"De Olho no Futuro", linha editorial que sigo, no blog e nas redes sociais, algo que até então nunca tinha abordado virou pauta global. Só em 2024 milhões de pessoas entraram na lista dos envelhecidos desamparados. Nos EUA, o envelhecimento de um candidato modificou o cenário de uma eleição. No Uruguai o apoio incansável de um idoso, o ex-presidente Pepe Mujica, foi decisivo na eleição do seu candidato Yamandú Orsi. O que de certa forma confirma o que penso, cada caso é um caso.
Biden e Mujica, pelo que representam, são pontos fora da curva. A preocupação que permeia o debate mais amplo desse problema é o que fazer com a realidade do planeta que recebe, sem o devido acolhimento, milhões de idosos por ano. A grande maioria, sem a menor condição de se manter com dignidade. Em quase todos os países os sistemas previdenciários, públicos e privados, se afastam cada vez mais do compromisso de atender as demandas crescentes desse grupo de pessoas.
Como regra geral, o que se observa são despesas crescentes para viver e um retorno previdenciário cada vez mais insuficiente. As contas não fecham e nem todos conseguem uma atividade extra para atender suas necessidades básicas. Sem essa possibilidade vem o desencanto e um afastamento natural de amigos e familiares. Afinal, ninguém se sente bem nessa situação.
Por muito tempo esse quadro foi encoberto pelos próprios idosos, muitos por vergonha de relatar a penúria que vivem e outros porque se desfizeram de algum patrimônio para sobreviver. Só que a triste realidade dos aposentados é cada vez mais visível. Com o futuro cheio de incertezas e a idade chegando, acabam ficando à margem da sociedade.
Pela primeira vez nos fóruns mundiais se percebe uma movimentação sobre essa situação. Só que cada país tem as suas contradições. No nosso caso então, são gritantes: enquanto a grande maioria dos aposentados contam moedas, outros recebem gordas aposentadorias. Uma possibilidade já aventada seria absorver aposentados trazendo de volta para a atividade laboral. O empregador teria algum tipo de incentivo, como no caso dos jovens aprendiz, só que se corre o risco do patrão se desfazer de um empregado que lhe custa mais.
Portanto, o problema está colocado: discutir um envelhecimento saudável sem uma aposentadoria justa é conversa fiada. O sistema previdenciário que estamos inseridos precisa se autoalimentar para ficar de pé. Atualmente, o que se vê ou é PJ ou emprego informal. A conta não fecha, precisa de recursos de fora do sistema previdenciário. Talvez uma renda mínima, eterna bandeira do senador Suplicy, ou algo parecido, possa ser um caminho. Enfim, vamos aguardar que alguém mais preparado possa saber o que fazer.
Como nada é por acaso, a motivação sobre o artigo veio justamente agora, na semana que o governo vai anunciar corte de gastos. Não é hora de passar a conta para os que mais precisam e sobrevivem à duras penas com um salário mínimo. O governo tem os números e sabe onde precisa cortar. O que se espera é que façam os cortes onde eles devem ser feitos. Estamos atentos.
PS - Depois de aposentado trabalho como voluntário em projetos que considero capaz de contribuir. Em 2007 foi assim com o Instituto IDEAL e agora em 2024 com o IMPAC. Por 10 anos exerci mandato de vereador e deputado federal. Sempre tive a compreensão que não se tratava de uma relação de emprego. Por isso não participei dos seus fundos previdenciários.
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