estão sendo levados pelo canto das sereias. Se todos sabem que a energia mais cara e a que mais impacta no bolso do consumidor é aquela produzida pelas usinas térmicas, não faz o menor sentido incorporar numa MP a obrigatoriedade da Eletrobras privatizada assumir a compra de um volume cativo dessa fonte de energia.

Sem querer menosprezar o Poder Legislativo, do qual fiz parte, acolher um "contrabando" desse tamanho só mesmo quem está comprometido com algum lobby. Em geral os deputados não gostam de ter seus nomes associados a aumento de impostos,  tarifas e preços de serviços e produtos essenciais  (água, gás, diesel, pedágio, energia elétrica, plano de saúde).  Logo vai se saber a razão de tanto açodamento. É a "boiada do Salles" passando. (*)

A presença das térmicas já está sendo sentida no bolso do consumidor. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) já autorizou usar ao máximo as térmicas que temos. Pasmem, "sem limitações nos montantes e preços associados". Basta ler o que estão dizendo para entender o que estão propondo. Um setor vital da economia está sem rumo. A crise energética só não está pior por causa da covid,  que fez a economia recuar em 2020.

Os absurdos propostos são tantos que alguém deve estar ganhando. No mundo todo os países estão substituindo geração térmica por fonte renováveis. No Brasil do  Bolsonaro, querem fazer o inverso: garantir previamente via MP uma forte presença de usinas térmicas na nossa matriz. As consequências serão nefastas para a economia, em razão de um aumento geral nas tarifas. Alguns técnicos do setor alertam para reajustes tarifários de 10 até 20% a mais do que era previsto. A forma como as térmicas estão inseridas no modelo de geração "não é compatível com a nossa realidade".

(*) De tanto olhar para a boiada passando Salles se atrapalhou. É o que está apurando o STF.

PS - Senhores deputados,  estamos despachando térmicas a um custo de 1.600,00  reais o MWh, quatro vezes mais do que nos custa gerar essa mesma energia usando o sol e  o vento.