domingo, novembro 03, 2024

EUA e URUGUAI, em comum: eleições em novembro

 

                           Pepe Mujica e Lucia Topolanski, companheiros de vida

Afinal, o que tem os EUA e o Uruguai em comum. A princípio nada, um fica da América do Norte e o outro na América do Sul. Um é o maior país em extensão, no tamanho da população, sem falar no seu poderio militar e na sua influência global. O outro, em termos comparativos, é quase o inverso em tudo. Diante da diferença gritante entre os dois, como curiosidade cabe uma indagação que poderia resultar numa reflexão política, teriam por acaso algo em comum: fora eleger seus próximos presidentes em novembro.

Nos EUA, por exemplo, ninguém sabe o resultado da eleição. Um processo eleitoral confuso, que perdura no tempo e que pode eleger tanto um democrata como um republicano. As grandes questões que tocam no povo americano, aparentemente, ficarão como estão. A incerteza quanto ao futuro do país continua, estudos mostram que em 2050 a maioria da população será latina. O que irá em breve pesar no resultado eleitoral e na relação dos EUA com os latinos. Outra preocupação dos americanos é o crescimento da economia asiática e os seus  efeitos na geopolítica global.  

Por outro lado, no Uruguai temos poucas incertezas. A Frente Ampla se mostrou unida e consolidada, por pouco não vence no primeiro turno.  Em apenas duas décadas se construiu uma história política única na América Latina. O Uruguai, um dos poucos países sem reeleição, enfrentou uma forte ditadura. Partidos tradicionais que se revezavam no poder, perderam espaço para uma Frente Ampla de oposição. Através dela foram criadas as condições políticas para eleger em 2004 Tabaré Vasquez e depois Pepe Mujica. Os uruguaios frentistas voltaram a eleger Tabaré Vasquez e ao que parece agora em novembro devem eleger Yamandú Orsi, do grupo-político do ex-presidente Mujica.

O Brasil, obviamente, acompanha as duas eleições com atenção. Seu papel de liderança na América Latina, apesar de alguns deslizes na diplomacia, é inconteste. Uma aproximação com os democratas nos EUA é visível, mesmo o presidente Lula tendo desde do início se mostrado contra as guerras em curso alimentadas pelo governo Biden. Numa avaliação mais ampla, parece evidente de que Trump traria mais dificuldades para uma relação de normalidade entre os governos. Nessas horas o pragmatismo decide. 

Quanto ao retorno da Frente Ampla ao governo do Uruguai, é a volta dos que sonham juntos. Sonhos não morrem. Quando Tabaré Vasquez se elegeu em 2004, fazia parte do Parlamento do Mercosul e participei do processo eleitoral como Observador Internacional. A escolha do candidato, um médico reconhecido internacionalmente, não foi um processo fácil. O que vivenciamos foi um grande esforço de superação para que os partidos e grupos políticos entendessem que o momento exigia compreensão, desprendimento e unidade.

Lula sabe melhor do que ninguém a importância de se ganhar apoio, além dos que já tem. Nada de muito diferente do que quando se elegeu a primeira vez em 2002 e se reelegeu em 2006. Quando precisou ampliar seus votos em 2022, não lhe faltou apoio. Em janeiro de 2023, logo depois da posse, sob a ameaça de um golpe, para defender a DEMOCRACIA, rapidamente a sociedade agiu como uma “Frente Ampla” ao defender seu mandato. Até quem não votou nele, ficou do seu lado. Lula sabe que as pressões internas persistem e que o Brasil está sendo disputado. Afinal, foi durante seus governos que o país ficou entre as 10 maiores economias do mundo. O país está na vitrine, disputá-lo faz parte do jogo democrático. Só não precisa ser com negacionismo, ataques pessoais e descaradas mentiras.

PS- Na foto acima, um olhar de cumplicidade e bondade de uma longa militância.  Juntos, Lucia Topolansky e Pepe Mujica ajudaram a criar e consolidar a FRENTE AMPLA, principal força política do Uruguai. Até hoje moram na mesma chácara, o Rincón del Cerro. Nem quando foi presidente deixou sua morada, onde cultiva suas flores. Ao contrário dos candidatos à presidência dos EUA que gastam fortunas nas suas campanhas, Pepe ganharia qualquer eleição no Uruguai vendendo suas flores na rua.      

 

   

quarta-feira, outubro 16, 2024

A Doce Vida

                          Um hotel universitário só para ex-alunos (Universidade do Arizona)  

Dolce Vita do lendário Federico Fellini, marcou o auge do cinema italiano na década de 60. Com Marcello Mastroianni e a estonteante Anita Ekberg, cenas como a da Fontana di Trevi permanecem vivas nos "tiozinhos e avós de hoje". Uma prazerosa lembrança perdida no tempo e na correria da vida, por acaso resgatada quando no campus da Universidade do Estado do Arizona, a famosa USA, um bistrô chama atenção pelo sugestivo nome Dolce Vita. (foto acima)

A curiosidade foi imediata e o nome logo identificado como muito apropriado. O bistrô pertence a um mega hotel da própria universidade, concebido e construído para receber alunos  aposentados que costumam visitar o  Campus. Diante da inusitada situação, completamente fora da nossa realidade, deu para saber que o hotel está sempre ocupado e é um local de encontro por excelência.

Quando se convive com a realidade do mundo acadêmico nos EUA e sua forte relação com a comunidade, faz sentido um hotel para ex-alunos. Primeiro porque se reforça um vínculo permanente com milhares de antigos estudantes que participaram dos bons momentos das suas vidas no Campus, ao se oportunizar um espaço de acolhimento. Segundo, a própria história mostra que boa parte dos recursos extraorçamentários das universidades americanas vem de contribuições e doações direta de ex-alunos. No caso da USA, o montante advindo de terceiros é maior que o seu próprio orçamento. (*)

Outra relação fortíssima entre alunos e ex-alunos com suas universidades, é com o esporte. Futebol Americano e Basquete universitário carregam multidões de fanáticos torcedores. Estádios dentro do Campus com mais de 60 mil lugares estão sempre lotados. Algumas universidades contratam técnicos das ligas profissionais que chegam a receber mais que os próprios reitores. A dinâmica movimentação da Academia traz resultados efetivos e movimenta bilhões de dólares/ano. Não só na formação científica, pelo número de Prêmios Nobel; ou nos Jogos Olímpicos pelo número de medalhas alcançadas. 

(*) O Arizona tem três universidades estaduais.  A principal é a Universidade do Estado do Arizona em Tempe, região metropolitana de Phoenix. A mais antiga fica em Tucson, que chegou a ser a capital do Arizona.  A mais nova fica no norte do estado, em Flagstaff.

PS - A prazerosa vida de um avô se encerra essa semana. Retornamos na segunda, foi uma jornada e tanto.  "A doce vida" foi testada todos os dias, com toda a sorte de desafios que duas crianças ativas demandam. A saudade fica.    

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quarta-feira, outubro 09, 2024

ARRIBA MÉXICO!


                                        Claudia Sheinbaum - presidenta do México

Depois do Brasil o México é a segunda maior economia da América Latina. Um país que perdeu no passado metade do seu território por invasões sangrentas do seu vizinho, os Estados Unidos. Nenhum outro país no mundo passou por isso. Os mexicanos sofreram uma perda territorial que seria equivalente ao terceiro país em extensão da América Latina. Algo impensável nos dias de hoje. (*)

No domingo 6/10, numa missa no meio do deserto, em Tucson, deu pra ver essa realidade que perdura no tempo. O convívio do ocupante/opressor com a cultura e as lembranças de gerações que passaram ouvindo relatos de seus familiares, de uma dor que não passa.  A Igreja de San Javier del Bac, do século XVI, estava lotada. Quase todos mexicanos, na homilia o padre lembrou das guerras em curso, Rússia e Ucrânia, Israel em Gaza e agora no Líbano. A violência que é a ocupação pela força do território de um país vizinho sempre deixa sequelas e feridas abertas que perduram no tempo. O silêncio sepulcral dos presentes durante a homilia retratou fielmente o sentimento dos mexicanos.  

Na terça-feira, dia 1/10, tomou posse no Congresso Nacional do México, a presidenta eleita Claudia Sheinbaum. Seu discurso de uma beleza, sensibilidade e força, já faz parte da história política do México. Claudia é a primeira mulher eleita num país que sempre esteve nas mãos dos homens. Sem vacilar deixou claro  que o processo de mudança social está apenas começando. Um desafio e tanto, mas ao mesmo tempo uma legitimidade absoluta para fazer o que precisa ser feito. Nas ruas o povo estava em estado de graça, sem nenhum idiota questionando a lisura do processo eleitoral. (foto acima) 

Atento à tudo, o presidente Lula já sinalizou a intenção do Brasil se aproximar do novo governo. Sua intenção é fortalecer ainda mais as boas relações que sempre teve com o México. Quem conhece um pouco da geopolítica sabe bem da importância desse gesto. As duas maiores economias da América Latina, tem peso. Os EUA estão a poucas semanas de uma eleição indefinida, totalmente comprometidos com as guerras em curso, um sistema eleitoral pra lá de confuso e uma questão migratória sem muito o que fazer. Em boa hora México e Brasil se aproximam. Um jogo que Lula gosta de jogar. Os frutos poderão vir em 2026, onde ao que tudo indica deverá buscar seu quarto mandato. Provavelmente focado no desenvolvimento regional, na política externa e nas mudanças climáticas.   

(*) O México perdeu para os EUA os atuais estados da Califórnia, Nevada, Texas, Novo México, Utah,  e parte do Arizona, Colorado e Wyoming. 

 



   

segunda-feira, setembro 16, 2024

Que país é esse ... (2018 a 2022)


                                                   Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

Para não confundir com a música da Legião Urbana, o artigo se refere a um período de escuridão que tivemos que enfrentar. Nasceu através de articulações pouco republicanas que envolveu os Três Poderes da República que permitiram o impeachment de uma presidenta legitimamente eleita.

No seu lugar assumiu o vice, com um leque de atribuições e compromissos assumidos com os criadores e gestores da crise política que se estabeleceu. Não satisfeitos, logo perceberam que quem iria ganhar as próximas eleições, não fazia parte do combo. Sem qualquer pudor, juntos definiram a cadeia como o seu destino. E ali permaneceu por um bom tempo, até o que resultado das eleições de 2018 confirmasse a vitória do “sem noção”. (*)

O que se viu de 2018 até 2022, nos fez passar vergonha aos olhos do mundo. Um povo feliz, por natureza amoroso, perdeu o rumo. A violência passou a fazer parte da política e  o ódio que parecia não estar presente entre nós, surgiu do nada. Dentro de casa, no trânsito, nas relações de trabalho, por todos os lados a incompreensão se espalhou como incêndio em mato seco. Talvez a reação mais impactante dessa parcela da sociedade adoecida que ficará para sempre na nossa lembrança, foi o que ocorreu em 8 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.(foto acima)

Sem dúvida, o país enfrentou um tsunami. Cada dia uma desgraça, setecentos mil brasileiros brasileiros morreram por covid e o "sem noção" o que fez,  desmoralizou a vacinação. Por outro lado, incentivou a população a se armar sem qualquer preocupação com as consequências desse desatino. Esse passado recente, ameaçador e atrasado, foi vencido pelo voto. Felizmente, a democracia venceu o ódio. Algumas sequelas ficaram alimentando incompreensões dentro do Congresso Nacional, que abriga um grupo de opositores que apostam tudo para dificultar as ações do governo. (**)

Diante da baixaria que vimos em São Paulo, o despretensioso artigo acabou sendo produzido às pressas. Não se pode deixar de registrar o horror das cenas no debate para prefeito da cidade, no último dia 15. Um péssimo exemplo que de certa forma está associado ao legado que ficou do governo anterior, violência e a ausência da boa prática política. A maior cidade da América Latina, está ameaçada por gente despreparada e muito desiquilibrada postulando sua gestão.  

(*) O "sem noção" foi afastado do Exército por má conduta. Depois foram sete mandatos de deputado. Sem brilho na legislatura, pouco uso fez da Tribuna. Não deixou uma boa imagem entre seus pares, tanto assim que concorreu três vezes ao cargo de presidente da Câmara de Deputados. A última em 2017, obteve apenas quatro votos. (Fonte, Wikipédia).

(**)  A Câmara e o Senado, através dos seus presidentes, não tem facilitado a vida do presidente Lula. Através das Emendas Parlamentares e das Emendas PIX, vem drenando o Orçamento da União. Mesmo assim, o PIB vem crescendo e o emprego também. A inflação está controlada e no mês de julho foi mais baixa entre os países do Continente Americano.  

segunda-feira, setembro 09, 2024

Brasil resiliente

 


                                                     Foto: Ricardo Stuckert / PR

O mês de setembro, em particular, sempre foi muito especial para mim. Não só por ter nascido em setembro, mas também porque é a chegada da primavera. No entanto, esse ano, mal começou o mês e o Brasil já está sendo testado. Como nunca tinha ocorrido, o país foi tomado pelas chamas. Em pleno inverno, boa parte dos brasileiros sofre com altas temperaturas. As consequências são as piores possíveis. Os reservatórios das hidroelétricas estão vazios, a Aneel já anunciou bandeira vermelha na tarifa de energia. A umidade relativa do ar está baixa e põe em risco a saúde das pessoas. Estudos recentes mostram que já perdemos 30% das áreas molhadas. Uma tragédia ambiental e humana.

Embora possa se argumentar que as citações acima estão associadas as mudanças climáticas, não podemos nos esquivar das nossas responsabilidades. Os governos e os governantes só ganham o respeito da sociedade quando enfrentam situações adversas e não se abatem, resistem. Nessa primeira semana de setembro, o governo teve que enfrentar vários desafios. Ainda bem que o PIB e a nossa participação nos Jogos Paraolímpicos superaram todas as expectativas e nos fez acreditar ainda mais no país que não se entrega.  

Como resumo da semana, no campo externo o governo teve que enfrentar um bilionário excêntrico, que se acha o dono do mundo. Sua arrogância chega ao ponto de ameaçar países. Só que aqui, se deu mal. Outro constrangimento para a diplomacia brasileira, veio da Venezuela. O governo Maduro, unilateralmente, revogou a autorização que o Brasil tinha para representar os interesses dos argentinos no país. 

Se não bastasse, às vésperas do dia da Independência o presidente Lula precisou tomar uma das decisões mais difíceis do seu governo. Para evitar um desgaste maior, o presidente  precisou afastar um dos seus ministros mais próximos. No dia seguinte, em Brasília, o presidente recebeu os ministros do Supremo Tribunal Federal, com especial atenção. Nada é por acaso. Além de observar rigorosamente a liturgia do cargo, Lula aproveitou a oportunidade para mandar um recado aos insanos que ameaçam o STF e seus ministros: o Brasil é outro, resiliente e unido em defesa da democracia. Repetir o vandalismo que fizeram dia 8 de janeiro de 2023, nunca mais.     

  

 

domingo, agosto 18, 2024

Lições Olímpicas



                                                JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS/2024

Os Jogos Olímpicos de Paris, sob olhares mais amplos que o quadro de medalhas, deixa um importante legado: a humanidade tem que ser menos competitiva e mais amorosa. Um evento global transmitido para bilhões de pessoas num mundo que acompanha ao vivo cenas de guerra nos faz refletir sobre as tragédias em curso. O COI ao se posicionar formalmente pela paz dos povos, contra a violência e pelo respeito a diversidade, deu a sua contribuição. Talvez tenha sido essa a principal lição olímpica.

Quanto a nós, regredimos. Ao contrário do que a grande imprensa tentou mostrar, os resultados ficaram abaixo da nossa expectativa. Talvez a gente até possa concordar com a tese que alguns levantam que o peso da Medalha de Ouro para a formação do ranking dos Jogos Olímpicos, é desproporcional em relação as medalhas de prata e bronze. Só que são essas as regras do jogo, portanto não há o que reclamar. Infelizmente, foi o nosso pior desempenho desde Atenas, em 2004 (5 ouros).  

Pela primeira vez ficamos fora do pódio em vários esportes que tínhamos tradição olímpica. Para o maior país da América Latina, ficar em vigésimo lugar foi um péssimo resultado. Na avaliação que será feita pelo COB, com certeza vai aparecer que foi graças a excelente participação das atletas femininas que tivemos uma sobrevida  em Paris. Sem elas e suas três medalhas de ouro, teríamos ficado abaixo de Cuba (32) e muito próximo do Equador (49) e da Argentina (52), no quinquagésimo lugar. 

Para os próximos Jogos Olímpicos, em Los Angeles, já tem gente se preparando. Qualquer evento dessa magnitude exige um rigoroso planejamento. Não se faz atleta olímpico em quatro anos, é um processo longo de preparação física e mental. Aqui por pressões políticas se trocou no meio do caminho a ministra do Esporte, Ana Mozer. As coisas não funcionam assim, que fique a lição. Nada é por acaso. 

PS - A catarinense Ana Mozer, foi medalhista olímpica em 1996. Em 2023 foi nomeada a primeira mulher Ministra do Esporte. Pouco tempo depois foi exonerada do cargo para dar lugar a André Fufuca,  deputado federal do Centrão (PP/MA).   











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